Manifesto de um Irmão Trovador que ama a UBT

MANIFESTO DE UM IRMÃO TROVADOR QUE AMA A UBT
(texto de Edy Soares em 15.01.2021)
 

         ​​​​​​​

       A UBT nos últimos meses entrou por um caminho perigoso e começa a caminhar no “fio da navalha” e, a meu ver, rumo a um precipício, no qual, se cair, talvez nunca mais consiga sair dele.       
      Amigos, antecipadamente peço perdão se por desventura as linhas a seguir agredirem ou ofenderem alguns dos que me leem.​​​​​​​ ​​​​​​​
        Para os que ainda não me conhecem sou o primeiro Presidente Estadual da UBT no Estado do Espírito Santo. A Trova, no meu Estado viveu – e sobreviveu – por décadas à margem da UBT.
       Há algo  para o qual ninguém havia prestado atenção: Os jovens entusiastas que a criaram e conduziram a UBT envelheceram. Ninguém dorme jovem e acorda velho, evidentemente. Isso demorou para acontecer. E mesmo assim, embalados pelas alegrias dos concursos, envelopinhos e festas, ninguém percebeu.
      Para os padrões da UBT, eu sou jovem. Tenho (cinquenta e cinco Anos). Segundo informado num dos sensos promovidos pela atual Presidente Domitilla Borges Beltrame e o então Secretário Nacional JB Xavier, a idade média dos trovadores da UBT era de 72 anos há cinco anos. Nada leva a crer que essa média tenha diminuído. Pelo contrário, penso eu.
      Enfim um sopro de ar fresco, trazido pela administração Domitilla B. Beltrame nos trouxe novas esperanças para o futuro da UBT!
     Duas convenções nacionais de Presidentes Estaduais da UBT em São Paulo; uma Convenção  nacional de diretores do Juventrova, também em São Paulo; Manual da Trova; concursos por e-mail; diminuição drástica do número de diretores necessários para constituir uma seção; resgate do registro dos estatutos  da entidade e seu novo registro em São Paulo; registro da Marca UBT no Instituto de Marcas e Patentes; criação do Projeto Juventrova; “redescoberta” da UBT da Bahia, que funcionava desde a década de 70  à parte da UBT Nacional; Idem à UBT do Ceará e muitos outros que eu, sendo apenas um Presidente Estadual, não tive acesso ou conhecimento.
   Mas, mais que tudo, houve a “anexação” do meu Estado, o Espírito Santo, ao mapa da UBT Nacional. Acompanhei de perto o árduo trabalho da Presidente Domitilla e do Secretário JB Xavier, em várias viagens ao Estado. E finalmente o esforço de ambos venceu, ao ponto de ser possível estabelecer em questão de meses três seções, que viabilizaram a criação de uma Presidência Estadual.
     Envidei meus melhores esforços nessa tarefa de estabelecer a UBT em terras capixabas e esse meu esforço foi recompensado com o cargo de Presidente Estadual, o qual exerço até hoje.  
   Tracei essa pequena súmula da história da UBT apenas para registrar a resiliência que caracteriza nossa entidade. Entretanto, vejo-a agora diante de novos e tenebrosos tempos em que talvez toda a sua experiência não seja suficiente para vencer os desafios que se estão apresentando. Há algo insidioso acontecendo, que acabará por implodi-la, por apodrecê-la de dentro para fora. 
   Já nem falo dos desafios naturais consequentes de sua própria história, como, por exemplo, rejuvenescer a entidade, baixando drasticamente a média etária de seus filiados.
   Falo do cenário político que polarizou os brasileiros em duas grandes fações, não de adversários, mas de inimigos.
     Não vou aqui tomar partido político algum, porque é exatamente disso que desejo tratar. Sou relativamente novo na UBT, mas aprendi a respeitar sua isenção nos assuntos políticos e quetais, e sempre a vi como uma entidade neutra, apartidária e não religiosa, ainda que São Francisco de Assis seja tido como o seu padroeiro. Mesmo assim, o praticante de qualquer religião ou vertente política pode ser seu afiliado. O que não se pode é tentar fazer da UBT um braço religioso ou político-partidário.
    Sei que temos em nossa entidade, em todos os níveis, adversários políticos e percebo que até agora essas crenças políticas e religiosas têm se mantido dentro dos parâmetros sociais da boa convivência, porque jamais alguém tentou inseri-los na Trova, maculando-a com suas ideias fanatizadas, sejam elas quais forem.
    Entretanto, para minha surpresa, tristeza e decepção é exatamente isso que está começando a acontecer. Senão, vejamos:
     No atual concurso de Juiz de Fora-MG, o tema é “MULHER”. Um belíssimo tema, que suscitaria a criação de belíssimas trovas, expondo toda a poesia que o tema exala, se não fosse pela exigência expressa do concurso, como mostra este trecho do seu regulamento:
     “3 - Tema Nacional e Internacional (Veteranos e Novos Trovadores) Mulher. Os trovadores veteranos e novatos falarão sobre empoderamento feminino, respeito às mulheres e a seus direitos, igualdade para elas no trabalho, nas oportunidades, podendo, também, abordar o enfrentamento de todos os tipos de violência perpetrados contra elas.
     4 – Tema exclusivo para trovadores de Juiz de Fora (filiados ou não à UBT). Preconceito e desigualdade. Para os trovadores locais ficará o encargo da abordagem das diferenças sociais, culturais, físicas, sobre sua aceitação, bem como o combate contra os preconceitos, visando a desconstrução das desigualdades que imperam no mundo atual.
     Da mesma forma a Seção Maranguape dá vazão às suas preferências políticas pela proposição de seus temas: 
2.1. NACIONAL/INTERNACIONAL
​​​​​​​2.1.1. Racismo (L/F) – Novo Trovador (Registrar Novo Trovador abaixo da trova);
2.1.2. Vacina (L/F) – Veteranos;
2.1.3. Mentiroso (a) (H) – (Para todos os trovadores – Novos e veteranos.
2.2. ESTADUAL:
2.2.1. Preconceito (L/F);
     Ora, o tema “Racismo” jamais poderia ser colocado como tema de concurso porque é óbvio o potencial social explosivo que ele contém. O que um tema assim vem somar a tudo o que já se discutiu sobre racismo? Temas assim suscitam o ódio, nunca a discussão serena.
     Da mesma forma com o tema “Vacina” Se este tema fosse para trovas humorísticas, ainda seria admissível, dada a todas as discussões havidas sobre isso nos últimos meses, algumas delas, hilárias. Mas, ao colocá-lo em trovas líricas e filosóficas fica clara a intenção da exploração política que esta palavra suscita atualmente  .
     “Preconceito” é um tema que estaria bem colocado em qualquer outro tempo em que o Brasil estivesse, mas, atualmente, é óbvia a inadequabilidade da palavra, porquanto gerará trovas racistas e revoltadas.
     Enfim, estou perplexo, indignado e decepcionado pela ousadia, justamente de duas das mais importantes seções do país por tentar dirigir a criatividade dos participantes, e forçá-los a abordagens de ordem puramente política. A UBT não é o foro para se discutir política ou emitir opiniões sobre condições sociais dessa ou daquela classe de brasileiros. Estou chocado também com o pouco caso com situações que marcarão a UBT para sempre, ao torná-la uma entidade politizada, coisa que o estatuto da entidade proíbe em seu Capítulo 1, artigo 4º:
      Art. 4°- É expressamente proibido qualquer proselitismo político ou religioso em reuniões, festas, boletins, jornais e livros da UBT, da mesma forma que é vedada a qualquer associado manifestar-se, em iguais situações, em nome da Entidade. 

