Balthazar de Godoy Moreira +

    BALTHAZAR DE GODOY MOREIRA não foi apenas um emérito poeta de Pindamonhangaba, cidade onde nasceu a 13 de janeiro de 1898, filho do Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy e de Dona Maria José Monteiro de Godoy: foi também escritor. Considerado, por Lauro Silva, o "Príncipe dos Poetas Pindenses" e por Monsenhor João José de Azevedo, como "o maior sonetista do Vale do Paraíba", compôs um soneto para cada logradouro de seu chão natal. O soneto no qual ele expõe todo seu amor a Pindamonhangaba está afixado nas portas de prédios públicos. Empresta seu nome a uma rua do próspero Bairro Residencial Lessa.  Assim como há uma biblioteca em Caçapava e uma escola em Marília, com seu nome, ele que foi também um brilhante educador.
 Obras publicadas: Marília, cidade nova e bonita, 1936, Negro velho de guerra, 1947, Roteiro de Pindamonhangaba Poesia, 1960, Curumim sem nome, s/d, Aventuras nos garimpos de Cuiabá, 1960, Rio Turbulento, s/d, O Castelo dos Três Pendões, A Caminho do Oeste, s/d. O ilustre poeta morreu em São Paulo, no dia 14 de janeiro de 1969, um dia após haver completado 71 anos. Era descendente de Don Balthazar de Godoy (espanhol), capitão-mor e governador da Província de São Vicente.

 

 

 

Vou das mágoas me expungir
nos cimos, além dos vales;
clima de serra é elixir
que cura todos os males...

Se em minha mão, por acaso,
a tua pões, tão mimosa,
penso num rústico vaso
contendo um botão de rosa.

Ao seu amado não ande
cobrando mínimas penas...
-- O amor verdadeiro é grande
até nas coisas pequenas!

Se é certo que não me queres,
vou de outro amor à procura.
-- O mal que vem das mulheres,
com as mulheres se cura...

Quando te vais confessar,
bem que eu quisera que Deus
me permitisse constar
de algum pecado dos teus.

Daquela que jura e trai,
resguarda o teu coração.
Quem trai uma vez contrai
o vício da traição.

A força bruta baqueia
ao doce toque do amor.
-- O mar quando beija a areia
perde todo o seu furor...

Navegador que não sabe
que porto quer alcançar,
nenhum direito lhe cabe
de fazer queixas do mar.

    Para mim, Balthazar de Godoy Moreira foi o maior poeta pindamonhangabense. Compôs um soneto para cada logradouro público, obras que se encontram expostas em um pavilhão do Museu Municipal. Eis, abaixo, um de seus mais singelos poemas, feito para a tradicional "Bica do Tabaú". Dizem que quem bebia dessa água jamais ia embora de Pinda.

Dia e noite, noite e dia,
Sob a moita de bambu,
Fresca e clara, clara e fria,
Pela biquinha corria
A água do Tabaú.

Era uma fonte afamada
Que fazia glu-glu-glu,
Rolando desalentada.
Diziam que era encantada
A água do Tabaú.

Passa um velho bandeirante
Que vem de Vapabussu;
Nunca viu ouro ou diamante
Tão puro, tão cintilante
Como a água do Tabaú.

Passa um Príncipe Real
No seu cavalo acaju;
Depressa o copo, Oficial...
Nunca bebi nada igual
À água do Tabaú.

Passa um guapo boiadeiro
De Taipas para o Mandu.
Tem pressa. Viaja ligeiro.
Mas para e prova primeiro
A água do Tabaú.

Passa um médico doutor,
Guarda-pó cor de caju;
- Deem-me um lugar, por favor,
Quero saber o sabor
Da água do Tabaú.

Passa uma velha senhora
De xale escuro e fichu.
- Prova, Sinhá, não demora,
Mecê vai vê como adora
A água do Tabaú.

O carreiro para o carro
E os bois Moleque e Tatu.
Atira longe o cigarro
E enche a pichorra de barro
Na água do Tabaú.

Passa um pobre cantador
Cantarolando um lundu;
Esquece a moda do amor
Para saber o sabor
Da água do Tabaú.

Passa o capitão do mato
Com o seu cão Belzebu;
Bebe mas tem o recato
De não deixar seu retrato
nas águas do Tabaú.

Passa o correio da Corte
Pá que ta-tá... pa-ca-tu...
Só se consola da sorte,
Quer venha do sul ou norte,
Com a água do Tabaú.

Passa uma dona de Minas
Que veio pelo Embaú,
E nas valvas opalinas
De suas mãos pequeninas
Bebe água do Tabaú.

Passa um defunto na rede
E o bando atrás, jururu;
Todos saciam a sede.
Só o defunto não pede
A água do Tabaú.

Mas todo aquele que acaba
De a provar, glu-glu-glu...
No mesmo instante desaba
A amar Pindamonhangaba
E a água do Tabaú!