Hélio de Carvalho Teixeira

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

Hélio de Carvalho Teixeira

 

Nascido a 31/08/1915, em Venâncio Ayres, RS, foi poeta, trovador, cronista, crítico, diplomado em Direito em 1938, advogado militante e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, SP. Faleceu em 21/08/2009.

Mantive com ele correspondência de 16/08/85 a 08/12/87.

Em “O Jornal de Montes Claros”, publicou dois artigos a respeito dos meus livros “Caixinha de Trovas” e “Ao Pôr-do-Sol”, que transcrevo a seguir:

 

TROVADORES

(29/09/1985)

 

Editada pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, uma coletânea de quadras, intitulada ‘Caixinha de Trovas’, chegou às nossas mãos, remetida pelo autor, poeta José Fabiano, residente em Belo Horizonte.

A trova é uma forma de poesia que, à  primeira vista, parece muito fácil. Só quem a realiza é  que sabe as dificuldades que ela apresenta. Adelmar Tavares, um dos mestres dessa forma poética, disse a verdade sobre ela com essa quadra: 

Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer!
Tão fácil, depois de feita,
tão difícil de fazer! 

A trova exige, portanto, do trovador qualidades raras, como poder de síntese, grande sensibilidade e boa cultura. Sem estas qualidades, nenhum poeta saberá fazer trovas com mensagem admirável. E como tem valor essa pequena forma poética, quando encerra belo conceito lírico ou filosófico!

José Fabiano já demonstra ao leitor que sabe realizar excelente trovas. Sua técnica é perfeita e tem o dom de fazê-lo expressar-se com naturalidade e elevação. Esta sua trova é modelo de beleza e de humanismo: 

Na escola da humanidade,
ninguém aprende a lição
sem o lápis da bondade
e a borracha do perdão. 

Estas outras são exemplos de fina ironia filosófica: 

É quase no fim da vida
que esta verdade percebo:
felicidade é subida
que se tenta em pau de sebo. 

Pelas migalhas que dás
aos deserdados da sorte,
não presumas que terás
um banquete após a morte. 

Várias outras quadras de José Fabiano também sobressaem no conjunto pela fluência, inspiração e substância que contêm. E a força de sua expressão dá-lhe capacidade para transmitir ao leitor elevadas mensagens.”

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TROVADOR MINEIRO

(08/06/1986) 

José Fabiano, nascido em Uberaba e radicado em Belo Horizonte, acaba de lançar ao público ‘Ao Pôr-do-Sol’, uma coletânea de trovas, que vem confirmar o êxito de seus trabalhos anteriores.

O conjunto de quadras de seu novo livro é  muito bom. Poucas são aquelas que não nos agradaram inteiramente. E aqui vamos ressaltar as mais belas, começando pela primeira que diz bem e com arte as dificuldades dessa forma poética: 

A trova, pequena e grácil,
leva a gente a se enganar.
mulher que parece fácil,
difícil de conquistar! 

Em seguida, surge esta excelente quadra que é  um modelo de lirismo encantador e sóbrio: 

Quando estás a caminhar
na praia, invejo as marés,
que são desculpas do mar
para beijar os teus pés! 

Mais adiante, esta contém inteligente dúvida teológica: 

É Deus quem fala e se expande
na consciência que condena?
Como pode alguém tão grande
ter, assim, voz tão pequena?...

 Esta outra revela a sabedoria da experiência de quem soube captar uma verdade:

                                                    Se desejar comandar,
                                                    dos passos mede o tamanho.
                                                    O pastor não deve andar
                                                    mais depressa que o rebanho! 

A desilusão do menino, que nunca teve alegria no Natal, revela-se nesta sentida trova:

                                                   De meus natais infantis,
                                                   deste fato não me esqueço:
                                                   Papai Noel jamais quis
                                                   saber o meu endereço!... 

Esta transmite ao leitor a tristeza do poeta que perdeu o encantamento de seus primeiros anos de existência:

 Ah, se eu pudesse voltar
à minha infância perdida
e de lá trazer o olhar
com que, ingênuo, via a vida.

 Outra realidade (esta de mensagem social) está  contida nesta trova:

 Mostrarão progressos falsos
as cidades adiantadas,
enquanto houver pés descalços
nas suas ruas calçadas.

 Esta, por meio de um quadro de injustiça da sociedade, a mendicância, revela o que ainda resta de bom no espírito humano: 

Admiro qualquer mendigo,
até mesmo o que me engana.
Quem mendiga traz consigo
a fé na bondade humana. 

O homem, que amadureceu depois de ter tido boas e más experiências nesta vida adversa, lamenta, nesta trova, a perda das crenças da juventude: 

Uma de minhas tristezas,
enquanto avanço em idade,
é ir perdendo as certezas
nascidas na mocidade! 

A fé perdida ou a fé nunca sentida tem seu motivo nesta excelente quadra: 

Em templo antigo, olho o teto,
buscando Deus. Coisa estranha!
Em vez do Grande Arquiteto,
só vejo teias de aranha... 

Finalmente, a desilusão do homem que envelheceu após ter sofrido as realidades hostis deste mundo conturbado, aparece na mensagem autêntica desta trova: 

Na velhice, não se esconde,
a mágoa que sobrevém:
a vida não corresponde
ao amor que se lhe tem. 

Acabamos, então, de apresentar aos leitores várias amostras do talento de José Fabiano que vem, com sua nova coletânea de trovas, confirmar a posição de relevo já por ele obtida, em nossos meios literários, por força de seus trabalhos anteriores.”