Cartas recebidas de Miguel Russowsky (parte I)

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

CARTAS RECEBIDAS DE MIGUEL RUSSOWSKY

(Parte I)

 

Em 29/01/01

 

Caro José Fabiano!

              Que bom que você “me descobriu” e enviou Rosas de Outono!

              Você é um Magnífico (sem alusão ao título de Friburgo) trovador. Não o conhecia.

              É um prazer contar com sua amizade, os trovadores de qualidade não são tão numerosos, mas as suas trovas, algumas já li em concurso, são Nota 10!

              Não me esqueça em próximas edições e muito obrigado.

              Seu novo fã mais recente.

 

                                                                                                  Miguel Russowsky

 

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Em 05/02/01

 

Caro José Albano.

              Você que é magnífico, original, engenhoso como trovador, deve ter as mesmas qualidades em poesia.

              O motivo desta é ver se você conhece o soneto cujos fragmentos transcrevo. Ele foi publicado na falecida revista das ALTEROSAS, outrora e eu o decorei naquela ocasião e depois até esqueci o nome do autor (Djalma Andrade?), sei lá, ou coisa parecida. Em minha opinião é dos mais BELOS da nossa língua e estou trabalhando num livro, onde seleciono OS MAIS BELOS SONETOS DE NOSSA LÍNGUA, de autores pouco conhecidos. Acho que será um sucesso. O soneto em referência, até nem sei o nome, é de autor mineiro e foi publicado há + - 40 anos atrás, se você não souber me informar, não tem importância, mas continuarei pesquisando.

              Seu amigo e incondicional admirador.

 

                                                                                                  Miguel Russowsky

 

SONETO (nome?)

AUTOR (suspeito ser Djalma?)

 

HÁ MULHERES QUE VENCEM PELA GRAÇA

VENCEM, DOMINAM DE UMA TAL MANEIRA,

QUE A ALMA VARONIL, POR MAIS QUE FAÇA,

NUNCA MAIS TEM A LIBERDADE INTEIRA.

 

 

EM OUTRAS UM CARINHO NOS ENLAÇA

........................................................................

.......................................... ALMA SEM JAÇA

EXEMPLOS DE BONDADE............................

 

 

EU SEI QUE AS HÁ, BEM VEJO CLARO E EXULTO

.....................................................................................

MAS NÃO PRESTO AMOR NEM PRESTO CULTO

 

 

POIS NA CERTA NENHUMA SE AVIZINHA

..............................................NA BONDADE

DAQUELA QUE NASCEU PARA SER MINHA

 

              O fecho é maravilhoso! Inesquecível!

              O recheio improvisei. Obviamente eu poderia “montar” um soneto sobre esta chave, mas seria um plágio vergonhoso.

 

                                                                                                  Miguel

 

a trova no dorso do envelope, caro José Albano, é baseada nas lições que você me deu. Sou BOM ALUNO, quer apostar?

 

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Minhas observações:

 

1 – O Miguel me confundiu a mim, José FABIANO, com José ALBANO (1882 – 1923), notável poeta cearense, autor do livro “Rimas de José Albano, edição organizada, revista e prefaciada por Manoel Bandeira (1948), do qual retiro esta trova:

 

“Quanto é forte o meu desejo

Nesta afeição insensata:

Morro, porque te não vejo

E sei que ver-te me mata.”

 

2 Eis “a trova no dorso do envelope”, a que o Russowsky se refere:

 

Sogras ou madrastas, antes

de aporrinharem com zelos,

embora bocas falantes,

falam pelos cotovelos.

 

3 Eis o soneto “Gloriosa” de autoria de Djalma Andrade, do qual o Russowsky citou alguns versos:

 

GLORIOSA

 

Há mulheres que vencem pela graça,

Vencem, dominam de uma tal maneira,

Que o coração viril, por mais que faça,

Nunca mais tem a liberdade inteira.

 

Em outras, a ternura nos enlaça,

Uma ternura doce e verdadeira:

São corações de arminho, almas sem jaça,

De sombra acolhedora e hospitaleira.

 

Eu sei que as há, bem vejo claro, e exulto,

Mas não me ofusca a forte claridade,

Mas não lhes rendo meu fervor, meu culto.

 

Pois nenhuma, por certo, se avizinha,

Na graça, na ternura, na bondade,

Daquela que nasceu para ser minha.

 

4 – É lamentável que o Russowsky não tenha publicado o livro anunciado em sua carta, “OS MAIS BELOS SONETOS DE NOSSA LÍNGUA, de autores pouco conhecidos.

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postagem em 03.03.2010