Humor Francês

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

Humor Francês

       Jean-Charles, autor do livro Humor de Calções, traduzido por João Belchior Viegas e editado pela Livraria Bertrand, de Lisboa, “nasceu a dois de Dezembro de 1922, nos confins da Aquitânia, uma das províncias tradicionalmente mais espirituosas da França.”
       Do livro mencionado, retiro, para a nossa edificação, o capítulo O Quem é Quem, dos Cábulas. Antes que vocês se indaguem: cábula, o que é isso? Informo que cábula significa mau estudante, fujão, que não comparece às aulas. E por ser leitura deliciosa, transcrevo as palavras iniciais: 
       “Quando entro numa aula e vejo que sabem ler, escrever e contar, fico satisfeito. Quanto ao resto, pouco se me dá.
Esta afirmação era feita, no começo do século (XX), por um velho professor primário; e o professor reformado a quem comuniquei esta reflexão, acrescentava:
       Tão sensato princípio foi esquecido e só deploro a sobre- carga imbecil dos programas. 
       Claro que as crianças de hoje são as primeiras a quererem aprender outra coisa além de ler, escrever e contar, mas, infelizmente, o que lhes interessa nem sempre se encontra nos programas. E, mais uma vez, a proliferação das pérolas só demonstra que as coisas não correm de feição.
       Eis porque, em vez de me perder em longas digressões sobre a arte e a maneira de ensinar a história, preferi organizar um dicionário das celebridades, ou seja, uma espécie de Quem é quem dos cábulas. Por ele verificarão quão longe estamos do velho conselho de Ernest Lavisse: Na escola primária, gostaria que contassem a história aos alunos como um avô conta uma história aos seus netos.
       Um dos meus antigos condiscípulos, ou antes o irmão dele, escreveu-me: A escola foi feita para nela se aprenderem coisas inúteis. De acordo, mas não ao acaso. Efetivamente, eu preferiria que ensinassem a vida e a obra dos grandes pintores ou dos grandes músicos, em vez das guerras de Napoleão ou dos pormenores das classes sociais, em Roma, no tempo de Cícero. Porque a cultura, a autêntica, deve ajudar a apreciar um concerto, um quadro, um poema ou até, simplesmente, um bom filme de cow-boys. 
       Enquanto a situação não mudar, aqui fica o Quem é Quem dos cábulas, no qual a história dos séculos longínquos ocupa muito mais lugar que a dos cem últimos anos. 
       A grande vantagem dos historiadores – dizia Aurélien Scholl – é os mortos não poderem protestar. 
       Bem vistas as coisas, isto também se aplica aos cábulas e estes podem consolar-se com a idéia de quem não arriscam a ser processados por difamação. Nem mesmo aquele aluno que escreveu: A história é muito útil, pois, sem ela, não saberíamos que o Obelisco foi feito dos canhões tomados por Napoleão em Waterloo.”
       Antes de transcrever algumas das pérolas francesas, eu, humildemente, confesso que cometi, quando estudante do Colégio Diocesano de Uberaba, dos Irmãos Maristas, na década de 1940/50, esta, de que me lembro muito bem, pois mereceu que o Irmão Paulo a exibisse no quadro colocado no recreio dos maiores. Desejando me referir ao “velocino de ouro” (carneiro mitológico, de velo de ouro), e não me lembrando dele na hora da prova, simplesmente escrevi: “velocípede de ouro”... Que vergonha! 
       Também não me esqueço do colega que, em plena sala de aula, perguntado pelo professor o que era gado ovino, respondeu: gado que bota ovo...
       Deixemos as plagas brasileiras, para sorrir de algumas pérolas de patrícios de Voltaire:
“1 – Álgebra: Mulher de Euclides;
2 – Buda: Passou a maior parte de sua vida em Budapeste, assim se explicando o nome desta cidade; 
3 – Circe: Feiticeira que fez beber aos companheiros de Ulísses uma poção que os tornou porcos;
4 – Duruy (Victor): Criou o primeiro liceu de raparigas públicas;
5 – Esparta: Artista e literato ateniense;
6 – Frederico III da Prússia: Obteve a coroa real por um tratado de lesa-majestade; 
7 – Godofredo de Bulhão: Pregou a primeira Cruzada com Pé de Marmita. – Na Idade Média, as pessoas que partiam para a Cruzada faziam-no quase na certeza de que regressariam mortas;
8 – Hercules: Herói da meteorologia;
9 – Ingres: Pintou sobretudo mulheres. Por isso se diz: o valdevino do Ingres;
10 – Joana d’Arc: Apoderou-se de Orléans em 1429; só mais tarde é que se tornou donzela. – Morreu viva na praça do Mercado. – Os franceses ficaram desesperados: já não tinham donzela.
11- Khrouchtchev: Inventor da chucrute;
12 – La Fayette: Lançou o futuro Luís-Felipe pela janela da Câmara Municipal, gritando: A melhor das Repúblicas, ei-la!
13 – Molière: Concubina de Madeleine Béjart, que virá a ser mais tarde mulher da sua irmã ou da sua filha de que ele próprio talvez seja filha. – Autor da celebre peça Miss Antrop. – A Igreja só concedeu a extrema-unção a Molière 8 dias depois da sua morte;
14 – Napoleão I: Casou em primeiras núpcias com Joséphine Baker. – Como Napoleão não podia ir em pessoa ao Egito, enviou Bonaparte;
15 – Pasteur: Inventou uma poção que faz rebentar os ratos e ditados para os alunos;
16 – Robespierre: Inventou o terror. – Embora ateu, Robespierre era protegido por St. Just.
17 – Sócrates: 470-399 avenida Jesus Cristo;
18 – Telémaco: Filho do Lixo;
19 – Ulisses: Rei do Iraque;
20 – Virgílio: Jovem amada por Dant.”

        Não é só o Brasil que não é um país sério...