Baptista Nunes

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 RENATO BATISTA NUNES
nasceu em Vassouras/RJ, em 02 de março de 1883, filho do também poeta João Batista Nunes e de Inésia de Oliveira Nunes. Formado em engenharia militar pela Escola de Artilharia e Engenharia do Realengo, foi um dos comandantes da Escola do Estado-Maior do Exército. No Rio, morava na casa ao lado de Gilson de Castro e só sete anos depois veio a descobrir que o seu vizinho Gilson era o famoso Luiz Otávio, cujo trabalho ele já admirava havia tempos.  Faleceu em abril de 1965.

As dores e os desencantos
têm dois destinos diversos:
- ou se dissolvem nos prantos,
- ou se desfazem nos versos.

Olhando a vida vivida,
esta pergunta passou:
- fui eu que fiz minha vida,
ou fez-me a vida o que sou?

Quão larga seria a messe
de surpresas, de tormentos,
se o simples olhar pudesse
devassar os pensamentos ...

Há no mundo muita gente
que só maldades proclama;
é que os sapos, certamente,
só são felizes na lama.

Tens um sinal junto à boca,
fonte de todo o meu mal:
ao beijá-la, fui punido
por "avançar o sinal"...

Meus anseios ... tristes frades,
numa angústia indefinida,
vivem presos entre as grades
das clausuras desta vida ...

Mistérios de enternecer
a lei da vida contém:
- quanta vez nosso prazer
não custou a dor de alguém?

Quando a injustiça te doer,
ou quando alguém te magoar,
esquece, pois esquecer
é bem mais do que perdoar.

-Quem casa não se governa,
tenho, até, vergonha às vezes,
pois quem manda em minha casa
é um pirralho de três meses!

O mundo é um só, quem duvida?
Mas para as almas, no fundo,
há tantos mundos na vida,
quantas vidas há no mundo.

Agora, não sei por quê,
meu relógio faz maldades.
Numa hora sem você,
marca sessenta saudades!

Desta feliz ignorância
decorre grande ventura:
- não sabermos que distância
vai do berço à sepultura.

Bem pouca gente procura
aceitar esta verdade:
- antes ser bom sem ventura,
que ser feliz sem bondade.

Mãe feliz! É tão novinho,
e teu seio já reclama!
Dois corações tens agora:
um que pulsa, outro que mama!

Há saudades que nos falam
de maneiras desiguais:
umas dizem: "pode ser" ...
muitas outras: "nunca mais"

Eu te explico o acontecido:
- se roubei teu beijo, amada,
foi por ter-me parecido
que querias ser roubada...

Na tua face entrevejo
transformação milagrosa:
- da semente do meu beijo,
nasce o rubor de uma rosa!

Muita gente é infeliz
mas será por culpa alheia?
Cada qual, como se diz,
colhe aquilo que semeia.

Dizes que gostas de mim,
se gostas, nunca senti;
teu gosto é outro, isto sim,
gostas que eu goste de ti.

O prazer que a gente goza
guarda, em si, melancolia,
pois a hora que é ditosa,
há de ser saudade um dia.

Entre o mar e alma da gente
há relações inegáveis:
- a inquietude permanente
e os mistérios insondáveis.

Graças, pai, meu grande amigo,
pelo bem que me fizeste!
Minha mãe, eu te bendigo
pelo pai que tu me deste!

Em dons de amor, apesar
de ser pobre como jó,
prefiro não te beijar
a beijar-te uma vez só!

Céu de azul inexistente,
linda mentira sem par!
Quando o próprio céu nos mente,
em quem posso acreditar?

Talvez não fosse tolice
pensar num mundo sem mal,
se toda gente sentisse
o que diz pelo Natal...

Deus te dê vida tão calma,
graças tais que, ao recebê-las,
sintas no céu de tua alma
todo um punhado de estrelas!

Viver muito, na verdade,
é irmos ficando sós,
dentro da imensa saudade
dos que vão antes de nós...

Maria dos meus amores,
Maria dos meus pesares,
ai de mim quando te fores,
ai de mim se tu ficares...

Peço-lhe um beijo, matreiro,
sei que o pedido não pega;
mas conheço o meu isqueiro,
no princípio, sempre nega...

Com que cara fica a gente,
junto à mulher que se adora,
se perguntam, de repente:
- "Como vai sua senhora?"