Antonio Sales e Alceu de Freitas Wamosi

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

ANTÔNIO SALES E ALCEU DE FREITAS WAMOSI  (12.01.2010)

 

             Dois poetas e dois destinos. Um do Nordeste do Brasil e outro do Sul.

 

     Segundo o DICIONÁRIO ANTOLÓGICO DAS LITERATURAS PORTUGUESA E BRASILEIRA, de J. M. Ferreira Pontes:

ANTÔNIO SALES, cearense de Paracatu, nasceu a 16/06/1868 e faleceu a 14/11/1940, em Fortaleza, CE. Jornalista e político. Participa da PADARIA ESPIRITUAL e ingressa na Academia Cearense de Letras chegando a Presidente. Poeta parnasiano e romancista naturalista. Conseguiu notoriedade por sua prosa elegante e linguagem fácil. Escritor humorístico, às vezes ingênuo, às vezes mordaz. Usou o pseudônimo de Moacir Jurema.

     Para estudo e como mostra do estilo humorístico do poeta parnasiano, inserimos:

 

 

                                EPIGRAMAS
 

Passa na estrada um camelo

e um corcunda palpitante

de alegria, disse ao vê-lo:

-  Mas que animal elegante!

 

Vi um médico fardado...

Que perfeito matador:

Quem escape do soldado,

Não escapa do doutor...

 

- Não gosto de ouvir tolices!,

exclamas, estomagado;

para que não as ouvisses,

devias ficar calado.

 

A fealdade é um direito;

por isso ninguém a acusa,

mas ser feia desse jeito...

Perdão: a senhora abusa!

 

É difícil que aconteça

dor de cabeça ela ter:

pode a dor aparecer,

mas não encontra cabeça...

 

Para que não te despraza

ver gente má pela frente,

precisas primeiramente

não ter espelhos em casa...

 

Em certo escritor satírico,

de uma irreverência atroz,

nós achamos muito espírito...

quando não fala de nós.

 

*****

 

     “ALCEU DE FREITAS WAMOSI, nasceu em Uruguaiana, RS, em 14/02/1895, e faleceu em 13/09/1923, num hospital de sangue em Sant’Ana do Livramento, RS, baleado durante um episódio revolucionário em que ardentemente se envolvera. IN EXTREMIS casou-se com a noiva que juntamente com a mãe do poeta acompanhava a sua agonia. Simbolista foi e sobreviveu por um soneto que se tornou celebre, DUAS ALMAS. A sua poesia é lírica, crepuscular, melancólica. É o representante de maior marca do simbolismo sulino brasileiro.

 

     A título de ilustração e para estudos, transcrevemos DUAS ALMAS da obra COROA DE SONHOS:

 

Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada,

Entra, e sob este teto encontrarás carinho:

Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.

Vives sozinha sempre e nunca foste amada...

 

A neve anda a branquear lividamente a estrada,

E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.

Entra, ao menos até que as curvas do caminho

Se banhem no esplendor nascente da alvorada.

 

E amanhã quando a luz do sol dourar radiosa

Essa estrada sem fim, deserta, horrenda e nua,

Podes partir de novo, ó nômade formosa!

 

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:

Há de ficar comigo uma saudade tua...

Hás de levar contigo uma saudade minha...

 

 

                                                                 *****

 

  

     Vejamos agora quais são os recados em trova que nos mandam esses poetas já desencarnados, através da mediunidade de Chico Xavier e Waldo Vieira, no livro TROVADORES DO ALÉM, prefaciado em julho de 1964, pelo Dr. Elias Barbosa, psiquiatra residente em Uberaba, MG

 

ANTÔNIO SALES

ALCEU DE FREITAS WAMOSI

 

18

Agora não mais me iludo

de que, na Terra ensombrada,

quem não tem nada tem tudo,

quem tem tudo não tem nada.

 

86

Quando a morte exibe o aceno

da verdade que se expande,

muito grande pequeno,

muito pequeno grande.

 

164

Em longes, almos recantos

que a vida guarda nos Céus,

muitos réus que são santos,

muitos santos que são réus.

 

242

Enquanto a luz não se oponha

á sombra da fantasia,

sempre vigia quem sonha,

sempre sonha quem vigia.

 

286

No mundo, de porta em porta,

muita gente cativa,

que anda viva, sendo morta,

que anda morta, sendo viva

 

 

80

Reencarnação! Novos ninhos!

Mas o que dói onde vamos

é ver nossos passarinhos

abrigados noutros ramos.

 

156

Seja acolá, seja aqui,

a Lei ensina onde estou:

cada um carrega em si

o inferno que encomendou.

 

236

Quanto agora me comovo!

Tolo, quisera morrer,

mas quero nascer de novo

para dormir e esquecer.

 

284

Feliz quem luta e padece,

porque a Justiça é assim:

se a grande prova aparece,

o débito está no fim.

 

 

 

 

 

*****

 

     A vida nos transcorre no Mundo Espiritual, com os mesmos problemas que enfrentamos aqui na carne. Nada muda, a não ser a possibilidade de enxergarmos os fatos através de outra janela, sem as ilusões deste mundo. É como o Chico me disse, certo dia: “Morrer para quê? As coisas continuam do mesmo jeito.” Nesta trova sobre saudade, digo o que penso suceder conosco, quando retornamos à Pátria Espiritual:

 

A saudade deve ser,

no Além, aquele misto

da alegria de rever,

com a dor de não ser visto.