Anatole Ramos - Ervália - MG (Goiânia/GO)

      ANATOLE RAMOS nasceu em Ervália, pequeno município da Zona da Mata mineira, no dia 15 de outubro de 1924, filho de Álvaro da Silva Ramos e Maria José Ramos. Advogado, radicou-se em Goiânia. Excelente trovador, notadamente no gênero humorístico. Publicou inúmeras obras: 
Canto Alegre - Trovas - 1967,  Antes das Águas - 1968,  Consciência Didática - 1969,  Antologia do Conto Goiano (com Miguel Jorge e Luís Fernando Valladares) - 1969,  Um Show à Parte - Teatro (edição mimeografada pelo Autor) - 1970,  Minhas Queridas Formigas - Contos - 1971,  Ortografia sem Acento - Didático - 1973,  O Planeta do Silêncio - Romance - 1974,  O Inspetor - Romance - 1987,  Hoje a Noite é Mais Longa - Contos - 1986,  O Sargento Vermelho - Romance - 1989,  A Surpresa da Festa - Romance - 1989,  O Fazendeiro que dedurou os Bispos - Crônicas - 1978

Veja: a missão dos meus dedos,
quando trocamos uns beijos,
é revelar os segredos
de todos os meus desejos. 

Sobre os meus olhos, o sono
vai-se abatendo, pesado;
chego ao tédio deste outono
sem primavera ao meu lado.

Miséria é um povo vencido,
sem liberdade, sem pão,
aovardado, abatido,
bater palmas à opressão.

Mulher que muito reclama
do marido com alguém,
sem o querer ganha a fama
de má esposa também.

Não demonstrando respeito
na análise da oração,
foi decomposto o sujeito
por insubordinação.
 

Se um velho fala sozinho,
a razão - você sabia? -
é que lhe falta carinho,
e ele não tem companhia.

Por menos que eu as entenda,
sei que as mulheres bonitas,
pra melhorar sua renda
começam fazendo fita!

Aquele, sim, é poeta,
de um gênero caricato,
pois faz poesia concreta
de um amor bem abstrato. 

A cachaça não maltrata,
nem põe ninguém a perder.
Na verdade, o que nos mata
é o que nos leva a beber...

Adão, de pouco juízo
precisou para viver:
casado... no paraíso...
onde iria se perder?

Pois eu me esforcei, meu bem,
fiz até mais do que pude!
Para o que pedes, porem,
já me falta juventude...

Quanta coisa eu aprendi,
professora, em seu ensino!
Só de vê-la, descobri
que já não sou um menino...

"É a cara do pai!" - parece
que é o que primeiro nos sai;
mas isso não esclarece,
afinal, quem é o pai...

Toda vez que pulo o muro
para te ver, vida minha,
me sinto um pouco - no duro -
como um ladrão de galinha...

Carinho pra quê? Me deixe!
Agora estamos casados...
E ninguém dá isca a peixe
depois dos peixes pescados.