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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)
Flor de Azálea - Poemas do Professor Fabio Mirhib
Comprei o livro com o título acima não sei quando nem em que sebo de BH, com dedicatória de 20/12/1959: “Para o amigo Pompeu, com agradecimentos...” Não consigo ler o resto. Numa das orelhas está escrito: “Escreva-nos mais ainda, jovem amigo das letras! Estarei sempre aqui na Capital, vangloriando-me de que, em nossa querida terra, à qual ambos devotamos o mesmo amor, existem moços do seu quilate, capazes de criar algo impressionante e digno de representar a nossa cultura. Sinto-me feliz em pertencer a uma terra de poetas! (trecho de uma carta ao autor, do Dr. Noraldino Lima, ex-Interventor de Minas, ilustre literato e membro da Academia Mineira de Letras.)”
Noraldino Lima nasceu em São Sebastião do Paraíso, MG, e em 30/11/1951, faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Ocupou a Cadeira nº 34 da Academia Mineira de Letras. Martins de Oliveira, na HISTORIA DA LITERATURA MINEIRA, refere-se a ele como “Homem de Estado, Jornalista e Poeta. Como poeta, foi parnasiano, embora prestasse culto, em parte, ao simbolismo. Orador notável e político brilhante, exerceu o cargo de interventor federal em Minas, tendo sido, antes, deputado federal e secretário de Estado em Minas. Estava na presidência do Banco do Brasil, quando faleceu.”
O poeta esclarece em “Preliminares”:
Certa jovem possuía meu coração e prometeu-me amor eterno. Na primeira adversidade, sua fraqueza, ignorância, ou covardia fez com que me abandonasse.
A ela meu perdão, meu desprezo e meu esquecimento.
E ao final do livro:
Amigos, chegamos ao fim do pequeno livro que escrevi, despretensiosamente, em minha estada no Sul. Inspiraram-me, a beleza do cenário, a bondade de poucos amigos, a estupidez de muitos inimigos gratuitos e a frivolidade querida de uma adolescente que agora não me considera nem amigo nem inimigo.
Eis-me recompensado se deixei ai para trás, se não beleza, pelo menos alguma sinceridade.
Adeus.
Paraíso, Natal de 1959.
(São Sebastião do Paraíso)
Retornando ao miolo do livro, transcrevo:
Renúncia
A mulher que amei, jamais poderia compreender-me. As ilusões que lhe ofereci ela as comparou aos bibelots de louça e quebrou-os descuidada ao léu da fantasia...
O coração que lhe ofereci, ela imaginou ser um balão colorido que logo se desfez numa explosão efêmera...
Quinze anos nos separavam e entre o meu inverno e sua primavera eu tive a coragem moral de erguer as muralhas da renúncia.
Só as flores artificiais perduram. As naturais sempre foram transitórias, talvez porque somente elas possuam os netários e os perfumes.
***
Mariza
Um dia, no pampa sulino, aquém da fronteira,
Na terra das prendas, do amor e do bom chimarrão,
Mariza encontrei caprichosa, falaz, feiticeira,
E cego, lhe dei sem temores o meu coração...
E foi, para mim, neste inverno que alveja os cabelos,
A azálea formosa, riqueza da fria estação,
Amamos, noivamos, unimos na febre dos zelos
O sonho, a ternura, a ventura, o desejo, a ilusão...
Porém, qual a flor que viceja com os dias contados,
Tudo isto passou como um sonho de leves matizes...
E agora este inverno é mais frio porque estou sozinho
E sofro ao lembrar-me do tempo em que fomos felizes...
E agora, ao pensar solitário naquela menina,
Suplico ao meu Deus que eu não morra no tédio profundo
Sem que nesta vida de mágoas um dia eu reveja
A única flor que deveras amei neste mundo!...
***
Imagens
Todas as rosas têm o hálito de Jesus...
Todos os lírios têm a pureza de Nossa Senhora...
Todas mancenilhas negras têm o veneno do coração de Judas...
E tu no teu coração? Tens um ninho de víboras e um rosal dos pássaros, a geleira do pólo e a primavera do sul e até hoje não sei se tens no olhar duas estrelas ou dois abismos de luz... É por isso que tu mesma não te entendes e és deusa e feiticeira ao mesmo tempo.
***
Segue Teu Caminho
Se um dia ela passar por meu caminho
Com o olhar vencido de quem roga e implora,
Eu lhe direi sem pena e sem carinho:
- Já não terás o meu amor de outrora!
Muito penei por ti, foi tanto espinho
A me ferir por teu amor, SENHORA,
Que é muito tarde para nós agora
Reconstruir o nosso antigo ninho...
Ninguém te quis e não te aceito mais
Como no tempo azul dessa quimera
Que se esfumou com os nossos ideais...
Tinha de ser, consola a tua dor,
Fizeste mal em desprezar quem era
O teu primeiro e verdadeiro amor!
***
Saudade
Na noite que os homens denominam o Natal, repousei meu coração vermelho entre camélias de um jardim perdido... para que ele recebesse algum bálsamo da lua ou o ambicionado orvalho das estrelas, ou mesmo algum aroma dos jasmins amantes.
Ao recolhê-lo depois de um sono leve, senti-o mais pesado.
É que o fantasma de barbas brancas, vendo-o já vazio e sem as perdidas esperanças, reconhecendo o coração antigo disse para o vento: - É uma sandália vermelha de algum infeliz mendigo, e nada mais...
... e encheu-o de saudade...
***
Regresso
Depois de um longo exílio voluntário,
Volto a rever o meu torrão natal.
Eis-me de volta, velho campanário,
Eis-me de novo, amigo roseiral...
Meu templo bom, saudoso relicário,
Querido lar! Aqui me tens, igual
Àquele antigo e ledo visionário
Que torna sem alento e sem fanal...
As lagrimas me vêm descontroladas,
Pois eu deixei por ínvias estradas
Meus sonhos, meu amor, meus ideais...
Há prata em meu cabelo embranquecendo.
Aqui nada mudou, mas eu compreendo
Que não serei o mesmo, nunca mais...
***
E em outros poemas chorou o poeta...