Almerinda Liporage - Rio de Janeiro

          Almerinda Liporage, a "Tita", carioca nascida em 28 de novembro de 1928, uma das mais talentosas trovadoras de que tenho notícia, conforme abaixo constatado, é detentora de quatro primeiros lugares em Nova Friburgo, entre outros tantos conseguidos em outros locais. Todas as suas trovas são do mais alto nível. Ou não?
          Faleceu na "Cidade Maravilhosa" em 05.06.2016.

OBS: Desde 17 de maio de 2009, por iniciativa da Comissão Organizadora do Jubileu de Ouro dos Jogos Florais de Nova Friburgo, com a aprovação de todos os "Magníficos", Almerinda Liporage passou a ser Magnífica Trovadora "Honoris causa".

 

 

01 Nós tanto nos pertencemos,

nosso amor vai tão além,                            (1o. lugar nacional - Friburgo-1984)

que nós dois já nem sabemos

qual de nós é mais de quem!

 

02 Cantiga que me transporta

da angústia ao sono da paz                        (1o. lugar nacional - Friburgo-1986)

é o som da chave na porta

e teus passos, logo atrás!

 

03 Mãe, por mais que eu me concentre

na importância do que faço,                       (1o. lugar nacional - Friburgo-1991)

não esqueço que teu ventre

foi o meu primeiro espaço!

 

04 Meu orgulho se rebela

mas o amor faz perdoar,                  (          1o lugar nacional- Friburgo-1998)

porque a saudade é janela

que eu não aprendo a fechar.

 

05 Por que crianças com frio

não tem o sol de um abraço,                      (5º lugar nacional Friburgo 1991)

se em tanto braço vazio

há desperdício de espaço ?

 

06 Tão forte nos abraçamos,

confundidos no entrelaço,

que eu acho até que trocamos

de corações nesse abraço!

 

07 Em meu rosto deslizando      (4º lugar em Pouso Alegre - 1994)

vem tua boca em anseios,

no teu beijo terminando

o mais doce dos passeios!

 

08 Quebraste a nossa harmonia

e escravizado ao teu jeito,

meu coração, hoje em dia,

é um corpo estranho em meu peito.

 

09 Criança desprotegida...

feita de nãos e de nadas,

é só rascunho da vida,

rabiscado nas calçadas.

 

10 Bem caprichosa é a sorte

da infância desprotegida

que vive à espera da morte,

por nada esperar da vida.

 

11 Eu sinto, na indiferença

com que o tempo me consome,

que em seu Livro de Presença                         (Vencedora Pinda 2001)

a vida apagou meu nome.

 

12 Uma verdade evidente

não há texto que distorça:

-Ante a imagem contundente,

a palavra perde a força.

 

13 Se voltares por fineza,

entra e pisa devagar;                                     (M.Honrosa Friburgo 1997)

não acordes a tristeza

que cansou de te esperar.

 

14 Nosso amor só necessita

de alguns metros de coragem,                           (9º lugar Friburgo 2006)

porque a fronteira limita,

mas não impede a passagem.

 

15 Na maior das concessões

Deus que é Pai, bem poderia                                  (Rio Novo 1991)

parar nossos corações,

juntinhos, no mesmo dia!

 

16 Nosso amor tem tal magia,

que, mesmo em noites sem lua,                  (5º lugar Pouso Alegre-1999)

o luar, por cortesia,

brilha só na nossa rua.

 

17 Morre o amor ... o espólio é feito,

tudo partido em metade.

Minha inteira, por direito,

só ficou mesmo a saudade.

 

18 Com todo risco a correr

hei de em teus braços chegar:

sou rio que, até morrer,

corre à procura do mar.

 

19 Mudou o jeito de amar...

E em nossa afeição madura,

a volúpia deu lugar

aos afagos da ternura.

 

20 Meus cataventos da infância,

em acenos coloridos

vejo ainda hoje, à distância,

catando sonhos perdidos.

 

21 Que valem os planos meus

de um dia acertar meus passos,

se o céu me acena com Deus

e eu busco o inferno em teus braços.

 

22 Prometo seguir teus passos

na prece em que me concentro,

até que a cruz dos teus braços

se feche, comigo dentro.

 

23 De que me vale um perdão

por muito amor que revele,

se não há mais emoção

em nosso toque de pele.

 

24 Do fogo, visão mais bela

que a minha, não há quem tenha;

vovó mexendo a panela,

num velho fogão de lenha.

