Carta a Marina Bruna

 (Esta matéria será encontrada no site www.falandodetrova.com.br, na seção "Colunas")

CARTA A MARINA BRUNA
(texto de Renato Alves, da UBT Rio de Janeiro)

                    Em junho de 2010, escrevi uma carta a Marina Bruna com algumas considerações sobre o livro “Cantares” que ela gentilmente me enviara. Meses depois, em Niterói, ela me disse que tinha ficado muito sensibilizada com minhas palavras e perguntou se poderia publicá-las no seu próximo livro. Não sei se o fez, mas eu o faço agora em sua homenagem. Este foi o teor de minha carta.
 
“Rio de Janeiro, 1º dia do solstício de inverno de 2010.
Prezada Trovadora
MARINA BRUNA
 
                    Uma joia o teu "Cantares" e uma pérola o cantar que ele encerra. A par disto, primorosa também a capa com ilustração de Jaime Pina da Silveira e excelentes os textos de apresentação. Parabéns!
 
                    Obrigado por proporcionares a este aprendiz de trovador a oportunidade de viajar, ora pelo lirismo puro que lembra nossa origem lusitana: 
Descalços, pelo gramado
teus pés mansamente vão...
Pões no pisar, tanto agrado
que eu tenho inveja do chão,

 
ora por um lirismo mesclado de preocupação social:
Soa, à noite, um acalanto...
e na calçada, à distância,
dorme um pobre ouvindo o canto
que nunca teve na infância...

 
e engajamento político:
"É um herói todo escritor
que, de caneta na mão,
tem coragem de se opor
aos regimes de opressão" 

 
"Onde a mão da tirania
faz escravos do poder,
pregar a cidadania
mesmo em perigo, é um dever!"

 
                    Às vezes, vislumbra-se, por entre os versos impecáveis de tuas trovas, a Marina-professora, culta, amante da literatura brasileira:
"Amando, como em poemas,
o homem branco a índia enlaça
e as Bartiras e as Moemas
dão vida a uma nova raça!"

 
ou até glosando Machado de Assis:
"Em fortuna, eu tenho sido
qual uma agulha modesta
que borda um belo vestido
e a linha é quem vai à festa!"
.
 
                    Às vezes, flagra-se a Marina-cantora, conhecedora de clássicos do cancioneiro popular, seja numa referência ao tango "Caminito", ou à boêmia de "A mulher que ficou na taça".
 
                    E tudo isto em meio a metáforas e imagens que nos sensibilizam e enlevam. Por exemplo, quem não gostaria de ter criado versos como estes para dizer orvalho, pichações e livro?
 
"A noite desfez em contas seu rosário de cristal...",
"Negras tatuagens que enfeiam muros na rua.",
"Jardim onde as letras são sementes que eu planto dentro de mim!"

Um grande abraço agradecido!
                                                                                                                                                                    RENATO ALVES”