Jefferson Santana Ferreira - São Paulo/SP

     Quem é Jeferson Santana Ferreira, segundo sua própria descrição:

     Sou Jefferson Santana Ferreira, deficiente visual total, nascido em São Paulo, em 20/09/1996.

     Sou apaixonado pela trova. Conheci este texto poético em 2016, numa aula de literatura, na instituição do Lar Das Moças Cegas, em Santos. Neste ano, produzi algumas trovas.

Numa tarde de verão
uma menina encontrei
já que eu era solteirão
sem pensar a paquerei.

     A trova acima foi a primeira que escrevi. Em 2017, dei uma trégua. Dediquei-me a valer
mesmo foi em 2021. E escrevo até hoje. Em dezembro de 2023, ingressei na UBT de São Paulo.
Este ingresso ajudou-me muito a progredir na produção das trovas. Abaixo, seguem vinte trovas
de minha autoria.

O amor encanta, é bonito
algo que chama atenção
precisa ser infinito
e tê-lo no coração.

Neste seu mar de prazer
quero muito navegar
um grande risco correr,
a ponto de me afogar.

Extremamente seguro
provarei a toda gente
que mesmo em meu mundo escuro
consigo ser competente!

Em mim, tem uma criança
que por doces sempre implora
se não houver temperança
a saúde vai embora!

Toda vez que ela se ausenta
aproveita-se a saudade
sem demora me acorrenta
sem um pouco de piedade.

Tato, gosto coração,
olfato, audição e mente
estes cumprem a função
da minha visão ausente.

As crianças do momento
não pensam mais em brincar,
pois seu entretenimento
é a tela do celular.

Quando escutamos um não
de um grande amor que nos laça
se estraçalha o coração
semelhante uma vidraça.

Na estrada da fase adulta
por vezes, resgato a infância
que em mim ainda vive oculta
em alguma circunstância. 

Sempre que a raiva se acende
nos acomete a cegueira
quando a gente se arrepende
já cometemos besteira.

Na criança pequenina
não há traços de maldade
este mundo é que extermina
seu candor e ingenuidade.

Vai ao colégio a criança
para aprender e brincar
mas o medo e a insegurança
há também neste lugar.

Dizem que futuramente
não haverá mais humanos
por que o mundo inteligente
reinará daqui alguns anos.

Neste mundo está espalhado
um povo que engana a gente,
ser Tomé não é pecado,
é ser esperto, somente! 

Na feira, seu Damião,
ao feirante perguntou:
- Oi, você tem um mamão?
e ele, as duas lhe mostrou.

No cofre do coração,
ajuntei um bom valor:
cem moedas de perdão
e mil cédulas de amor.

Todo dia ele reclama
que a carteira está vazia,
deitado na fofa cama
dormindo até meio-dia.

A saúde tagarela
diz: - Comam fruta e verdura.
O bolso, mais alto que ela,
também fala: Isso é tortura!

O relógio em correria
sem parar, vive aprontando,
astuto, a noite abrevia
quando estamos nos amando.

Coração sentia dor
por causa da solidão,
foste a doutora do amor
que curou meu coração.