IV Concurso Literário “Cidade de Maringá”
Temas: Humildade e Orgulho
Modalidade: Trova L/F Tema: Humildade
Ordem alfabética
a- Novos Trovadores
Deise Machado - Ponta Grossa – PR
O caminho que conduz,
todos nós à eternidade
é guiado pela luz
dos que vivem na humildade.
Fernando Antônio Belino - Sete Lagoas – MG
A cena do lava-pés
à humildade dá sentido:
um rei que serve, ao invés
de ser por todos servido.
Marina Caraline de Almeida Carvalhal - Itaperuna – RJ
Você já se imunizou
contra o orgulho e a presunção?
A vacina já chegou:
- É a humildade, meu irmão!
b- Veteranos
Edmar Japiassú Maia - Miguel Pereira – RJ
Sou humilde, mas um forte
no alcance às metas que traço...
O impulso quem dá é a sorte:
o resto sou eu que faço!
Francisco Gabriel - Natal- RN
O luxo da nau se rende
quando, no mar, perde a proa,
e a sua sorte depende
da humildade da canoa.
Jerson Lima de Brito - Porto Velho – RO
Quem segue a luz da humildade,
aprende sempre e assegura:
esta vida é faculdade
que não chega à formatura!
Márcia Jaber - Juiz de Fora – MG
Pura humildade há nos gestos
de quem, dentre a luta e a dor,
vive de sobras e restos
sem perder a luz do amor.
Maria Lúcia Daloce - Bandeirantes – PR
Humildade não tem norma,
vai além dos horizontes...
É crer no bem que transforma
as mãos humanas...em pontes!
Roberto Tchepelentyky - São Paulo – SP
Em cada dia, a humildade
nos ensina uma lição...
É um degrau da humanidade
na escala da evolução!...
Sérgio Fonseca - Mesquita – RJ
Humildade é ter capricho
de rio quase sem voz
que, afogado em tanto lixo,
passa cantando por nós...
Modalidade: Trova Humorística
Tema: Orgulho
Ordem alfabética
a- Novos Trovadores
Fernando Antônio Belino - Sete Lagoas – MG
Tenho orgulho, sim senhor,
desta pança avantajada!
É longo caso de amor
com cerveja e feijoada!
Fernando Antônio Belino - Sete Lagoas – MG
Meu bem, deixa desse orgulho,
bota um sorriso no rosto.
Vamos nos casar em julho,
para, enfim, entrar agosto.
José Maria Luz e Silva - Maceió – AL
Sai com orgulho o farrista
ficando em casa quem ama
que assim que ele sai de vista,
coloca outro em sua cama...
b-Veteranos
Abílio Kac - Rio de Janeiro – RJ
A esmeralda, tão charmosa,
pelo orgulho de seu nome,
escreve “Pedra Preciosa”
no lugar do sobrenome.
Arlindo Tadeu Hagen - Juiz de Fora – MG
Caiu... de “orgulho” no chão
e o pior foi ter ficado,
na frente da multidão,
com o orgulho enlameado!...
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho - Juiz de Fora
Um orgulho me consola,
diz vovô e se emociona:
- saber que a velha pistola,
quando preciso, funciona!
José Ouverney - Pindamonhangaba – SP
Sou “virgem” e não me orgulho:
e vou lhe explicar, colega:
é que eu não pego “bagulho”
e o “filé” nunca me pega!
Márcia Jaber - Juiz de Fora – MG
Com muito orgulho, a gordinha,
diz, ao medir a cintura,
não estar fora da linha,
o que sobra é gostosura.
Paulo Roberto de Oliveira Caruso - Niterói – RJ
Por ser trovadora e médica,
tem orgulho acalentado;
montou clínica ortopédica
às trovas de pé quebrado!
Renata Paccola - São Paulo – SP
Orgulhoso, vence apostas,
pois sabe quem vai jogar,
e se dá bem nas respostas:
- Como vai? – Nem bem Neymar!
