A lágrima na trova
De Pedro Ornellas:
Trovador é poeta, poeta é sensível, poeta chora, poeta sente quando outros choram… Por isso a lágrima está presente nos versos do trovador, quer sejam as suas, quer as de outros, quer as que só ele consegue ver brotando de olhos figurativos.
Reinaldo Aguiar, grande poeta potiguar, percebeu a força de comunicação que tem a lágrima:
A lágrima, na verdade,
por seu poder infinito,
traduz com fidelidade
o que não pode ser dito…
E ela tem mesmo grande poder de persuasão, admitido prontamente pela Darly O. Barros, de São Paulo:
Meu perdão foi em tributo
a uma lágrima suspensa:
– um detalhe diminuto
mas, que fez a diferença!
Que todo mundo chora, todo mundo sabe… mas por que todo mundo chora? O grande poeta A.A. de Assis, Maringá PR, tem seu palpite:
Noite e dia, mundo afora,
quanta lágrima chorada…
Chora o pobre, o rico chora,
uns por muito, outros por nada!
Quantas lágrimas e por quem você já chorou? Não pergunte à Clenir Neves Ribeiro – Nova Friburgo RJ:
Tanta lágrima perdida
para esquecer me empenhei,
que já nem sei nesta vida,
porquê e por quem eu chorei!
A dor é expressa na lágrima, certo? Nem sempre, diz a poeta gaúcha Delcy Canalles:
A lágrima mais doída
não é a que aos olhos vem,
mas a que fica escondida
sem se mostrar a ninguém!
O saudoso Newton Meyer, de Pouso Alegre MG, concorda e lamenta não ter chorado:
“Homem que é homem, não chora!”
– obedeci, sem defesas.
Pergunto: o que faço agora
com tantas lágrimas presas?!
Na definição da saudade feita por Alberto Isaías Ramires – ES ela ela se faz presente:
Saudade – um berço vazio,
uma lágrima, uma dor;
coração sentindo frio
longe da chama do amor…
Numa das trovas mais expressivas que já conheci, Mário Peixoto – RJ, contou ao descobrir que até o homem mais forte do mundo chora:
Eu vi meu Pai derramando
uma lágrima em segredo.
Era uma fonte brotando
pela fresta de um rochedo.
E falando em descoberta, o imortal Waldir Neves, do Rio, flagrou, fotografou e revelou um segredo guardado a sete chaves:
É uma lágrima sentida
que toda mulher enxuga:
a que lhe rola escondida
por sobre a primeira ruga!
Heron Patrício, de São Paulo, deixa por prevenção seu conforto para a amada, caso venha a chorar sua partida:
Sobre a minha campa nua,
se tu chegares, amor,
em cada lágrima tua,
há de brotar uma flor!
Não sei se o poeta imagina o que vê ou de vê o que imagina… Pedro Ornellas, São Paulo, teve a impressão de ver, ou quem sabe tenha mesmo visto o que diz nesta trova:
O trem partindo… um aceno…
e ao retornar pela estrada,
vi lágrimas de sereno
nos olhos da madrugada!
Vanda Fagundes Queiroz – Curitiba PR, consegue acomodar a lua numa lágrima.
Essa lágrima suspensa
reflete a luz do luar…
parece que a lua imensa
naufraga no teu olhar!
Mas há quem consiga dar a ela uma dimensão ainda maior. Lilinha Fernandes, por exemplo:
O mar que geme e palpita
no seu tormento profundo
é uma lágrima infinita
que Deus chorou sobre o mundo!
Rodolpho Abud – Nova Friburgo descreve um tipo de lágrima que não seca nunca:
Alcançando a eternidade,
dia e noite ela palpita:
A lágrima da saudade
tem dimensão infinita!
Para o Waldir Neves RJ, a lágrima travestida de saudade, é um caminho com destino certo:
Saudade é gota caída,
é pranto que ninguém vê:
-É uma lágrima sentida
que leva sempre a você. …
Às vezes o próprio motivo da dor suprime a lágrima. Pedro Ornellas (SP) descreve assim o drama do retirante:
Ao partir, deixando norte,
uma lágrima ensaiou,
mas a seca era tão forte
que até seu pranto secou!
Cyroba B. O. Ritzmann – PR inveja a lágrima e explica por que:
Tão livre pelo meu rosto
sinto a lágrima rolar.
Quando, terei eu, o gosto
de também me libertar?
Quem chora mais, o homem ou a mulher? A resposta é óbvia para a Divenei Boseli – São Paulo:
Uma lágrima, sequer,
eu vi no adeus…Nem depois.
Não faz mal…eu sou mulher,
posso chorar por nós dois!
Alguns, na falta de lágrimas, choram trovas. É o que afirma Antonio Salomão – PR:
A trova é gota de pranto
que cai dos olhos de alguém
e por alguém chorou tanto
que nem mais lágrimas tem
Não há como esconder sentimentos quando a lágrima assina a mensagem. revela José Ouverney, Pindamonhangaba – SP diz:
Expulsando a maquiagem,
a lágrima veio, pura,
e pousou sobre a mensagem,
no lugar da assinatura!…
Renata Paccola – São Paulo, indica a melhor maneira de lidar com o motivo da lágrima:
Uma lágrima que escorre
traz mais brilho à própria face
se a cada sonho que morre
há um novo sonho que nasce!
Encerro com uma cena que todo mundo viu, mas só o poeta entendeu. Trova do Pedro Ornellas:
Novo rumo, despedida…
e ao pressentir minhas dores,
a paineira entristecida
chora lágrimas de flores!
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Postado em 28.09.2010
NOTA: PEDRO ORNELLAS é "Magnífico Trovador" por Nova Friburgo em ambas as versões: "Lírico/filosóficas" e "Humorísticas". Cantor, Compositor, componente da dupla "Trovadores do Campo" e exímio sonetista. Paranaense de Marialva.