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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)
MINHAS MAIORES TROVAS ALHEIAS
de Jorge Azevedo
Das 119 trovas escolhidas por Jorge Azevedo e incluídas por ele em seu livro “Caderno de Lembranças”, menciono aqui, por conhecer mais de perto os seus autores, as seguintes:
Trouxe um cheque de esperança
Ao nascer para este mundo.
Resolvi pô-lo em cobrança:
- O cheque não tinha fundo...
A.A. de Assis
Quando eu era pequenina,
Brincava com a Vida, amigo:
- Hoje, imitando a menina,
A Vida brinca comigo...
Ana Ataíde F. da Silva
... e disse Deus: “Que não seja
o homem só, onde estiver...”
- E sua mão, benfazeja,
deu ao homem - a Mulher!
Lucy Sother A. da Rocha
Minha sogra é mesmo o fim.
Eu falo e sinto vergonha:
- Duvida tanto de mim
que acredita na cegonha...
Antônio C. T. Pinto
O meu destino se encerra
Num grave e eterno conflito:
- Meu corpo é feito de terra,
Meu coração, de infinito.
Eno Theodoro Wanke
Não há sábio que se gabe,
Porque sabe, a qualquer hora,
Que aquele que diz que sabe
Não sabe quanto ignora!
Jacy Pacheco
Até num erro há nobreza
Se com teu pranto o reparas:
- Mesmo a lama tem beleza
No fundo das águas claras...
Orlando Brito
Desconfio que a velhice
Chega sempre bem depressa
Quando se faz a tolice
De pensar que ela começa...
Vasques Filho
Não há nada mais seguro:
- Para ser valorizado
Deve o homem ter um futuro
E a mulher não ter passado...
Soares da Cunha
Uma alma inteira se aninha
Nisto que o mundo despreza:
- Uma flor muito sequinha
Dentro de um livro de reza.
Djalma Andrade
Ah, se eu pudesse saber
Qual a mulher que ele quer...
Que não iria eu fazer
Para ser essa mulher?
Magdalena Léa
Minhas cantigas de agora
Inda vêm da mocidade:
- O sol do amor foi-se embora,
Ficou-me o luar da saudade...
Almeida Cousin
Alma, que sonhas na altura,
Vendo a beleza dos astros:
- Tornas maior a tortura
De andar na terra de rastros.
Hélio C. Teixeira
Eu nasci como a gaivota,
Junto do mar, entre escolhos:
- Por isso é que não se esgota
A água do mar em meus olhos...
Humberto de Campos
Abro aqui um parêntese para registrar trova de minha autoria, que fiz, encantado, com a beleza composta por Humberto de Campos. Que me perdoem os leitores:
Eu nasci em Uberaba,
Longe do mar e de abrolhos.
Mesmo assim jamais se acaba
A água salgada em meus olhos.
Isto é que é amizade,
O resto é pura tolice:
- Abraçado com a Saudade,
Caminho para a velhice...
César de Almeida
Saudade – carro de boi –
Cantando, lá na distância,
Na estrada que um dia foi
Caminho da minha infância...
Geraldo P. de Morais
Saudade é prolongamento
De um espírito afastado:
- Vive longe, no momento,
E está sempre ao nosso lado...
Corrêa Vilela
Todos lá tem o seu santo,
Curador de enfermidade:
- Ninguém conhece, entretanto,
Santo que cure saudade...
Floriano de Lemos
Os momentos mais felizes
O velho Tempo os levou:
- Só não levou cicatrizes
Da saudade que ficou.
Analice Feitoza de Lima
Saudade – uma vida cheia
De outra vida que passou:
- Marca de passos na areia
Que o tempo não apagou...
Ferreira Gullar
“E por falar em saudade”, eu estou me lembrando do Mestre Waldir Neves, enorme trovador e mais do que tudo admirável caráter, que, certa manhã, me telefonou lá do Rio de Janeiro para acusar recebimento de um dos meus livros de trova, que lhe tinha enviado, recitando-me esta simplesinha de minha autoria:
A saudade é feridinha
Que nunca chega a sarar.
Vai-se formando a casquinha,
E a gente põe-se a coçar.
Mestre Waldir, você está bem? E como vão o José Maria e o Miguel Russowsky?
Abraços fraternos do Fabiano.
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