Gilson Maia - Petrópolis

          Gilson Faustino Maia, nascido no Rio de Janeiro a 02 de dezembro de 1941, filho de Manoel Pereira Maia e Iracema Faustino Maia, casado com Edite de Barros Maia, reside em Petrópolis, tendo passado boa parte de sua vida em Angra dos Reis. Comerciário aposentado. Uma de suas premiações mais significativas (talvez até a mais valiosa) dentro da Trova foi nos Jogos Florais do Cinquentenário de Nova Friburgo, em 2009.  Faz parte da UBT de Petrópolis.

Quem parte deixa saudade.     (7º lugar em Petrópolis 2011)
Quem fica sofre demais.
Buscai a conformidade.
Desesperança? Jamais.

O que eu faço, digo adeus?
E quando eu sentir saudade
e a ausência dos olhos seus?...
Parto para a eternidade? 

Olha, amor, à minha mesa,
veneno e licor de vida.
Ou morro em minha tristeza,
ou vivo por ti, querida.
 

Saudade é coisa que passa
quando está pronto o caixão.
Oprime, destrói, amassa,
arrebenta o coração.

 

Fui ao doutor outro dia,
não me pergunte por quê.
Olhou a radiografia,
só viu, lá dentro, você.

 

Falar de amor, eis o tema,
no céu, na terra, no mar,
na boate, no cinema,
onde eu puder te encontrar.
  

 

  As trovas a seguir fazem parte da edição de “Poetas e Trovadores Serranos”, lançado pela UBT, seção de Petrópolis em 2012, com trovas do Gilson:

 

TEMA DE ABERTURA
 
Petrópolis, que beleza!
Que lugar encantador!
Já, assim, dizia a nobreza,
na corte do imperador.

 
1.    ALEGRIA
 
O sol nasceu, alegria!
Que bom que a chuva parou!
Vou secar a poesia
que a tempestade molhou.
 
Na aurora da nossa vida,
quanta alegria plantamos
quando, junto à mãe querida,
a primeira vez choramos.
 
Meus versos, quanta alegria
trazem ao meu coração.
À custa da poesia
é que eu suporto a traição. 
 
 
2.    AMOR 
 
Amor é arte importante,
é charada a decifrar.
Nasce às vezes, num instante,
nas profundezas do olhar.
 
Amor, presente divino
concedido à humanidade.
Ou é missão ou destino,
vai muito além da amizade.
 
É noite e, essa cama, fria.
Guardo no peito esta dor.
Choro, então, na poesia
a ausência do meu amor. 
 
 
3.    ANDARILHO
 
No mundo, caminho triste.
Da vida eu perdi o trilho.
Meu coração não resiste
mais a vida de andarilho.
 
Andarilho, pela vida,
vou seguindo devagar,
sempre buscando guarida
nas letras do verbo amar.
 
Poeira, sol e cansaço,
andarilho, eu vou seguindo.
Meus pés estão um bagaço,
porém meu rosto sorrindo.

 
4.    ANJO
 
Anjos bons, no meu caminho
quantas vezes encontrei.
Cobriram-me de carinho,
nas suas asas voei.
 
Vejo, do céu, a janela
e nela um anjo sorrindo.
Que quadro, que cena bela!
Fico, surpreso, assistindo.
 
Meu anjo, na minha morte,
claro, virá me buscar.
Mas pra que isso me conforte,
eu não posso duvidar.

 
CARIDADE 
 
Um pão, por amor de Deus!
Por caridade, Senhor!
Não faltará para os seus
e extinguirá minha dor!
 
Senhora, por caridade,
deixe um sorriso cair
desse rosto, raridade,
que nem pensei existir.
 
Caridade, nuvem santa!
Molha a minha plantação.
O sertanejo assim canta,
chora e espera em oração.
 
 
5.    CARTA
 
Pelo menos uma carta
escreva-me, por favor.
De meiguice, assim, tão farta
e frases cheias de amor.
 
Eis que chega o mensageiro
com uma carta na mão.
Deixa, a moça, o fogareiro
e corre para o portão.
 
Carta de amor, tão antiga,
lá no fundo da gaveta,
explicar, talvez consiga,
do sofrimento, a faceta.
 
 
6.    CASTIGO
 
Pequei, Senhor, reconheço.
Eu falo e sei o que eu digo.
Sei muito bem que eu mereço
receber esse castigo.
 
Vou cortar sua mesada,
eis o castigo, mocinho.
Nada de farras, noitadas
e cara cheia de vinho.
 
Castigo é ficar na esquina
esperando por você.
Estou sofrendo, menina.
Eu choro e você não vê?

7.    CIDADE
 
Cidade grande é perigo,
muita gente e solidão.
Mesmo assim, inda consigo
viver alguma paixão.
 
Vou de cidade em cidade
levando o meu violão.
Cantando, da mocidade,
as mágoas do coração. 
 
Vou fugir dessa cidade,
vou mudar para o sertão.
Lá tem mais sinceridade,
natureza e inspiração.
 
