A Trova Social Pede Passagem - em 27.07.2009

                    A TROVA SOCIAL PEDE PASSAGEM!
                  
 de Olympio Coutinho - BH para www.falandodetrova.com.br

     Filosofia e lirismo; às vezes, também humorismo. Em todos os concursos de trovas que se realizam por todo o Brasil são assim definidas as modalidades.

     Mas, por que não a trova social?

     Nada contra a filosofia e o lirismo, muito menos o humorismo. Afinal, neste mundo cada vez mais materialista, precisamos mesmo filosofar, cultivar o romantismo – antes que acabe – e rir.

     No entanto, nós, os irmãos trovadores, somos um imenso contingente de pessoas que poderiam, usando a força da trova, participar de forma mais atuante na denúncia de fatos e comportamentos que em nada contribuem para a formação de uma sociedade mais justa e mais humana.

     Se consultarmos a história vamos verificar que, ao longo dos séculos, os poetas e os trovadores tiveram grande influência nos acontecimentos, usando seus versos para denunciar mitos e incompreensões, abuso de poder e injustiças, muitas vezes usando o forte argumento da ironia. 

“Quebre-se o cetro do Papa,
faça-se dele uma cruz;
que a púrpura sirva ao povo
pra cobrir os ombros nus”. 

     É de Castro Alves, um poeta que fez da força de seus versos instrumento de ataque aos exploradores e de defesa dos humilhados e ofendidos. E, apesar de ter morrido muito novo, entrou na história como o poeta dos escravos.

     Ensejou-me discorrer sobre este assunto o tema do XXIX Concurso Nacional/Estadual de Trovas, de Natal, a violência (contra o ser humano). Foi trabalhando na feitura de trovas para este concurso que percebi como nós, trovadores, poderíamos influir – repito, com a força da trova – na denúncia de fatos que atingem de forma negativa a humanidade e, assim, mostrarmos que não estamos apenas filosofando ou sendo líricos (muito menos apenas humoristas), mas que estamos verdadeiramente engajados na defesa de condições mais dignas para os brasileiros e para o ser humano. E que temos compromisso de contribuir na construção de um mundo melhor para se viver.

     Consulto o site falandodetrova.com.br e vejo que os XXI Jogos Florais de Ribeirão Preto de 2008 tiveram como tema a inclusão, ensejando trovas sociais, como as duas abaixo, de Terezinha Dieguez Brisolla:

Tenham todos terra e teto,
sem preconceito ou fronteira,
e que haja amor, não decreto,
para a inclusão verdadeira!.  

Meu Deus, que eu não seja omissa
na luta pela inclusão,
pois quem clama por justiça
é Teu filho... e é meu irmão”.

     E ainda, de Francisco Neves de Macedo: 

É urgentíssima a inclusão
dos deserdados da vida,
dai-lhe a terra e a certidão,
identidade e guarida”. 

     Para ilustrar minha posição e nunca para discutir o mérito da premiação, cito uma das trovas com as quais concorri:

 Ampla inclusão social
ocorrerá certamente
quando for bem natural
tratar todos como gente. 

     Já nos XXVI Jogos Florais de Taubaté/2008 (tema: Brasil), acredito, data vênia, que os trovadores perderam uma excelente oportunidade de se manifestar socialmente contra muitos fatos e comportamentos que se repetem no cotidiano do povo brasileiro. Não que as trovas vencedoras não fossem belas, mas, na sua grande maioria, exaltavam um Brasil que, infelizmente, ainda não existe, como bem traduziu AA de Assis, menção especial nos citados Jogos, com esta trova, uma das poucas de não exaltação: 

Sonho um Brasil justo e honrado
e limpo de coração,
um Brasil qual foi sonhado
e amado por São Galvão”. 

     E, ainda entre as exceções, esta, de Terezinha Dieguez Brisolla: 

Se quem trabalha reclama,
desperta, Brasil, que é hora
de valorizar quem te ama
e renegar quem te explora! 

     Ainda para fixar minha posição e, repito, não para discutir méritos da premiação, cito trovas com as quais concorri: 

Ante tanta aberração
num Brasil fora dos trilhos
pergunto ao meu coração:
- O que eu ensino aos meus filhos?  

Ante tanta espoliação,
causada pelo estrangeiro,
pergunto ao meu coração:
- É o meu Brasil brasileiro?

O povo em miséria extrema,
a nação em retrocesso,
o Brasil desmente o lema:
não tem ordem, nem progresso. 

     Para finalizar este breve arrazoado, aberto ao democrático debate, sugiro temas que poderiam ensejar a produção de belas trovas de cunho social: além da violência contra o ser humano e da inclusão, já citados, educação, saúde, segurança, justiça, humanidade, liberdade, pobreza, miséria, fome, maldade, humilhação, preconceito, segregação, racismo, autoritarismo, ética, honestidade (desonestidade), intolerância, guerra e outros mais que desafiam a nossa vã filosofia.

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OLYMPIO COUTINHO é jornalista residente em Belo Horizonte e fez parte dos áureos tempos da Trova, ao lado de Aparício, Eno, Luiz Otávio e outros. Seu email para contato é: jornalsion@hotmail.com