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HERANÇA POÉTICA
Colaboração de Maria Thereza Cavalheiro para o site www.falandodetrova.com.br
TROVAS VARIADAS - (Homenagem a JORGE AMADO) - agosto 2017
Agosto é o mês de nascimento e de morte do escritor Jorge Amado: nasceu há 105 anos, na Fazenda Auricídia, em Ferradas, Município de Itabuna-BA, em 10.8.1912. Faleceu em 6.8.2001, em Salvador-BA, às vésperas dos seus oitenta e oito anos de idade, a pouco mais de um mês da 28ª jornada Internacional de Cinema, em Salvador, quando seria homenageado pelos filmes baseados em sua obra.
Vinda de Salvador-BA, com data de 9.2.1971, a colunista recebeu relevante correspondência do escritor Jorge Amado, um dos mais destacados nomes de nossa literatura, com 40 livros publicados, que assim dizia: “Maria Thereza, desculpe esta resposta tão tardia: estive viajando na Europa e apenas cheguei em dezembro, fui para o Rio, de onde só agora regresso. Junto vão duas linhas sobre a trova, atendendo ao seu pedido. Um abraço amigo (a.”)
O renomado Escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, embora não tivesse marcado seu caminho como poeta, sempre pôs muita poesia em sua prosa, em inolvidáveis romances, cheios de emoção e ternura. E, sem ser trovador, deixou seu nome indelevelmente ligado à trova, pelo depoimento que deu à colunista sobre esse gênero poético, publicado pela primeira vez no jornal “Última Hora” de São Paulo (extinto), na coluna “Trovas”, de 22.4.1973, e já muitas vezes repetido por todo o Brasil.
Declarou Jorge Amado em seu memorável depoimento: “Quem quiser que diga que trova é um gênero menor de poesia. Para mim não há gênero menor nem maior; sendo o poema belo, não importa o gênero. Ele é maior pois nada existe de comparável à poesia. Quanto à trova, não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo. É através da trova que o povo toma conhecimento e contato com a poesia e sente sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais (a) Jorge Amado”.
Eis trovas de alguns poetas que já partiram para outra esfera:
Teu corpo claro e perfeito,
teu corpo de maravilha,
quero possuí-lo no leito
estreito da redondilha...
MANUEL BANDEIRA
Que o amor é uma angústia enorme
sei porque amores já tive...
Quem tem amores não dorme,
mas quem não ama não vive!
MENOTTI DEL PICCHIA
No porto da longa vida,
aportam longas idades;
os barcos chegam da lida
e descarregam saudades.
ABGUAR BASTOS
Quando ris, um passarinho
sai cantando do teu riso,
para mostrar-me o caminho
que conduz ao paraíso.
MURILO ARAÚJO
Quer ser feliz? Então siga
a minha vida bizarra,
que tem muito de formiga
e ainda mais de cigarra...
LUIZ OTÁVIO
Desta saudade o vazio
parece que até traduz
um velho teto sombrio
filtrando um raio de luz!
APARÍCIO FERNANDES
Apesar dos desenganos,
de tanta desilusão,
nós sempre temos vinte anos
num canto do coração.
COLOMBINA
Achei-te tal diferença
quando de novo te vi,
que, estando em tua presença,
tive saudade de ti.
ANTÔNIO SALES
Do berço à tumba há um caminho
que todos têm de transpor:
- De passo a passo, um espinho...
- De légua em légua uma flor.
BELMIRO BRAGA
Oh! Linda trova perfeita
que tanto nos dá prazer!
- Tão fácil depois de feita...
Tão difícil de fazer...
ADHELMAR TAVARES
A vida é apenas um traço
com jogos de sombra e luz,
que partindo de um regaço
vai terminar numa cruz.
VERA VARGAS
Neste mundo passageiro,
considera, meu irmão:
a cinza do corpo inteiro
cabe na palma da mão.
ANTONIETA BORGES ALVES
Nos jazigos, pensativos,
os mortos hão de chorar,
sabendo que há muitos vivos
sem ter onde se abrigar.
LILINHA FERNANDES
Mais forte que a voz do rei
é a voz do homem da rua.
O rei passa, passa o rei,
mas o povo continua.
SÓLON BORGES DOS REIS
Nosso amor foi tão bonito,
tamanha foi a ventura,
que, dentro da alma, acredito
além da vida perdura...
ZÊNITH FEITOSA
Por duas Marias erra
meu viver de déu em déu:
- a que me perde na terra,
- a que me salva, no céu.
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Quando a alma do poeta se inflama
e no estro o verso reluz,
a poesia é fogo, é chama,
e a trova um pingo de luz.
BARRETO COUTINHO
A Natureza revida
com amor aos agressores,
e lhes dá, por despedida,
o caixão, a cruz, as flores.
ORLANDO BRITO
Vou pelo braço da noite
levando tudo que é meu:
a dor que os homens me deram
e a canção que Deus me deu.
CECÍLIA MEIRELES