É óbvio que não participarei desses concursos, bem como, penso, farão outros que pensam igual a mim. E se, quem pensa igual a mim participar, provavelmente será para expressar sua própria visão política, debochando ou criticando através das trovas, os organizadores dos concursos, que, obviamente, nunca as classificarão, por melhores que sejam.  

Não faz sentido eu começar a selecionar concursos segundo sua ideologia política ou de gênero ou outra qualquer, para participar ou não. Mais fácil é simplesmente deixar a UBT. Não o cargo de Presidente Estadual, mas deixar a própria UBT, porque penso que ela renegou suas origens poéticas e está criando um novo ciclo que não tem nada a ver com poesia ou com a visão de Luiz Otávio

Registro aqui minha profunda decepção ao ver o desrespeito pela história da UBT, especialmente pelos prodigiosos esforços de todos aqueles que trabalharam para mantê-la unida até os dias atuais.

Finalmente, peço, em nome dos que prezam a Trova poética e em nome de uma entidade poética que sobrevive há quase 60 anos – a única no Brasil, aliás – e que ajudei a construir em meu Estado, que substituam esses temas, retornando à paz do que sempre fizemos bem –      POETAR.                           

EDY SOARES É PRESIDENTE ESTADUAL DA UBT ESPÍRITO SANTO