TRÊS QUESTÕES LIGADAS À TROVA

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TRÊS QUESTÕES LIGADAS À TROVA

 Thalma Tavares

 

 

Trova Filosófica e Novos Trovadores:

 

Francamente não entendo a razão desta implicância contra a trova filosófica. Não vejo como pode ser “blindagem” para quem não sabe escrever outros gêneros, como quer o sr. Nilton Manuel. A escolha do gênero está ligada ao gosto, à natureza e até à personalidade do trovador. Acredito que ninguém usa a trova filosófica para esconder sua incapacidade de compor trovas líricas ou humorísticas. Com raras exceções, os trovadores que fazem trovas filosóficas, que eu conheço (e não são poucos), também sabem compor ótimas trovas líricas e humorísticas. Há realmente os que se adaptam mais a um determinado gênero, o que não significa que sejam incapazes de compor em outros gêneros. Eu, por exemplo, não tenho a verve humorística, mas já fiz algumas trovas humorísticas que mereceram boa classificação.

Sou contra a afirmação de que a trova filosófica afasta o povo e os novos trovadores dos concursos, do movimento trovadoresco. Ninguém que promove oficinas e concursos exige dos novos que façam trovas filosóficas. Isso é uma questão de tempo, aprimoramento e escolha pessoal.

Um ótimo exemplo de que a trova filosófica não atrapalha ninguém, é que o tema dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, deste ano, foi INCLUSÃO. Escolhido – corrija-me se me engano-  com vistas à “Trova Cidadã”; tentativa talvez de criação de um novo gênero que sempre foi objeto da trova filosófica. E como era de se esperar, entre as 15 laureadas, 90%  são ótimas trovas filosóficas de profundo sentido social e fraterno.  

  

O Povo, a Trova, a Internet

 

O povo, por sua vez, se quisermos a verdade, nunca se ligou em trovadorismo. Todos sabemos que quem cultiva a poesia e a trova neste país é uma minoria, infelizmente. O número de trovas que andam na boca do povo, não dá testemunho de popularidade. E todo o esforço feito até hoje para que ela se tornasse realmente um gênero popular, não logrou ainda o êxito esperado. E é aí que entra a Internet; o veículo hoje mais apropriado para tornar a trova, como é praticada na UBT, um gênero realmente popular. Terá êxito sim, como já vem demonstrando, mas deve primar sempre pela qualidade em concursos promovidos e coordenados por quem de fato entende de trovas, sem precipitação, dentro dos prazos ideais que não devem ser inferiores a 90 dias, a depender, é claro, da  abrangência do concurso. E aqui louvamos o idealismo, a iniciativa e o esforço dos promotores dos concursos via Net, em que temos participado como julgador de alguns deles. 

 

Qualidade da Trova:

 

            Em 1988, início de minha gestão como presidente da UBT-Seção São Paulo, fiz uma viagem ao Rio de Janeiro e aproveitei para visitar o presidente da UBT-Nacional, o saudoso trovador Carlos Guimarães. Voltei dessa visita com minha bagagem de iniciante recheada de preciosas informações sobre a trova, que me ajudaram como trovador, coordenador e julgador de concursos.

            Carlos Guimarães, com o seu entusiasmo sereno, dissertou sobre a importância da trova como uma das expressões da arte poética; mensageira de sentimentos como o amor, a paixão, a alegria, a dor, a mágoa, a inconformação, a denúncia, o protesto, etc. Enfatizou o valor do “Achado”; criatividade cujo exercício nos mostra a diferença entre o lugar-comum e o inusitado que confere à mensagem surpresa e ineditismo.  Aconselhou-me a evitar o excesso de erudição e artificialidade, evitando a impressão do exibicionismo, usando expressões singelas, mas em linguagem gramaticalmente correta, o que não significa que só os gramáticos possam fazer trovas de qualidade.

            Depois, pela análise que passei a fazer das trovas premiadas em concursos, concluí que as orientações a mim passadas naquela manhã, pelo presidente nacional e referendadas por outros experientes trovadores,  uma vez somadas ao talento e à inspiração do trovador, resultam no que conhecemos por Trova de Qualidade que, aliás, não é privilégio exclusivo dos veteranos, magníficos ou grandes trovadores, como insinuam alguns inconformados com o sucesso destes, mas de todo aquele que tem um conhecimento razoável, um mínimo de talento, humildade para aprender e muito amor à Trova.

            É a minha opinião.

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THALMA TAVARES, pernambucano, já foi presidente municipal e estadual da UBT São Paulo. Reside hoje em São Simão e é uma das vozes mais coerentes do Movimento Literário chamado Trova.