Albercyr Camargo - Rio de Janeiro

          ALBERCYR VALPASSOS CAMARGO  nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 20.12.1928. Filho de Aristides da Motta Camargo e Maria Valpassos Camargo. Um de seus livros publicados (o primeiro) tem por título "Coração Trovador", em 1952 e, em 1964, em parceria com Walter Gomes da Silva, Antonio Carlos Piragibe, Delmar Barrão e Hélio C. Teixeira, lançou o livro de trovas "Cinco Itinerários", além de participações em antologias, inclusive em "Meus Irmãos, os Trovadores", de Luiz Otávio. E após os 80 anos - mais precisamente em 2014 -  lançou "Trovas, Sonetos, Poemas e Traduções". Seu grande amor foi Georgina, com quem foi casado durante 52 anos e teve os filhos Carlos, Sônia e Cláudio. Georgina faleceu em 20 de outubro de 2005. Albercyr aposentou-se pelo Banco do Brasil. Reside no Rio de Janeiro.

Querer tudo... Insensatez
que a muita gente domina;
- Nem o sol, de uma só vez,
a Terra toda ilumina.

Triste sina dos mortais
é ver, assim malfadadas,
lado a lado almas rivais,
almas gêmeas separadas...

Já repararam que o rio,
quando vai a caminhar,
é nas pedras do caminho
que mais parece cantar?

Eu era assim no começo:
sonhava quando dormia...
Agora que te conheço,
sonho de noite e de dia. 

Os namorados, querida,
dois relógios devem ter:
um que retarde a partida,
outro que apresse o volver.

Não devemos para tudo
usar os nossos sentidos;
antes, às vezes, ser mudo,
ser cego, não dar ouvidos.

Eu te prometo uma estrela,
tu me prometes amor.
- São promessas impossíveis,
são promessas sem valor.

O vento nos teus cabelos
esta imagem me provoca:
És uma estátua divina
que o artista vento retoca...

Lar - são três letras somente
com um sentido profundo:
ser o bem maior da gente
e a viga mestra do mundo.

Não queres hoje, alma fria,
o tudo desta paixão...
Mas não vás chorar um dia
pelo nada de um perdão...

Eu sofri com teu adeus...
Não foi esse o teu prazer?
Volta pois aos braços meus
e outro "adeus" vem me dizer...

Eu me lembro: ela sorria...
Hoje essa visão persiste
com seu contraste e ironia
na minha saudade triste.

Quis um encontro contigo,
não me pudeste atender...
Zanguei-me sim, mas te digo:
foi zanga de bem-querer.

Toda ação é lei suprema
na medida da ambição,
tem o brilho de uma gema
ou o fosco de um carvão.

A mim próprio dei castigo,
fingindo te desprezar...
Quero agora e não consigo
o fingimento acabar...

Tua amizade era pouco,
quis teu amor, é verdade.
Achaste meu sonho louco.
Agora, nem amizade...

"Faço versos não sei como,
não sei pra que, nem por que..."
Dizia assim num assomo
até que encontrei você.

Tanto ouvi falar de amor,
desejei amar também...
Conheço hoje o seu sabor:
não o aconselho a ninguém.

Tu não vês o prejuízo
dos teus caprichos sutis?
Prazer de não ter juízo
faz muita gente infeliz.

Eu te prometo uma estrela,
tu me prometes amor.
São promessas impossíveis,
são promessas sem valor.

A rosa que enfeita agora,
do teu cabelo o negrume,
há pouco mais de uma hora
não tinha cor nem perfume...

Se o bem maior neste mundo
Deus concede aos que são pais,
também é certo e profundo:
são eles que sofrem mais.

O coração da criança,
na pureza que irradia,
nos afasta da lembrança
o medo da hipocrisia.

Tu zombas de mim, sem pena,
por teu amor desejar.
Sempre esquece, quem condena,
que a sorte pode mudar.

Pareces uma princesa,
desdenhando meus carinhos...
Se tens da rosa a beleza,
do orgulho tens os espinhos...

Casam-se alguns por respeito,
por gratidão ou temor,
por interesse suspeito
e mesmo... até por amor.