TROVANDO - Olympio Coutinho

www.falandodetrova.com.br

Olympio da Cruz Simões Coutinho é jornalista radicado em Belo Horizonte. Trovador dos bons, remanescente da era de Luiz Otávio, Eno Teodoro Wanke,
Aparício Fernandes e tantos outros, retorna agora em 2008 às lides trovísticas.

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     A Trova, quatro versos de sete sílabas, rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto, é um dos ramos da poesia mais difundidos no Brasil. Embora o movimento trovadoresco não receba maior atenção da chamada “grande imprensa”, são milhares os trovadores que, diariamente, produzem trovas de elevada inspiração e que se reúnem nas mais variadas regiões do País em solenidades de entrega de prêmios de centenas de concursos de trovas que ocorrem durante todo o ano.

     Nos chamados “anos dourados” (de 50 a 60) era comum ver nos cadernos dos adolescentes, principalmente das adolescentes, o registro de quadrinhas, algumas vezes sem o nome do autor, que, desta forma, se tornavam populares. Neste período, a trova era muito cultivada e poetas como J. G. de Araújo Jorge e Luiz Otávio, ao lado de muitos outros, lideravam o movimento, com a promoção dos primeiros “Jogos Florais” (concursos de trovas), além da edição de antologias, coletâneas e livros de trovas.

     Nesta época, jornais como ”O Globo” e “O Jornal” (dos Diários Associados) davam certo destaque às trovas. No “O Globo”, Antônio Olinto tinha coluna chamada “Porta de Livraria”, onde, além de notícias literárias, dava cobertura aos Jogos Florais, publicando as trovas classificadas; além dele, Helena Ferraz publicava a coluna “Na Boca do Lobo”, onde sempre saía uma trova na seção “Quadra no Quadro”. No “O Jornal”, Elza Marzulo e Symaco da Costa publicavam colunas onde a trova sempre aparecia com destaque. Na Rádio Globo, Aparício Fernandes mantinha programa de divulgação das trovas e de novos trovadores. Na Bahia, Rodolfo Coelho Cavalcanti editava um jornal de trovas e muitos outros trovadores, nos mais variados recantos do País, também se encarregavam de divulgar o movimento trovadoresco.

     Nesta mesma época, já na década de 60, devido ao grande movimento trovadoresco, surgiu a União Brasileira dos Trovadores (UBT), hoje com ramificações em praticamente todo o Território Nacional, em capitais e no interior dos Estados. Em Belo Horizonte, surgiu a Academia Mineira de Trovas, ainda em funcionamento. A UBT expandiu-se e muito contribuiu e tem contribuído para a expansão do movimento. Anos mais tarde, com a Internet, surgiram sites especializados, sendo o www.falandodetrova.com.br um dos principais. Criado por José Ouverney, de Pindamonhangaba (SP), faz grande divulgação da trova e dos concursos.

     Este texto é para abrir uma coluna que passaremos a publicar neste jornal a partir desta edição, dirigida principalmente aos trovadores, mas aberta à participação de todos que se interessam por literatura, poesia e trovas, principalmente os adolescentes, lembrando que fazer trovas representa um excelente exercício para aqueles que buscam aumentar o seu vocabulário, além de um prazeroso entretenimento.

Trovas de gente famosa

Por mais que minhas palavras
transbordem em desacatos,
não deixe, meu coração,
que eu as transforme em atos.
Shakespeare

Quebre-se o cetro do Papa,
faça-se dele uma cruz,
que a púrpura sirva ao povo
pra cobrir os ombros nus.
Castro Alves

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor não há nada:
amor é o sumo da vida.
Carlos Drummond de Andrade

Sou mais alta que esse morro,
mais vasta que aquele mar...
Há muito que me percorro
sem me poder encontrar.
Cecília Meirelles

O coqueiro todo em palmas
beija o cinamomo em flor...
Imagem de nossas almas
unidas no mesmo amor!
Alphonsus de Guimarães

Trovas do colunista

Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim:
só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim.

Quando você se encontrar
talvez não me encontre mais;
os tempos do verbo amar
são só agora ou jamais.

A paz está baseada
num conceito natural,
só pode ser alcançada
com justiça social.
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NOTA DO EDITOR DO SITE: algumas trovas acima transcritas ainda foram compostas nos antigos padrões, com rimas simples (apenas o 2º com o 4º verso. Para concursos atuais, é obrigatório que se rime também o 1º com o 3º verso, alteração ocorrida do meio da década de sessenta para cá).