Cipriano Ferreira Gomes

Cipriano Ferreira Gomes é mais um inspiradíssimo poeta irmão "D'Além-Mar" que compõe nossa imensa e privilegiada lista. Nascido em Pinheiro da Bemposta, Aveiro, Portugal, no dia 05 de novembro de 1945, "filho de Ernesto Gomes e Dona Eloia Soares Ferreira, chegou ao Brasil em 10/03/1952 e, segundo Izo Goldman, em 1974 fez sua primeira trova em homenagem à sua filha Márcia, ainda no ventre da mãe Filomena. Com ternura ele dizia" : 
“Tocar-te o ventre crescido
é luz de divino brilho;
é, mesmo antes de nascido,
acalentar nosso filho !”
(OBS: o parágrafo acima, entre aspas, foi transcrito do texto de Antonio de Oliveira, a respeito de Cipriano)

   Afastado por vários anos das trilhas da Trova, voltou a "dar sinais de vida" no segundo semestre de 2013, quando do falecimento de Izo Goldman, e é figura do mais alto respeito nas lides trovísticas.

Já no alto do meu agosto,
quem quiser ler, aconselho,
a vida escreve em meu rosto
cartas que eu leio no espelho.

Tempestade!... E o mar erguido
é um cavalo em movimento
que tendo o dorso ferido,
desfere coices no vento!...

Para dar cor aos matizes
da mais bela floração,
humildemente, as raízes
vivem ocultas no chão!

Não há mistério nenhum,
quando o amor forma casais,     (Menção Honrosa em Campo Mourão/PR)-2022)
é uma soma de um mais um
que dá dois, dá três...ou mais.

Ser poeta é abrir um furo
no paredão do universo                       (4º lugar Porto Alegre, 1987, "Viagem")
e viajar ao futuro,
na embarcação do seu verso.

Por tudo que choro ou canto,                    (Menção Honrosa Niterói 1987)
que tenho ou hei de alcançar,
devo à Vida tanto, tanto,
que não sei como pagar! 

A brisa, filha do vento
e da brutal ventania,
nasceu de um bom pensamento               (Menção Especial Santos 1987)
que ambos tiveram um dia.

O arvoredo erguendo os braços,
podando a luz de mansinho,
espalha frescos pedaços                      (5º. lugar S. Bernardo do Campo, 1986)
de sombra no meu caminho.

Teu olhar, que teve o encanto
das mais festivas auroras,                        (Menção Honrosa UBT SP, 1986)
hoje é noite... e noite é pranto,
mesmo quando tu não choras...

Um olhar... uma esperança...
e nas asas da ilusão,                        (Menção Honrosa UBT SP, 1986)
tu vieste de mudança
morar no meu coração.

Meu olhar, cada vez mais,
com manias de criança,                           (Menção Especial UBT SP, 1986)
recolhe cartões postais
para o arquivo da lembrança.

Vais partir... e a despedida,
unindo nossas saudades,                     (5º. lugar Porto Alegre, 1985, "União")
vai fazer de uma só vida
duas tristonhas metades.

Com as fontes a cantar,
crescendo de monte em monte,               (Menção Especial Santos 1985)
eu aprendi que ser/mar,
antes de tudo... é ser fonte.

Sobre o teu rosto, magoado,
ferido pelo desgosto,
os espinhos do passado                    (1º. lugar S. Bernardo do Campo, 1984)
vão desenhando outro rosto...

Bendigo as mãos generosas
que, num trabalho fecundo,                (5º. lugar S. Bernardo do Campo, 1984)
ainda semeiam rosas
entre os espinhos do mundo.

O amor, que mais verdadeiro
abrigo pode nos dar,
não é o que chega primeiro              (7º lugar Nova Friburgo, 1984)
mas o último a chegar...

De amor e felicidade
eu me julguei bem vestido,              (14º lugar Nova Friburgo, 1984)
sem perceber que a saudade
era o forro do tecido...

Madrugada, quase dia...
E a obrigação de viver              (3º lugar Nova Friburgo, 1983)
esquenta a marmita fria
que a fome espera comer...

Querendo felicidade
em cada palmo de chão,
meu amor à liberdade             (13º lugar Nova Friburgo, 1983)
é quase uma escravidão.

O tempo por mim contado
vai deixando em seu adeus,      (Vencedora UBT SP, 1983)
sobre o rosto do passado,
rostos que já foram meus.

