Eugênio Rubião

          EUGÊNIO RUBIÃO  nasceu em Silvestre Ferraz (hoje Carmo de Minas) / MG a 14.04.1887 e morreu em Belo Horizonte em 01.03.1949. Publicou três livros, entre os quais "Trovas" - 1938.

Em teu desejo persiste,
nada, porém, realizes:
que não há nada mais triste
que o bocejo dos felizes!

Esta história já me cansa
com sua monotonia:
sempre viver na esperança
de ser feliz algum dia!

Quem a esperança estiola
nos corações eu maldigo:
é qual roubar uma esmola
a um andrajoso mendigo!

Em seu descontentamento
o homem, egoista, quis
ter fonte de sofrimento
na ambição de ser feliz!

A saudade é linda prece
que se reza todo dia;
mas o rosário mais cresce
para o infeliz que o desfia.

A viola é uma menina,
mas tem capricho, hás-de crer:
arrufa-se e desafina
na alegria e no prazer.

Devagar, devagarinho,
em silêncio e sem alarde,
na doçura do caminho
desata a rosa da tarde...

Um ano vai, vem outro ano;
mas de sofrer já se cansa:
Cresce o DEVE desengano,
corre o HAVER esperança!

Na vida triste e afanosa,
a beleza fugidia
é mesmo como uma rosa,
que dura o espaço de um dia!

Quem de amar sofreu a glória,
muito terá que falar:
- que amor é a única história
que vale a pena contar.

Chora, mas bem devagar;
porque, enquanto te maldizes,
tu andas a perturbar
a alegria dos felizes!

Bendito, seja quem for,
(e Deus a bom fim o fade)
que fez efêmero o amor
e duradoura a Saudade!