 
8.    CIÚME 
 
Por culpa do teu ciúme,
o nosso amor feneceu.
Virou rosa sem perfume,
quanta tristeza me deu!
 
Ciúme, desconfiança,
possessão, coisas assim...
Sua idéia de criança
afastou você de mim.
 
Não se explica, mas padeço,
por ciúmes, meu amor.
Gira o mundo, eu não esqueço:
outro ao seu lado? Que horror!

 
9.    CORAÇÃO
 
Quem foi que chamou um dia
o nosso mundo de cão?
Meu cão é minha alegria,
não destrói meu coração.
 
O teu carinho, querida,
provoca tanta emoção
que, quando eu for, na partida,
levarei recordação.
 
Quando eu te vejo, morena,
meu coração acelera,
e, na praça, a melhor cena
é quando você me espera.

 
10. ENDEREÇO 
 
Para ter um bom começo
o nosso caso de amor,
manda-me o teu endereço
ou o e-mail, por favor.
 
Se tu achares que eu mereço
conquistar teu coração,
é só dizer o endereço
que irei até teu portão.
 
É o endereço, é a meta
para toda inspiração,
a cabeça do poeta
que vive na solidão.
 
 
11. ESPERANÇA 
 
A esperança antecipou
sua morte, vejam só!
O meus sonhos, derrubou,
no meu mundo deu um nó.
 
Nos meus tempos de criança
plantei sementes da sorte.
Não nasceu, sem esperança,
planto sementes da morte.
 
O amor ficou na montanha
logo que tentei subir.
A vida é triste façanha
de esperança no porvir.

 
12. ESTRADA
 
No meu cavalo CRITÉRIO
sigo a estrada do destino.
Aonde irei? Um mistério,
desde os tempos de menino.
 
Durante a minha viagem,
pelas estradas da vida,
só encontrei hospedagem
entre os teus braços, querida.
 
Vou cantando pela estrada
aquela doce cantiga
lembrando, da minha amada,
aquela voz tão amiga.

 
13. FLORES 
 
Plantei as mais lindas flores
que já se viu no planeta.
Encanto dos beija-flores,
abelhas e borboletas.
 
No jardim da minha vida
vi muitas flores no chão.
Tristes, murchas, decaídas,
vivendo na solidão.
 
Flores não quero na morte,
na vida só tive espinhos!
Não acredito na sorte
só quero amor e carinho.
 
 
14. FLORESTA 
 
Vou penetrar na floresta,
visitar a natureza
porque lá é sempre festa,
lá não existe tristeza.
 
Lá na floresta encantada,
à beira da cachoeira,
canta alegre a passarada
nos galhos do pau-pereira.
 
Vem, que a floresta te ensina,
longe desta agitação,
as regras, a disciplina
pra colher inspiração.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
15. ILUSÃO 
 
Grande ilusão este mundo!
Eu demorei entender.
Hoje vivo, vagabundo,
já cansado de sofrer.
 
Canta, canta passarinho,
canta triste na prisão.
Bem distante do teu ninho,
o teu canto é uma ilusão.
 
Disse a cigana que a sorte
chegara ao meu coração.
Foi a mentira mais forte,
tudo uma grande ilusão.

16. JUVENTUDE 
 
A juventude é um sonho...
Quanta ilusão e vaidade!
Às vezes um rosto risonho,
Às vezes mágoa, saudade.
 
Minha história não tem preço,
foi juventude barata.
Tudo ilusão no começo,
depois o pranto em cascata.
 
Juventude, poesia,
projetos para o futuro,
amor, sonhos, fantasia...
Hoje a saudade que aturo.
 
 
17. LEMBRANÇA 
 
Guardo na minha lembrança
os banhos de cachoeira,
nadando, quando criança,
nos troncos de bananeira.
 
Da primeira namorada,
quem não conserva a lembrança?
Daquele olhar de assustada,
dos seus cabelos de trança?
 
Quem quiser lembrar de amor,
mexa no baú antigo.
Lembrança, o conquistador,
carrega sempre consigo.
 
 
18. LUAR 
 
A noite morna, um sorriso,
uma morena a cantar...
Que mais na vida eu preciso,
numa noite de luar? 
 
Um violão seresteiro,
uma cerveja gelada,
ao lado um bom companheiro,
o luar, uma noitada. 
 
Lá no sertão, o luar,
espia sobre o arvoredo
o sertanejo a cantar,
de um grande amor, o segredo.
 
 
19. MAR 
 
Adeus aldeia querida!
Adeus rancho à beira-mar!
Vou procurar outra vida
onde alguém me queira amar. 
 
A luz do cais refletida
sobre a marola do mar,
um lenço, uma despedida,
uma donzela a chorar. 
 
A tarde já quase morta,
do sol, o último olhar,
mostra que ainda se importa
com a beleza do mar.
 
 
20. MORENA 
 
Morena, minha morena,
dos olhos da cor do breu!
Estou chamando, morena,
onde você se escondeu? 
 
Naquela tarde serena,
uma cigarra a cantar.
Nós dois na praça, morena,
quanta ternura no olhar! 
 