Atirando no passado
os momentos do presente,      (Menção Especial UBT SP, 1983)
o tempo é um velho malvado
tirando vida da gente.

Nas despedidas sem fim,
buscando portos risonhos,               (Vencedora Niterói 1982)
a vida já fez de mim
contrabandista de sonhos...

No instante da despedida,
a lágrima sem disfarce,                      (Menção Especial Niterói 1982)
é como se a própria vida
viesse justificar-se...

Enganados pela vida,
meus olhos dentro dos teus,               (Menção Especial Niterói 1982)
prolongando a despedida,
não querem dizer adeus...

Este silêncio que é dor
gritando dentro de nós,                      (Vencedora Niterói 1982)
é o resto de um velho amor
que aos poucos perdeu a voz...

Em silêncio, pelas ruas,
passo em minha solidão,               (Menção Especial Niterói 1982)
devolvendo ao céu as luas
que o nosso amor trouxe ao chão.

Horas mortas, horas frias
que no silêncio me abraçam,               (Menção Especial Niterói 1982)
porque, sem você, meus dias,
também são noites; não passam!...

Vidraças de minha infância,
não vos quebrei sem motivo.
- Quebrei-vos pela importância              (2º lugar Nova Friburgo, 1981)
de ser menino e estar vivo...

Das lembranças que deixaste,
eu nem sei qual a mais triste:              ("Noite e Dia"1º. lugar S. Bernardo do Campo, 1981)
se a do dia em que chegaste...
se a da noite em que partiste...

Nos rumos interrompidos
a esperança estende pontes             (11º lugar Nova Friburgo, 1980)
para que os sonhos perdidos
encontrem seus horizontes.

Pelos trilhos da distância,
no trem de minhas tristezas,            (1º lugar em Porto Alegre - 1979)
somente o vagão da infância
tem janelinhas acesas...

Tu voltas e eu te recebo,
mas sinto no teu olhar,
tanta ausência, que percebo              (11º lugar Nova Friburgo, 1979)
que não vens para ficar...

Do nosso abraço desfeito,
resta-me a doce inconsciência              (13º lugar Nova Friburgo, 1979)
de erguer os braços ao peito
para abraçar tua ausência.

Vais partir e eu tenho medo
que a ausência te possa dar              (16º lugar Nova Friburgo, 1979)
o esquecimento, mais cedo
que a lembrança de voltar.

Ouço vozes... nada vejo,
é a tua ausência acordada,              (17º lugar Nova Friburgo, 1979)
acordando o meu desejo,
no meio da madrugada.

A tua ausência conduz
minha alma, que não te esquece,              (25º lugar Nova Friburgo, 1979)
como se fosse uma luz
que não brilha... Mas aquece...

Não vim pedir-te que voltes,
se me algemas ao desprezo,            (13º lugar em Fortaleza/CE - 1978)
peço-te apenas que soltes
meu coração, que tens preso...

Fraternidade de fato,
é aquele amor tão estreito,           (1º lugar em Nova Iguaçu/RJ - 1978)
que come no mesmo prato
e dorme no mesmo leito!

Linda bruxinha de trapos,
quisera ter o segredo
que transforma os teus farrapos      (2º lugar em Três Rios/RJ - 1978)
na ternura de um brinquedo...

Este amor que te procura
quando estás perto do chão,        (Menção Honrosa em Pouso alegre - 1978)
tem a virtude e a doçura
de ser mais do que perdão.

Eu creio no que não crês             (Menção Especial em Ribeirão Preto - 1978)
e tu crês no que não creio.
Está visto que não lês
o mesmo livro que eu leio!

Se não foi o amor, então,
quem poderia, sorrindo,
ter posto em meu coração            (Menção Especial em Ribeirão Preto - 1977)
a angústia que estou sentindo?

Ao descobrir o semblante
que lhe dera a Natureza,
Narciso tornou-se amante           (X Salão Campista de Trovas - 1977)
da sua própria beleza.

Mais que o tempo, são culpados
pelos meus sonhos perdidos,
os velhos bolsos furados
dos meus casacos rompidos.
 

TROVAS DE BOM HUMOR!

Macumbeiro tarimbado,
na conversa, não desliza;              (4º. lugar S. Bernardo do Campo, 1980)
só faz macumba fiado,
depois que o santo autoriza!

Macumba é um sinal de alerta
quando as coisas andam mal,      (Menção Especial S. Bernardo do Campo, 1980)
mas galinha preta, esperta,
toma seus banhos de cal.