 

25 Minha oração chegou tarde

e o final foi mesmo aquele:

quando um amor é covarde

nem Deus acredita nele.

 

26 Foi tão longo o nosso abraço,

que, as vezes, chego a supor,

que o mundo não tem espaço

para guardar tanto amor.

 

27 Em meus momentos aflitos

deixo-as na face rolando,

porque as lágrimas são gritos

dos meus sonhos se afogando.

 

28 Meus sentidos divagando

ao sabor dos teus afagos,

são garças brancas flutuando

na calmaria dos lagos.

 

29 No teu beijo terno e doce,

sem o ardor da mocidade,

eu sinto como se fosse

beijada pela saudade.

 

30 Do cair da noite à aurora,                    (1º lugar em Porto Alegre - 2003)

a chuva, em suave rumor,

fez toda a trilha sonora

das nossas cenas de amor.

 

31 Não reivindiques lembranças

nem me imponhas tua dor,

que eu não aceito cobranças

de quem é meu devedor.

 

32 Da rima sou arquiteta

e construo o que me apraz,

porque o mundo do poeta

são os versos que ele faz.

 

33 Cada segundo eu contei ...

Mas hoje o espelho mostrou

que o tempo que te esperei

a vida não me esperou.

 

34 Do meu leito eu te arranquei;

mas por mais forte que eu banque,

do meu coração, eu sei,

não há nada que te arranque.

 

35 Teu ciúme em demasia,

sem limite a respeitar,

transformou em tirania

tua maneira de amar.

 

36 Sem enredo a minha história

foi no tempo se perdendo:

se existe um dia de glória,

a vida está me devendo.

 

37 O espelho mostra inclemente,

nas marcas que o tempo aviva,

que hoje eu sigo para a frente

em contagem regressiva.

 

38 Se cantar alegra a vida,

por que se vê, pelo chão,

tanta cigarra caída

no fim de cada verão?
 

39 Domínio por opressão
cedo ou tarde se aniqüila:                  (M. Honrosa Niterói 1995)
pois para todo Sansão
sempre existe uma Dalila. 

  

40 Se uma Trova me entristece,

fazê-la, sei que não devo ...

Tristeza ninguém merece

e, por isso, eu não a escrevo...

 

41 Pela “conversa” de amigo

e esse adeus dito com arte,      (Venc. São João da Boa Vista 1995)

o que tu fazes comigo

não é renúncia, é descarte.

 

42 Nas lâmpadas salpicadas

que enfeitam suas pobrezas,      (M. Honrosa São Paulo 1986)

as favelas enjeitadas

choram lágrimas acesas!

43 Uma verdade evidente                    (Menção Honrosa Rio de Janeiro - 2000)
não há texto que distorça:
- Ante a imagem contundente,
a palavra perde a força.

44 Tuas recusas sem jeito                   (co-vencedora Rio de Janeiro - 2000)
mostram, de modo evidente,
que tens meu corpo em teu leito,
com outra imagem na mente.
45
Em toda vida eu te vi                             (co-vencedora em São Paulo - 1995)
tão dentro dos sonhos meus,
que ao despedir-me de ti,
era a mim que eu dava adeus!
46
Por um orgulho idiota
eu não quis lutar por ti...                           (Menção Especial em Amparo/SP, 1993)
E com medo da derrota,
mesmo sem luta perdi.
47  
Sem dúvida nem receios,
meu eu te entrego desnudo.        (Tema "Nudez" - Menção Honrosa UBT Rio de Janeiro - 1995)
Se o fim justifica os meios,
o amor justifica tudo!
 

                                      ALGUMAS HUMORÍSTICAS

No escuro, a farra já quente,            (co-vencedora em Porto Alegre - 2005)
era tanta apalpação,
que a luz voltou de repente
e ninguém achava a mão...

No verão era tão mini
a coleção que mostraram,                               (2ºlugar Pouso Alegre 1996)
que uma passou sem biquíni
e os presentes nem notaram!

O moreno deu o estouro
quando a esposa num desmaio,
gemeu baixinho : - Meu louro,                   (Friburgo - 1992 - 2o. lugar)
sem ter nenhum papagaio!

Um choque levou Zequinha,                      (Menção Honrosa em Porto Alegre - 1985)
sem fios e sem tomada,
ao se ligar na vizinha,
com a mulher dele ligada...