Modalidade: Poema Livre
1º Lugar: Maria Cristina Bonafé
São Paulo SP
CORES NOS OLHOS
Na face escrevo o que queria ser
A ficção mais linda,
o inventar do sonho no conto que finda
no rubro sorriso do bem-querer.
Na pálpebra, um traço preto escreve um texto,
um sorriso de delineador no rosto pálido.
Mas surge a vida de olhos abertos
a brotar uma secreta lágrima.
A gota extravasa, pinga sobre a saia...
Na pauta verídica, de utopia despida,
o traço preto derrete, escorre.
Exibe a emoção aflita
no roteiro sem argumento
impresso no borrão desconexo
Mas vem o removedor que limpa
para escrever novo roteiro.
O olhar nu segue
a redigir a garra da vida.
Novo texto na face, com cores sortidas
para começar nova história.
Era uma vez uma menina...
na mulher que a olha.
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2º Lugar: Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba – SP
BASTIDORES
O espelho está cansado
de contar as minhas rugas
de abandono, de saudade
e de velhice.
Os sulcos verticais
que descem dos meus olhos
são leitos lacrimais extintos.
Às vezes necessito ir embora,
mas desisto:
o espelho me convence
a mais uma maquiagem.
E assim eu vivo
restaurando a minha face
sem ainda encontrar uma maneira
de cerzir a minha alma.
E assim eu morro
mergulhada em meus segredos...
Ninguém precisa
saber meus silêncios.
3º Lugar: Lília Maria Machado Souza
Curitiba – PR
APRENDIZ
De seus seis anos
observa a mãe se arrumar.
Sombra e rímel
lápis e blush.
Com brilho nos olhos
aguarda: o batom.
Cada dia uma cor.
Sorri deslumbrada.
-- Mamãe, você está linda!
-- Estou, amor?
-- Está mais linda, mamãe!
Mamãe tem que ir.
Troca abraços e carinhos
com a ridente pequena.
Dá-lhe um beijo vermelho
na ponta do nariz.
A menina corre ao espelho.
Olha-se demoradamente.
Sorrindo, sonha...
Um dia será moça.
Usará maquiagem.
Já sabe cada passo.
Será tão linda
quanto a mamãe.
E terá uma filhinha
que a observará e lhe dirá entre sorrisos:
Mamãe, você está linda!
Modalidade: Soneto
1º Lugar: Pedro Ornelas
São Paulo
NA PALESTINA
Ao pó da estrada exposto e ao sol crestante
da velha Palestina, em tempo antigo,
nunca faltava alguém que desse abrigo,
ao longo da jornada, ao caminhante.
E além da provisão que era abundante
-pão, frutas, leite, vinho, azeite e trigo –
um serviçal, do andejo, em gesto amigo,
lavava os pés, num banho refrescante.
Mas, certa vez, lavando os pés foi visto
de doze servos, por quem deu a vida
um grande Rei a quem chamavam Cristo,
Nunca entendeu, no entanto, a humanidade,
a plena essência da lição contida
naquele incrível gesto de humildade!
2º Lugar: Jerson Lima de Brito
Porto Velho – RO
HUMILDADE
O aprendizado é meta conhecida
De quem, travando luta corriqueira,
Enxerga na imodéstia a carcereira
Dos sonhos, alimentos desta vida.
Às vezes, é preciso que a fronteira
Entre verdades seja suprimida
E prevaleça aquela desprovida
De falhos fundamentos, traiçoeira.
O ser humano, sábio e renitente,
Persegue a perfeição e está ciente
De ser inatingível seu anelo.
Se à trilha falta claridade,
Mudar o rumo é prova de humildade
E não de covardia, no duelo.
3º Lugar: Pedro Ornelas
São Paulo – SP
CONSELHOS
Bem cedo, da relva pisando no orvalho,
enxada nas costas, moringa na mão,
meu pai, pelo trilho, eu ainda pirralho,
na frente dos filhos puxava o cordão.
