Gilvan Carneiro da Silva - - São Gonçalo

Imagem removida.     GILVAN CARNEIRO DA SILVA, talentoso poeta/trovador residente em São Gonçalo, nasceu a 20 de janeiro de 1945 em Niterói, filho de José Joaquim Pereira da Silva e Maria do Carmo Carneiro da Silva. Pertence à Academia Gonçalense de Letras e à UBT de São Gonçalo, da qual já foi Delegado.

  Aposentado, arquitetura e magistério foram seus ramos de atividade.  Possui, até o início de 2010, "apenas" 11 livros publicados.

Abro a cortina do sonho               Alvorada dos meus dias,           Hoje não te vi. Prevejo
e num gesto de quem vela,           teus olhos -luzes pagãs-          inquietação... desconforto...
me deito a seu lado e ponho          acendem com poesias             O dia em que não te vejo
meus sonhos nos sonhos dela...     o céu de minhas manhãs...       é para mim dia morto...

Neste sonhar em que vivo           Meu coração não te esquece,        Mistérios em si bisonhos,    
da poesia cultor,                       refém de insones rotinas.             que o amor decifra e traduz:
o teu desvelo é o motivo            Ah, se a manhã te trouxesse        são os teus olhos tristonhos
dos meus motivos de amor.         quando eu abrisse as cortinas!...   que enchem meus olhos de luz.

Se não te tenho ao meu lado,      Em meio a ações violentas,           Dizer que a vida não presta
um só instante sem ti                 tanto ódio, pouco juízo,                 não me cabe isso afirmar.
é como um dia passado               bendito aquele que ostenta           A minha vida é uma festa
que sinto que não vivi...              como armamento um sorriso.         na festa do seu olhar.

Sendo o fim de longa espera        Vejo-te e tanto me apego             Mesmo que a tantos iluda
sabendo que sou teu dono,          com teu ser que me seduz,           com diversas abordagens,
voltou a ser primavera                 que me sinto como um cego         história de amor não muda,
em minha vida de outono...          maravilhado ante a luz...              mudam só os personagens...

Esta manhã que se adensa           Minha paixão decidida                   Cai a tarde lenta, e nasce
em tanta luz e poesia.               doce sentença esquadrinha:          em tudo um gesto de prece...
basta ter tua presença                minha vida só tem vida                 Ah, se o instante me levasse!
para enfeitar mais o dia.               se a tua vida for minha                Ah, se a tarde te trouxesse!

Procuras em vão... Contudo,         Sendo boa ou má, a vida               Às vezes verdades mudas   
não desesperes... Convém.           teve sempre o seu valor,               se calam... e se deduz
A felicidade é o tudo                   se um dia foi repartida                  que há mil nos passos de Judas,
do pouco que a gente tem...       em um momento de amor.              para um que segue Jesus.

Caíste amigo? Ergue o peito.          De fato acordos teriam               Veio um golpe em teu encalço?...
Esconde o pranto. Levanta.           de a paz selar muitos laços,            Não desesperes em vão!
É caindo no seu leito                    se braços que digladiam                Às vezes um passo em falso
que o rio mais forte canta.            se estendessem para abraços.         não joga a gente no chão.

Angustiante dúvida esta               Fraco ante as minhas paixões,          Se crês, uma prece apenas
perseguindo os dias meus:            invejo, juro por Deus,                      é possível transformar
o tempo que ainda me resta          essa audácia com que pões              um mar de dores e penas
é o mesmo tempo de Deus?...        teus olhos dentro dos meus.             num doce e tranquilo mar...

O céu de luto parece                    Nas mãos de Deus, em verdade,       Ó minha alma, por que anseia
quando a cigarra anuncia               o universo se afigura                      ir tão longe os vôos seus?...
num canto em forma de prece        na simples fragilidade                    O universo é um grão de areia
a morte triste do dia...                  de ser uma miniatura.                     na palma da mão de Deus...

Como esconder a tristeza               Baseada em tristonhos fados           Diante de tantos escolhos
que aperta meu coração:               a história assim se deduz:               em meu insone abandono,
o pão me sobra na mesa               todos nós somos culpados               eu sei que são os teus olhos
e há tanta gente sem pão!             daquela morte na cruz...                 a luz que impede o meu sono

Entre ilusões me distraio      (11º lugar ATRN Natal 2014)
insistindo em concluir,
que a vida é só um ensaio
para um “depois” que há de vir...

Refém de ti, não recuo,
réu do amor que me corrói:      
(Vencedora em Pinda - 2008)
cada sonho que construo,
tua apatia destrói...

Alvorada dos meus dias
teus olhos – luzes pagãs –
acendem com poesias
o céu de minhas manhãs...       (M. Especial Niterói 2007)

A mais cruel solidão
é a do cego (sina triste),         (3º lugar Bandeirantes 1965)
vivendo na escuridão,
sabendo que a luz existe.

Ó meu Jesus, não permita
que eu me afaste do caminho
pois sei que a estrada bonita
é a que contém mais espinho...

– O que é o vento, mamãezinha,

que a gente não vê mas sente?

E a mãe responde: “– Filhinha,

vento é Deus beijando a gente...”

 

O pobre estende a sacola:
(que triste contradição!)
- os lábios pedem esmola;
- os olhos pedem perdão...

 

Fui à missa. Que pecado!
- Perdão, "seu" padre, se errei.
Ela sentou-se a meu lado,
olhei... pensei e... pequei!

 

Quem me vê tristonho assim,
talvez não saiba que existe
chorando dentro de mim
o eterno menino triste...

 

Numa tímida esperança
eu a cobiço com medo,
como uma pobre criança
que almeja um lindo brinquedo!

 

De pensar tanto em Maria,
- oxalá isto endireite -
no restaurante, outro dia,
pedi Maria com leite...