Brincando com Trovas Consagradas - José Ouverney

BRINCANDO COM TROVAS CONSAGRADAS
(texto de José Ouverney para a coluna "Ouverney Con...Verso", do site www.falandodetrova.com.br)

 

Quem milita na Trova conhece de cor e salteado as chamadas “trovas antológicas”, aquelas que, em um evento, o apresentador fala o primeiro verso e os trovadores, em coro, falam o restante. Trovas do tipo: 
Ó linda trova perfeita,/ que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita,/ tão difícil de fazer.
ADELMAR TAVARES
ou
“Trovadores, meus irmãos,/ vamos viver de mãos dadas:
onde há correntes de mãos,/ não há mãos acorrentadas!”
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
ou
Eu vi minha mãe rezando/ aos pés da Virgem Maria:
era uma santa escutando/ o que outra santa dizia!
BARRETO COUTINHO
 
São trovas tão populares e tão queridas que nós, trovadores, com frequência nos surpreendemos fazendo paródias (ou paráfrases) dessas obras-primas. Todos conhecem, por exemplo, a brincadeira que o consagrado Antônio Augusto de Assis fez sobre esta última, quando escreveu:

Vi minha sogra tentando / enrodilhar-se outro dia /
 Era uma cobra imitando / o que outra cobra fazia...
 
Pois saibam que eu não sou exceção. E já aprontei várias do gênero. Se não vejamos:
 
J. GASTÃO MACHADO
Eu fiz um pacto secreto/ com Jesus, Nosso Senhor:
deixar o céu sempre aberto/ a quem for bom trovador!

J.O
Quem não for bom, fique pronto/ pois terá, de modo inglório,
que disputar, ponto a ponto,/ as vagas no Purgatório!...
ou

LUIZ OTÁVIO
O mar nos deu a receita/ de um viver sábio, fecundo:
sendo salgado, ele aceita
as águas doces do mundo!

J.O.
Quero ver se o inverso fosse/ (é versão mais complicada!):
sendo, o mar, só de água doce,/ aceitaria a salgada???

ou
COLBERT RANGEL COELHO
Noivado, no mundo inteiro,/ foi sempre assim entre os dois:
o noivo espera primeiro,/ a noiva espera depois...
J.O.
Hoje, até ao se casar,/ as coisas estão mudando:
noivo... entra e espera no altar;/
noiva... já entra esperando...

e, encerrando:

SÉRGIO FERREIRA DA SILVA (1º lugar em Nova Friburgo em 2001, com o tema “CALOR”)
Alheia ao calor eterno,/ a sogra, por vocação,
tão logo chegou no Inferno/ assumiu... a Direção!
J.O.
 (no ano seguinte em Nova Friburgo o tema foi “RECEITA” e eu fiz, então, a “resposta da sogra”):
Imune ao calor materno,/ meu genro, que não me aceita,
há de arder no fogo eterno,/ provando a própria receita!

E você... também tem alguma? É um bom exercício e ajuda muito em nosso aprimoramento. Portanto, comece agora.