Chegava a colheita dobrava o trabalho!
Depois tinha festa na casa de chão.
“ A Luta é o caminho... Não busque um atalho”.
Meu pai, pelo exemplo, ensinou-me a lição.
“Cultiva a humildade!”, foi sempre o conselho,
Dizia e fazia, servindo de espelho,
Guiando seus filhos na trilha do bem.
Agora esse tempo bem longe já vai,
E aquelas lições que aprendi com meu pai,
Meu filho, eu espero que aprendas também!
Modalidade: Crônica
1º Lugar: Rogério Amaral de Vasconcellos
Piedade – RJ
TRISTE FIM DE UMA SARDINHA
Estamos no ano 1556 na nova era.
A era podia ser nova, mas as cabeças eram velhas.
Sendo a humildade, um artigo escasso, os conquistadores faziam o mesmo papel de sempre: chegar, tomar e catequizar.
Pelo menos foi o que pensou o bispo Pedro Fernando Sardinha, o primeiro do Brasil. Seria somente mais um trabalho, a serviço de Deus, a serviço da Igreja, digo, a serviço de religião qualquer que servia ao deus do interesse, eleito pela maioria, mesmo que nem houvesse ou fosse tão incipiente a democracia naquela época.
Humildade mais comum estava em aceitar que os ímpios deviam se jogar no chão e idolatrar os conquistadores, pois a verdade estava com eles.
Mal sabia a sardinha que naquele rio infestado de piranhas e mar por tubarões, jacarés e iaras nadavam de costas.
Pois é.
Mesmo sendo intolerante à carne, com um estômago fraco, Sardinha, sempre frugal em suas refeições, tinha o fator genético e a palidez certa para se mostrar um bem fornido chouriço. O menear da bunda farta, sob a batina, ajudou os nativos a associarem o invasor, sempre cercado de homens blindados, com lanças, escudos, arcabuzes e espadas, como um alimento pastando tranquilamente no piquete.
Sim. Eles viram na sardinha a presa, uma forma de churrasco coletivo que aldeia, através de seus estômagos, aspiraria degustar e, por associação, tornar-se tão resiliente aos perigos lançados nas costas das terras deles pelo refluxo das marés.
A sardinha, o salmão brasileiro, se foi. Nem deu congestão. Abundante em ômega-3, conformou os curumins, aprendizes de antropófagos.
Pelo menos essa foi a versão terrível contada pelos brancos (tirando o ômega-3), servindo de pretexto para o ataque aos índios caetés, em época na qual a palavra pretexto tinha contexto hermético. Mas havia outra mais em voga e popular: chacina. E mais uma ...
Intolerância.
E onde fica a humildade nisso? Em reconhecer nossa limitação.
2º Lugar: Amélia Marcionila Raposo da Luz
Pirapetinga –MG
GUARDASSOLI
Dona Zizinha mandar Ataliba, moleque de quintal, ir à venda no arraial buscar quitandas. Encomendara várias coisas e deu-lhe alguns trocados a mais e um velho e desbotado guarda-sol porque ameaçava chuva forte. Ataliba, chapéu de palha, camisa de zuarte xadrez, calça de brim barato, remendada, herdada do irmão mais velho, arrumou-se assim vestido em “gala” e montou a égua chamada Baiana saindo em disparada. No meio do caminho parou no pomar vizinho do João do Zeca e esqueceu-se da vida saboreando frutas diversas. De nada adiantou o pedido da patroa para que ele voltasse cedo porque o tempo estava zangado.
Demorou, demorou escutando as prosas nas portas das vendas do Joaquim Candinho, do Antônio Bifano, do português Porfírio Fernandes e da padaria do Miguel Marino. A tarde caiu, a noitinha chegou e ele só apreciando as coisas diferentes do arraial nem percebeu que a chuvarada chegava violenta, derrubando árvores, levando os telhados.
