Humor Apelativo na Trova - 04.08.2010

         
          O mundo transformou-se numa imensa Sodoma. A pornografia é a ordem do dia. As perversões sexuais são glamurizadas na mídia falada, escrita, televisionada e 'internetada'. O humor sadio definitivamente caiu da moda. Não é diferente na trova. Salvo exceções, parece que 'apimentar' é requisito para premiação em concurso de trovas humorísticas. Só falta constar no regulamento... Essa valorização da banalidade acaba ditando as regras. Pode induzir algum trovador recatado a ingressar no time para competir em igualdade de condições. Exagero? Não acho... há casos de trovadores(as) que se sentiram envergonhados, quando numa dessas experiências, sua trova ganhou notoriedade. Além disso, certamente influencia as novas produções. Todo trovador quer que suas trovas sejam notadas, e já que as indecentes é que fazem sucesso, o jeito é aderir.
 

          Pessoalmente me declaro um convicto quadrado, antigo e ultrapassado nesse quesito. Não dou risada de piadas obscenas, não bato palmas para trovas apelativas e, nos bons tempos em que eu era convidado para julgar  concursos de trovas, sempre priorizei trovas de humor sem apelação. Acredito que os poetas devem dar bom exemplo quanto à moral e aos bons costumes, ao invés de promover a conduta imoral. Já tem muita gente fazendo isso. Poesia e indecência não combinam.
 

          Mas não pretendo ser dogmático, acho até aceitável certa dose de malícia, colocada de forma inteligente, como nessa trova antológica de Antônio Carlos Teixeira Pinto:

 

Num enterro de segunda

houve tanta confusão,

que uma parte da Raimunda

foi por fora do caixão!

 

Essa é a minha opinião, gostaria muito de saber a sua, e se posso divulgá-la posteriormente.

 

Abraço a todos e fiquem com algumas boas trovas humorísticas:

 

Cuspiu na parede e quando

lhe chamaram a atenção

mostrou um cartaz rogando:

“Favor não cuspir no chão”!

(Eno Teodoro Wanke)

 

A origem fica explicada:

nasceu tão pequeno, tão...

que a mãe dele, horrorizada,

ao vê-lo gritou: “Ah, não!”

(Elton Carvalho)

 

- Coragem!... Sua mulher

tem poucos dias... lamento...

- Doutor, se o destino quer,

mais uns dias... eu aguento!

(Vasques Filho)

 

Para o furacão filmar,

a TV saiu-se bem:

A matéria foi ao ar

e o repórter foi também!

(Renata Paccola) 

 

Tanta pirraça o Tenório

fazia enquanto viveu,

que houve baile no velório:

- como a mulher prometeu.

(José Lucas Filho/MG)

 

Ante a clonagem, desmaia

o cientista pouco esperto:

fez a sogra de cobaia

e a experiência deu certo!

(Arlindo Tadeu Hagen)

 

Pagou um mico perfeito

quando o irmão gêmeo morreu:

Pôs uma placa no peito:

“O defunto não sou eu!”

(Josafá Sobreira)

 

Foi pirraça inusitada

aquela da sogra à nora:

ficou com ela abraçada

para passar catapora!...

(Lucília Decarli)

 

- Chamaste meu pai de otário?
Repete-o, se és homem... vem!
- Chamei não, pelo contrário...
mas que ele tem cara, tem!
(A.A. de Assis) 

 

É um alpinista de fama,

mas dele a vida debocha:

por ironia se chama

Caio Rolando da Rocha.

(Waldir Neves)

 

No hospício, o maluco Otelo

fez um grande zumzumzum:

quis engolir um martelo

para quebrar... o jejum!...

(Nádia Huguenin)

 

Depois dos cinqüenta, pai,
a verdade nos corrói.
Não se fala: Como vai?
A pergunta é: Onde dói?
(Luiz Gonzaga Sanches)

 

Mulher que pensa em vingança

e tem veneno de sobra,

da cobra tem semelhança,

com todo respeito à cobra!!!

(Marcos Medeiros) 

 

Matuto explica o defeito

da TV, que teve um curto:

"Ela proseia dereito...

mas não aparece o vurto!"

(Pedro Ornellas)

 

Mostra o sábio o que destaca

do burro a paca, e sussurra:

– é que o burro sempre empaca,

e a paca jamais emburra...

(Osvaldo Reis)

 

Grita a mulher do ladrão:
- Por onde andaste, cretino ?...
Não vejo qualquer menção
de assaltos, no matutino!

(Vasques Filho)

 

O sujeito se aperreia,

fica doido e chateado:

marido de mulher feia

tem raiva de feriado!

(Zé de Souza)

 

Toda mulher que é gorducha

tem um recurso só seu:

Ao vestir-se, grita: “Puxa...

como esse troço encolheu!”

(Magdalena Lea)