Dias Monteiro

TEXTO DE ABERTURA = LUIZ ANTONIO CARDOSO
Da Academia Taubateana de Letras de Taubaté

      João Dias Monteiro nasceu aos 29 de março de 1908, no Bairro do Tataúva, perto do Distrito de Quiririm, no Município de Taubaté, Estado de São Paulo, filho de Antonio Celedônio Monteiro e de Francisca Dias Monteiro. Seu pai, que era pequeno fazendeiro, ficou arruinado financeiramente, numa crise do café, e deixou a zona rural, junto com sua esposa e filhos, para ir morar na cidade, onde Dias Monteiro (como assinou a maioria de seus artigos), com apenas doze anos de idade, empregou-se numa fábrica de tecidos, como tecelão.

     Após algum tempo, foi morar em Areias, onde compôs seus primeiros versos, aos vinte anos de idade, na data de 17 de fevereiro de 1929, sendo que a partir daí, e pelos elogios recebidos naquela oportunidade, nunca mais parou de escrever, tendo publicado contos, crônicas, sonetos, etc, em diversas periódicos, como “O Malho”, “Fon-Fon”, “Jornal das Moças”, etc. Trabalhou na empreendedora e saudosa fábrica têxtil taubateana “CTI”, onde, juntamente com talentos como Emílio Amadei Bherings, Félix Guisard Filho, Geraldo de Oliveira, José Pedro Saturnino, Levy Bretherick, Oswaldo Barbosa Guisard, Roberto Bretherick, dentre outros, brilhou como jornalista no “CTI – Jornal”.

     Foi Vereador em Taubaté, sendo uma experiência da qual não trazia boas lembranças, pois pregava a honestidade e lealdade ao povo, acima de tudo, e apontava, sem temores, quando visualizava na administração pública, seja no executivo ou legislativo, irregularidades que lesavam ao interesse da terra que tanto amava, criando, desta forma, diversos problemas pelo seu idealismo.

     Mas foi na trova que Dias Monteiro alçou seu vôo mais alto, levando o nome de Taubaté para todos os rincões do Brasil onde se promovessem Jogos Florais e Concursos de Trovas, tendo chegado até mesmo em Portugal. Venceu concursos em diversas cidades, tais como: Anápolis, Caçapava, Caxambu, Corumbá, Curitiba, Fortaleza, Maricá, Maringá, Natal, Niterói, Nova Friburgo, Porto Alegre, Pouso Alegre, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Santos, São Gonçalo, São Lourenço, etc. Esteve ligado ao movimento trovadoresco desde seus primórdios, que em Taubaté foi liderado pelo Prof. Cesídio Ambrogi, e em 1965, foi co-fundador da Seção de Taubaté do GBT – Grêmio Brasileiro de Trovadores, tendo sido empossado Vice-Presidente. Em 1968, como aconteceu na grande parte dos grupos de trovadores, que cultivavam a trova literária, foi extinta a seção da GBT em Taubaté, e em 1969, iniciaram-se as atividades da Seção de Taubaté da UBT – União Brasileira de Trovadores, tendo sido co-fundador e empossado no cargo de 2º Vice-Presidente (Divisão de Cultura).
    
     Dias Monteiro, que também foi Presidente da UBT – Seção de Taubaté, foi o idealizador do Boletim daquela Seção, denominado “Trevo na Trova”. Publicou o belíssimo livro “Barcarola de Sonhos” (repleto de poemas, sonetos e trovas), quando já possuía mais de setenta anos, graças ao mecenas taubateano, Sr. Carlos de Mattos Carvalho.

     Dias Monteiro, em entrevista ao Jornal Valeparaibano, aos 15 de abril de 1979, disse que seu gosto pela escrita nasceu de um outro gosto: o da leitura… relatou que desde menino lia tudo que lhe chegava às mãos, e com o tempo acabou por escrever também. Vale transcrever também, a resposta que deu, na mesma entrevista, quando fora indagado se a poesia era necessária:

     “ …a poesia, para nós que sabemos admirá-la, é um bem necessário, convidando-nos à vida. A poesia é como o ar que se respira, trazendo-nos oxigênio espiritual. Escrevendo, a gente se sente mais agente, isolado do mundo que nos rodeia, mundo tão cheio de maldade e incompreensão… ”

     O grande escritor, poeta, sonetista, trovador, contista, cronista, letrista e jornalista faleceu em 1994, deixando grande lacuna no meio literário taubateano.

