Adélia Victória Ferreira - São Paulo (via Sete Barras)

       ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA  nasceu em Sete Barras/SP a 17 de novembro de 1929, filha de João Lucas Ferreira e Olinda de Souza Ferreira. Advogada, parapsicóloga e formada em Genealogia e Heráldica. Presidente Emérita e de Honra da Casa do Poeta "Lampião de Gás", de São Paulo.  Uma das maiores sonetistas brasileiras, além de exímia trovadora.  Faleceu no dia 13 de março de 2018, aos 88 anos.

(Presidentes da Casa do Poeta Lampião de Gás de São Paulo: Da esquerda para a direita - Aristóteles Lacerda Jr, Wilson de Oliveira Jasa, ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA  e Antônio Lafayette Natividade Silva.)

-- Se te vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar!                            (1º lugar Nova Friburgo, 2002)
Não me roubes a certeza
de que logo irás voltar!

 

Se os meus juízes confundo
com falsa argumentação,
recebo o perdão do mundo,
mas não meu próprio perdão.

Ao sofrer uma agressão
a terra não choraminga                     
(Conc. da UBT SP 2000)
nem esboça reação,
mas... cedo ou tarde, se vinga...

Esperança é a caminhante
que, ora animada, ora triste,                      
(Conc. Elos Club ABC 2000)
vai, teimosa, mais adiante,
quando a Certeza desiste. 

Para a saudade que anela                         (Pindamonhangaba, 2000)
voltar à ventura morta,
o passado abre a janela,
mas nunca destranca a porta...

O auxílio cristão atua
com a maior discrição,                    
                  (Itanhaém/SP, 1999)
indo da concha da tua
para a concha de outra mão.

Torna um sonho em realidade                          (Barra do Piraí, 1999)
e verás, com ironia,
que, por mais que ele te agrade,

foi mais bela a fantasia.

No entrechocar das espadas,
que a ambição maneja a fundo,                (Vencedora Pouso Alegre, 1995)
como esperar alvoradas,
se a luz é expulsa do mundo?...

Por nosso irmão não se conta
quem apenas nos exalta
e, sim, quem também aponta,
censurando a nossa falta.

 Minha vizinha é tão feia
que, aparecendo à janela,                                (Bandeirantes/PR, 1999)
o furacão a rodeia
com medo de tocar nela!
 

Quando, mãe, o tempo ingrato             (3º lugar Nova Friburgo, 1993)
em bruma a lembrança envolve,
bendigo o velho retrato
que teu rosto me devolve!

 

Circo de lona... de estacas,          (co-vencedora em Rio Novo/MG - 1992)
pobre, no mundo a vagar...
E nessas bases tão fracas
o riso escolheu morar...

 

Silencioso, palmo a palmo,          ("CALMA" - Menção Honrosa em Rio Novo/MG - 1988)
irreversível, tirano,
o tempo devora, calmo,
todo e qualquer sonho humano... 

 

A fantasia é um brinquedo
para instantes enfadonhos:
nos porões - varrendo o medo,       (Menção Especial em Niterói - 1986)
na torre - embalando os sonhos...

Sol e sombra na floresta
e uma brisa, erguendo a mão,
rege os compassos da festa
de sombra e luz, pelo chão.

0 grande, na trajetória
que palmilha passo a passo,
recebe em silêncio a glória
como recebe o fracasso. 

Lago imóvel, preguiçoso,
que se espera repousante,
sempre é um sonho enganoso
que só na perda é constante.