Chico Xavier, a Trova e Eu II

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

Chico Xavier, a Trova e eu.

PARTE II

 

Licença Poética

 

Certa noite, em Uberaba, recitei, para o Chico Xavier, a minha trova nº 70, comentando os excessos dessa festa popular, do ponto de vista espiritual:

 

 

A mulher, que não se cora

em mostrar lados e centro,

pode ser bela por fora,

mas é horrível por dentro!

 

Para a minha surpresa, o Chico me advertiu, mais ou menos assim:

 

Fabiano, a gente é responsável por aquilo que induz os outros a pensarem...

 

Como o simples fato de ser advertido por ele era, para mim, um favor que ele me prestava, simplesmente me calei.

No sábado seguinte, observei a ansiedade com que ele me procurava para me falar, também mais ou menos o seguinte:

 

Emmanuel me disse que você é poeta e que os poetas podem se referir aos fatos, como eles se apresentam.

 

Emmanuel foi o mentor espiritual da mediunidade do Chico.

A partir de então, esse não mais me advertia oralmente, mas expressava, na fisionomia, ora fechada, ora meio sorridente, ora surpresa, a opinião acerca das trovas que lhe falava. 

 

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Eu, árabe?

 

Certa noite, recitei-lhe a minha trova nº 468:

 

Pela vida, peregrino,

em busca do rumo certo,

como faz o beduíno

nas areias do deserto.

 

Ele nada comentou, mas deixou transparecer no rosto certa surpresa. Estranhei apenas...

O tempo passou, voltei para BH, aposentei-me, fiquei viúvo em 1992, papai faleceu em 1993, e, após a data da partida do meu “velho”, meu filho Ronaldo, nascido em 1955, confidenciou-me que tivera um “desdobramento” (visão durante o sono), em que me vira como árabe, no século XIII, na cidade do Cairo, no Egito.

Por uma década, guardei para mim a informação. Até que após tive, de uma hora para outra, um “insight” em que me lembrei da trova Pela vida, peregrino...; da expressão facial do Chico demonstrando surpresa, ao ouvi-la; da minha ligação emocional desde menino com o povo árabe; as lágrimas que derramei ao ver, pela televisão, as imagens do sepultamento do Coronel Nasser, o patriota que contribuiu para o fim da monarquia corrupta do rei Faruk; a revolta ao ver como os judeus de Israel tratam os palestinos etc etc etc  

E cheguei à íntima certeza de que o meu espírito teve uma existência corporal nas “areias do deserto”. Estarei certo? Já com 81 anos, não deve tardar eu “tirar a prova dos nove...

 

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Cornélio Pires

(1884 – 1958)

 

              Tenho em mãos uma folha A4, em que escrevi: Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, MG, na noite de 03/03/73, sábado de carnaval.

              Nessa mesma noite, eu tinha recitado, para o Chico, na “Peregrinação”, a trova abaixo que fizera:

 

0.031

Penso, de tanto subires,

subires mesmo de fato,

não és Cornélio Pires,

mas és, sim, Cornélio Prato!...

 

              Após a “Peregrinação”, aconteceu, como era o costume, a Sessão Espírita, com o recebimento de mensagens psicografadas. E eu, tranquilamente, com os demais assistentes, as ouvia.

              De repente, levei um susto, quando o Chico, lendo a última, falou:

“Página ao amigo Fabiano

Informo, contente e grato,

A você, meu caro irmão,

Que não sou Pires, nem prato

E sim Cornélio do Chão.
 

Cornélio Pires

 

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O Bobo do Rei

 

              A razão, por que eu fazia as trovas e as lia para o Chico, era a forma que encontrara para lhe manifestar a minha gratidão pela tranqüilidade de espírito que me trouxera a leitura dos livros e mensagens, recebidos por seu intermédio, de autoria dos amigos espirituais.

              Desde jovem, vivera angustiado em busca da verdade no tocante aos assuntos e problemas espirituais. Fora educado no Protestantismo, na Igreja Presbiteriana que freqüentava às quartas-feiras e aos domingos no culto noturno, e aos domingos na Escola Dominical.

              Contudo, estava matriculado no Colégio Diocesano, dos Irmãos Maristas, em que fiz o então 3º ano primário, em 1937, e, dos anos 1940 a 1946, o Curso Ginasial de 4 anos e os 3 anos do Curso Científico. E, ao mesmo tempo em que aprendia os assuntos profanos, também tinha de estudar diariamente a Religião Católica, com a reza do Terço, e a freqüência, aos domingos, da Missa na capela do Colégio.

              Isso tudo antes do Concílio Vaticano II convocado pelo Papa João XXIII, cujo Pontificado deixou saudades em toda a humanidade. Na época, as posições, tanto do Protestantismo quanto do Catolicismo, eram extremamente radicais.

              Imagine-se a confusão na minha cabeça. Era tanta que me voltei para o Positivismo, depois inevitavelmente para o Marxismo e, por fim, encontrei a paz no Espiritismo. Graças a Deus!

              Como o Chico manifestava estar gostando das minhas trovas, fiz a trova número 274, transcrita abaixo:

 

Se ris das trovas, não sei

a razão do meu arroubo.

Será que já foste rei,

e que eu fui, Chico, o teu bobo?

 

 

(...CONTINUA)