     A Academia Taubateana de Letras, fundada em maio de 1999, homenageou o grande trovador, elegendo-o como patrono de sua cadeira número dez, que hoje é ocupada pelo Prof. Dr. Sebastião Monteiro Bonato.
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- Via-Láctea, que te espalhas
pelo céu, alguém me diz
que és a poeira das sandálias
de São Francisco de Assis!

Duvidar ninguém se atreve
de que as estrelas que eu fito
são trovas que Deus escreve
no livro azul do infinito!

Se uma estrela se apagasse
ante promessas ao léu,
talvez hoje não restasse
nem uma estrela no céu!

(trova nº 1694 do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", de Luiz Otávio)
Fui de declive em declive
rolando; e me vi tão baixo
que até amigos que eu tive
me fizeram de capacho!...  

(trova nº 1720 do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", de Luiz Otávio)
Por que tu tens o desplante
de desprezar minha estima!?...
Se a vida é roda-gigante,
bem posso olhar-te de cima!?...  

(trova nº 1741 do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", de Luiz Otávio)
Saudade! Um ai prolongado
do coração que, a chorar,
vive a evocar um passado
que a gente nem quer lembrar...

Amargas mais os meus dias,               (co-vencedora em Tambaú/SP - 1985)
aumentas mais minha dor,
quando me confidencias
os teus segredos de amor!

Pobre incréu! Em vão, tu sondas          (co-vencedora em Tambaú/SP - 1985)
saber de Deus os segredos:
- Deus fala na voz das ondas
que se quebram nos rochedos!

Chamei-te de má, de injusta,   (M.E. S.Bernardo Campo 1980)
por me negares perdão,
mas hoje, como me custa
dizer que tinhas razão!

Com fibra um solar risonho    (Menção Honrosa em Nova Friburgo - 1974)
construí, pelas estradas,
mas a vidraça do sonho
não resistiu às pedradas.

Ao mundo, em cuja voragem
homens maus plantam discórdia,
Kardec envia a mensagem
da Paz, do Amor, da Concórdia!

Lindo quadro! Em cena aberta
São Paulo... A Guarda Imperial...
Pedro I liberta
o Brasil de Portugal!

Já que não tenho o direito
de ter a sua afeição,
abre a vidraça do peito
e solta o meu coração!

Disse Lobato à entrevista,
nervoso, batendo o pé:
- Sim, senhor, eu sou paulista,
caipirão de Taubaté!

Lobato, Emília, Pedrinho,
tão perdidos na distância,
chegaram-se a mim cedinho,
pondo-me risos na infância!

Em “Urupês”, num só gesto
ao céu da pátria atirado,
lançou Lobato o protesto
do caboclo abandonado!

Meu desejo é bem pequeno:
- Nossa casinha... um ipê...
o campo de aromas pleno...
o luar... o sol... você!

O dia chega sorrindo! ...
E eu vejo, olhando o arrebol,
mil gotas de luz caindo
da taça de ouro do sol!

Sempre de casa saindo,
eu vejo, olhando os espaços,
a madrugada fugindo,
levando a noite nos braços!

Num botão de rosa aberto
em todo o seu esplendor,
eu vejo de mim tão perto
a festa daquela flor...

Ei-los vestidos de trapos
pedindo roupa e comida;
não são gente, são farrapos
nas reticências da Vida!

Teus contos de raros brilhos,
com tanta ternura e afetos,
direi, Lobato, aos meus filhos
e estes dirão aos meus netos!

Ouvirei, da sepultura,
num suave e terno enlevo,
tu releres com ternura
os versos que hoje te escrevo.

Esquece os dias sombrios
que a vida te vem turvar...
Segue o destino dos rios
que, rindo, morrem no mar...

No grande teatro da vida,
sem que movessem cordéis,
eu vi minha alma caída
humildemente a teus pés...

"Leve-o à força!" E, na estampilha,     (7º lugar Nova Friburgo 1989)
o ato foi assinado,
mas, à falta de cedilha,
o preso foi enforcado!