Desceu o temporal! Horas e horas depois chegou no sítio do Valão da Caçada ensopado e tremendo de frio, todo apressado com as quitandas encharcadas dentro do bornal de algodão branco, bordado com linha Corrente colorida, tendo uma ilustração de ramos de trigo maduro e a palavra PÃO em ponto cheio. Roscas e pães enormes, inchados dentro do saco alvejado. Tudo perdido!
Dona Zizinha muito brava perguntou, aflita, sem saber o que comer no café da noite:
- Ataliba, seu molequinho danado, por que você não abriu o guarda-chuva e num voltou mais cedo? ?? Essa sua mania de escutar assuntos nas portas tem que acabar!!!
Ao que ele respondeu dentro da sua inocência:
- Uai, a “inhora” “ falô qui” era “guardassoli”!!! “Si” a “ inhora” tivesse falado “qui” era guarda-chuva eu tinha “abrido”. “Pru” causa “diss tô ansim”, todo “ moiado”.
E o Ataliba, tão pobre e humilde foi para a beira do fogão à lenha para se esquentar ouvindo o sermão da Dona Zizinha que não parava de ralhar com ele, colocando batata-doce no braseiro para servir café.
Êta vidinha dura, sô!!
3º Lugar: Cássio Roberto Gonçalves Pereira
Londrina – PR
A MÁSCARA
A máscara, meu senhor, pelo amor de Deus, a máscara, exclamou pela terceira vez, já exaltado, o motorista do ônibus metropolitano para o passageiro, um senhor de uns 70 anos, que entrara no veículo apenas com a boca protegida pelo tecido. Envergonhado diante da atenção repentina dos outros passageiros, que também se puseram a ajeitar as próprias máscaras, o senhor encobriu o nariz, pediu desculpas e apontou para as orelhas onde jazia um par de aparelhos auditivos. Não escuto direito, revelou.
Era um homem simples e elegante. Dos cabelos tingidos e cuidadosamente penteados para trás escapavam poucas raízes brancas. O paletó preto, a camisa listrada disposta dentro da calça, o cinto e o chapéu marrons, nada em seus trajes era novo, mas o conjunto demonstrava raro asseio. O ônibus já andava e pelas janelas desfilavam as fachadas multicoloridas da cidade grande, os muros pichados de garranchos, o jovens em curtos trajes, as ruas esburacadas, os carros enfiando-se nos menores espaços de forma a abreviar-lhes o destino.
O senhor olhava inquieto para os passageiros vizinhos e, estabelecido o primeiro contato visual, começou a narração. Na sua época, as senhoras eram mais elegantes, os carros diferenciados, as ruas mais limpas, as tardes mais longas, as canções mais belas... Professor aposentado de Filosofia. Casara e fora muito feliz: “ela iluminava os meus dias”, sorria. Não tiveram filhos, apenas cães aos quais, por diversão, davam nomes de gente. Fomos muito felizes, repetia. Os tempos eram outros: as pessoas olhavam-se nos olhos, tinham cultura, educação, ah como eram bons aqueles tempos!
A esposa falecera há 6 meses. Restara-lhe apenas o cão, Oswaldo, muito debilitado pela idade. O veterinário revelara que o bicho sentia muitas dores, pedira que considerasse o sacrifício. A princípio, abominara a ideia - onde já se viu matar? Hoje reconsidera: se o velho cão sofre porque não antecipar-lhe o alívio? O mundo mudara terrivelmente, não tem a mesma graça, nem café tem mais gosto de café. Por que não?
Da inquietação à melancolia, o olhar distante de quem busca na noite da mente palavras que lhe formatassem o espírito. “Só nos resta a humildade. Humildade perante a vida, o humildade perante o tempo, humildade perante a morte. As coisas começam. Crescem e logo terminam”, disse finalmente. “Talvez seja melhor antecipar o alívio”. O nariz estava novamente fora da máscara. O ônibus lotado avançava.