Célio Grünewald - Juiz de Fora

          CÉLIO BELMIRO GRÜNEWALD,  filho de Pedro José Grünewald e Anair dos Santos Grünewald, nasceu em Juiz de Fora, a 26 de agosto de 1923.  Aposentou-se em 1979 como funcionário dos Correios. Ocupou a cadeira nº 07 da Academia Juizforana de Letras, que passou a ser, posteriormente, ocupada por seu sobrinho, o "Magnífico Trovador" Arlindo Tadeu Hagen, depois que Célio faleceu, em 07 de outubro de 1991. 

Todos os picos da serra,
nos Andes... nos Pirineus,        (8º lugar Pinda 1967)
são dedos grandes da Terra
mostrando a casa de Deus!

Quando a tristeza se acalma   (10º lugar N. Friburgo - 1981)
e me permite sonhar,
eu abro as vidraças da alma
e deixo a saudade entrar!

Somente o vaqueiro triste
entende, de uma só vez,    (4º lugar, Fortaleza - 1982)
a nostalgia que existe
no mugir de cada rês!...

Na alvorada loira e mansa,    (1º lugar Santos - 1985)
o sol, em doirado afago,
espanta a lua que dança
na superfície do lago!

A chuva fina não passa!
Quase a medo o sol reluz,    (M. Especial SP, 1986)
e, nesse instante, a vidraça
chora lágrimas de luz!...

Minha vida amarga e tosca
parece a aranha que passa         (Vencedora em Niterói - 1987)
e tenta pegar a mosca
do outro lado da vidraça

A estrada é longa, é comprida,     (Vencedora em Niterói - 1987)
é tortuosa demais.
E eu vou dirigindo a vida
sem olhar para os sinais! 

Nos idos da mocidade,
talvez dos sonhos desperto,   (Vencedor São Paulo, 1990)
rimei amor com saudade
e juro que estava certo!..

Anoitece... A Terra dorme.
Há sombras em quase tudo     (M. Honrosa em Juiz de Fora)
e uma lua branca enorme
brinca num céu de veludo!

Teu beijo de despedida
carregou dentro do adeus
os sonhos da minha vida
e a vida dos sonhos meus!

Não julgues teu inimigo,
não julgues, enfim, ninguém.
Quem julga corre o perigo
de ser julgado também.

Teus olhos, contas divinas,
por falsos, minhaIma os teme.
São iguais às turmalinas
nos destinos de Pais Leme.
 

Não julgues nunca a pobreza,
não desmereças ninguém,
que a porcelana chinesa
saiu do barro também.

Por muito, muito que valha,
nossa vida é, na verdade,
nada mais do que migalha
na mesa da eternidade.

A criança quando chora
até no pranto seduz:
é como se a própria aurora
chorasse gotas de luz!

Eu venho sempre tentando
ser feliz e não consigo.
O destino anda brincando
de cabra-cega comigo.

Nesta casinha modesta,
que é coberta de sapê,
imagine só que festa
eu faria com você!...

Com seu açoite, o destino
fustiga os corcéis da aurora,
e num carro purpurino
arranca o sol para fora.

Num prenúncio do Evangelho,
tu pões no olhar feiticeiro,
ternura de preto velho
em macumba de terreiro.

Por mais que o destino traia,
multiplique nossos ais,
nós somos da mesma laia:
dois orgulhosos iguais!

     HUMORÍSTICAS

Dona Benta, a minha sogra,
a mim nunca convenceu:
se foi benta, não me logra,
- o diabo é quem benzeu!

Vi minha sogra, pelada,
saindo do quarto escuro.
Sonambulismo que nada...
Semvergonhice no duro!...

Minha sogra é macumbeira.  (M.E. S.Bernardo Campo - 1980)
Fez feitiço e acendeu vela.
Me “benzeu” de tal maneira,
que eu casei co’a filha dela!

Minha sogra idolatrada
é uma uva, anjo moreno,      (Vencedora em Garibaldi - 1990)
mas daria, se esmagada,
em vez de vinho... veneno!...

Meu afilhado e sobrinho,
um capeta sempre foi.
Ao dizer: - Bênção, padrinho,   (15º lugar Friburgo, 1979)
respondo: - Deus te perdoe!...

Numa abundância de banha   (7º lugar Bandeirantes, 1981)
o gordo do meu vizinho
parece uma coisa estranha
toda esculpida em toucinho.

Num forró, nesse domingo,   (MH em Sete Lagoas - 1982)
se agarrando na mulata,
explicou-se assim o “gringo”:
- Mim também cabeça chata!...

Apesar de sempre alerta,     (13º lugar Friburgo - 1983)
o carapina Marcelo,
quando o dedo, acaso, acerta,
muda o nome do martelo!

Por ter ciúmes da Rita,
em seu lar, temendo um "cacho",  (6º lugar Friburgo 1984)
Zé não deixa entrar visita
e nem mamão (quando é macho).

Agachou-se de mau jeito
e no mato, ao se agachar,   (S. Bernardo do Campo - 1985)
não pode medir direito
e acertou o calcanhar...

Só duas vezes a Estela
traiu o pobre do João:
-- uma vez com o sentinela,
outra vez, com o batalhão!...