Lábios divinos, paixão.
Teu olhar, que luz, que jeito!
Morena, o meu coração
bate feliz no meu peito.

 
21. PECADO 
 
Sei que amar não é pecado,
pois o amor é dom divino.
Porém tem que ter cuidado
pra não causar desatino.
 
O meu primeiro pecado
foi quando te conheci.
Não sei, não estou lembrado,
mas foi logo que eu nasci.
 
Fala de mim, Deus perdoa,
se for pecado, meu bem.
Mas só faço coisa boa
e nunca traí ninguém.

 
22. PERDÃO
 
Atestam que é humano errar,
que o perdão eleva a gente,
mas não consigo encontrar
quem perdoe realmente.
 
Perdoe, amigo, o perdão
põe as almas nas alturas
e renova o coração,
retirando as amarguras.
 
Se te ofendi, meu irmão,
não tenha, de mim, rancor.
Quero, agora, o teu perdão
em troca do meu amor.

 
23. POMAR 
 
Venha chupar carambola,
lá no pomar, Conceição!
Não posso eu vou à escola,
tem teste de redação.
 
Lá no sítio da vovó
tem um bonito pomar.
Tem caju, tem abricó,
tem tudo para lhe agradar.
 
Quem planta colhe, eu plantei
no pomar um pessegueiro.
Nem eu mesmo acreditei,
abasteci o celeiro.
 
 
24. PREÇO 
 
Compra, moça, é bom meu preço!
(Gritava alegre o feirante)
Compra aqui que eu agradeço!
(Repetia a todo instante).
 
Baixou de preço o feijão,
isso é muito bom pro povo!
Fala baixo, meu irmão,
senão vão subir de novo!
 
Durante o fim de semana
eu comprei filé de truta.
Foi a preço de banana.
Como está cara essa fruta!

 
25. SAUDADE
 
Um barco a vela singrando
as águas do verde mar.
Alguém no cais soluçando,
vendo a saudade ficar.
 
Choro! É tão grande a saudade,
que partiu meu coração.
Você se foi por maldade,
desamor, ingratidão.
 
Vento que, por crueldade,
sopra e destrói tudo assim,
por que não leva a saudade
para bem longe de mim?

 
26. SONHOS 
 
Sonhos terei, meu amor,
com você a vida inteira.
Quantas noites de esplendor!
Tudo ilusão passageira.
 
Quantos castelos de areia!
Quantos sonhos construí!
Tudo encantos de sereia,
 ninguém sabe o que eu sofri.
 
Passei a vida inteirinha
plantando sonhos de amor,
mas que má sorte, essa minha,
oh, que mundo enganador!
 
 
27. TERNURA 
 
Quanta ternura em teu rosto!
Quanto brilho em teu olhar!
Agora quanto desgosto,
quanto pranto a derramar! 
 
O céu não sabe e eu não digo
quanta ternura encontrei
naquele olhar, tão amigo,
e que em amor transformei.
 
Tua ternura de outrora
eu relembro com fervor.
Quem dera a tivesse agora
em meus momentos de dor.
 
 
28. TEUS OLHOS 
 
Teus olhos, linda menina,
duas estrelas brilhantes,
transformaram a minha sina
num viver eletrizante. 
 
Teus olhos que hipnotismo!
Que beleza e resplendor!
Despertam todo o lirismo
do poeta sonhador. 
 
Escreveria mil versos
sobre os teus olhos, Maria!
Não encontrei no Universo
tanta luz e poesia.
 
 
29. TRABALHO 
 
Bem antes que seque o orvalho,
segue, amigo, ao seu batente.
Com o suor do trabalho,
tu serás independente. 
 
Escuta a minha mensagem,
eis a minha opinião:
com trabalho e com coragem
não faltará o teu pão. 
 
Deixa de prosa fiada,
nada de pinga ou baralho.
Pega firme a tua enxada,
realiza o teu trabalho.
 
 
30. TREM 
 
Lá vai o trem apitando
subindo aquela ladeira.
O progresso transportando:
café, carvão e madeira.
 
Lá vai o trem, vai levando
o que eu tenho de valor.
Só a saudade ficando
no peito do trovador.
 
Maquinista, devagar,
sua carga é preciosa.
Vão letras do verbo amar
no peito da minha Rosa.
 
 
31. TROVADOR 
 
Eu já nasci violeiro,
cantando versos de amor.
Chega o luar ao terreiro,
também chega o trovador.
 
Trovador, desde menino,
pelas estradas do mundo,
vou seguindo o meu destino,
com sentimento profundo.
 
Trovador que é trovador,
não deixa a rima calar.
Pega o tema com vigor
e trova em qualquer lugar.

 
32. VAIDADE
 
É modesto, o trovador,
e, com suas qualidades,
não quer ser superior,
não carrega vaidades.
 
Um dia pra terra fria
de um recanto da cidade,
irá minha poesia
meu orgulho e vaidade.
 
Lourinha toda enfeitada,
boneca, na flor da idade,
desfilando na calçada,
para que tanta vaidade?