Trovadores Inesquecíveis XII - Francisco Pérsio Falabella

TROVADORES INESQUECÍVEIS
 
XII - Francisco Pérsio Falabella
(texto de Thereza Costa Val, da UBT Belo Horizonte, para www.falandodetrova.com.br)
 
         Um poeta, que possuía grande habilidade de sonetista, pertencente à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, Francisco Pérsio Falabella, quando conheceu a Trova tomou-se de amores por ela. Passou a frequentar a União Brasileira de Trovadores com assiduidade e entusiasmo.
 
         Como membro da Academia Municipalista, Falabella ocupava constantemente a tribuna, lendo artigos, ensaios e sonetos de sua autoria.  Alma sensível, poeta inspirado, culto, estudioso e pesquisador da poesia  dos seus poetas prediletos – entre eles o que mais admirava: Raul de Leoni - Falabella era respeitado pelos confrades. Exprimia a profundidade de seu saber e de seus sentimentos nos sonetos e trabalhos que apresentava. Assíduo, sempre discreto, sereno, gentil,  marcou de forma  inesquecível a sua atuação naquele sodalício.
 
         Na União Brasileira de trovadores, Francisco Pérsio Falabella mantinha a mesma postura. Era também assíduo, interessado, falava suas trovas, participava de concursos internos, enfim, tornou-se um trovador encantado. Espírito colaborador, exerceu atividades na Seção de Belo Horizonte, atuando como Secretário.  Por amor à trova, filiou-se à Academia Mineira de Trovas.
 
         Em vida, publicou o livro de sonetos “O Homem e o Universo”, em 1996.  Conforme sua própria definição, “há nos sonetos do livro o drama do Homem perante o Universo: a dúvida, a angústia e a dor humanas, a emoção do Homem que se debruça sobre a eternidade, voltando-se para além da Vida e além da Terra, batendo sempre às portas do Grande Mistério.”
 
         Após sua morte, sua esposa Cely Vilhena Falabella e os filhos prestaram-lhe uma carinhosa homenagem, publicando suas trovas em um livro chamado “O Canto do Trovador”. Foram recolhidas mais de duzentas trovas  líricas, filosóficas, religiosas, cívicas e históricas de sua autoria, resguardadas para sempre no livro póstumo.
 
         Além das trovas de Francisco Pérsio Falabella, o livro apresenta um artigo seu sobre a origem da trova. A homenagem se estendeu às opiniões de vários confrades  da Municipalista e trovadores da UBT/ BH - entre eles, há sincero comentário  meu -  sobre o exímio poeta e trovador.
 
         Procurei entre as inúmeras trovas do livro algumas para ilustrar este trabalho escolhendo aquelas que mais  tocaram  meu sentimento.
 
         Deus, num sonho de Poeta,           Dia claro de esplendores!
         fez a pérola e a flor,                       Vou notando, passo a passo 
         depois o sublime Esteta                 que os ventos são escultores
         fez a Esperança e o Amor.             das nuvens soltas no espaço!   
 
         Se pudesse, eu choraria                  O vento beijou a flor,
         sobre todo o meu viver                   e eu senti certo ciúme...  
         do que fui e não queria                   beijou-a com tanto ardor
         e do que deixei de ser.                    que levou o seu perfume!
   
         Teu lindo rosto de santa                 Da manjedoura ao Calvário,
         enlevou meu coração,                    fez Jesus – o Redentor -
         e minha ternura é tanta                   o mais belo itinerário
         que meu beijo é uma oração!         com seu exemplo de amor!   
 
         De longe sinto a fragrância            Sobre as palhinhas deitado
         de tua doce presença,                      a todos Jesus sorria
         pois não existe distância                 sem mantos, agasalhado
         que uma saudade não vença.          pelos olhos de Maria.
 
    Não queimei meus pés em brasas        Ouço, nas noites caladas,
         na fogueira de São João,                 vozes que vêm, na distância,
    mas o amor com que me abrasas         cantar cantigas, toadas,
         queimou o meu coração.                dos longes da minha infância
 
        Dei um beijo, satisfeito,                  Deitando-me sobre a terra,
        em tua boca orvalhada,                    alivio meus cansaços,
        ficando dentro em meu peito           e a vida que o bem encerra
        o perfume da alvorada!                    vem germinar em meus braços.
 
        Se teus olhos, num sorriso,             Quantos livros a valer,
        tu pões nos meus, a fitar,                 nós lemos na insana lida,
        promessas de um paraíso                 mas preferimos  não ler
        eu sinto no teu olhar!                       o grande livro  da vida...
 
       Francisco Pérsio Falabella não fazia trovas humorísticas; eu, pelo menos, não encontrei uma sequer. Sua concepção poética tinha expressão, principalmente, em trovas líricas e filosóficas.
 
      Ao lado da esposa, a notável poeta e escritora Cely Maria Vilhena Falabella, formava um casal  ligado pelos laços do amor familiar e pela literatura.  Ele nasceu em  Mar de Espanha, MG, em 8 de setembro de 1926.  Vindo para Belo Horizonte aos 12 anos, cursou Comércio, Inglês e Pedagogia, estudou desenho e pintura. Faleceu em Belo Horizonte em 10 de agosto de 1999, deixando grande descendência de filhos e netos.
 
       Marido amoroso, postou em uma de suas trovas, uma declaração de amor à companheira de sua vida.
 
                                                  Ó minha mulher querida,
                                                  que me estimulas, me animas,
                                                  nos versos de minha vida
                                                  és a mais bela das rimas.
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THEREZA COSTA VAL, brilhante trovadora brasileira, é associada e dirigente da UBT, seção de Belo Horizonte. E nossa gentil colaboradora.