Iraci do Nascimento e Silva - Rio de Janeiro

     IRACI DO NASCIMENTO E SILVA  nasceu em Natividade/RJ, no dia 17 de julho de 1913, filha de Francisco Soares do Nascimento e Maria Mendes do Nascimento. Professora, trovadora muito premiada.  Morava no Rio de Janeiro.

Do amor a definição
varia, conforme a idade:                       (Nova Friburgo, 1960)
Diz o moço: é sedução!
Dirá o velho: é saudade.

Perdoe-me Deus, por piedade,
se peco por pensamentos                        (Nova Friburgo, 1961)
- deve haver muita saudade
quebrando a paz dos conventos...

Sou ciumenta, não minto,
e é bom que saibas, meu bem:               (6º lugar em Nova Friburgo - 1962)
o que for meu, não consinto
que seja de mais ninguém.

Revela orgulho, esperança                (9º lugar em Juiz de Fora, 1962)
nos olhos cheios de brilho,
quem aponta uma criança,
dizendo ao mundo: - É meu filho!

Na vida há céus constelados            (1º lugar em Petrópolis - 1965)
e cardos pelos caminhos...
- E há poetas deslumbrados
pondo estrelas nos espinhos!...

Mesmos sonhos... mesmas rotas,      (3º lugar em Petrópolis - 1968)
no recado universal
da união de sete notas
sobre a pauta musical!

Meu Deus, abençoa o espinho,        (1º lugar em Maringá - 1972)
a raiz, o fruto, aflor,
o galho que embala o ninho
e o ninho - berço do amor!

Procuro uma ilha, apenas...        (9º lugar em Santos - 1980)
Somente uma ilha, mas...
...onde as gerações pequenas
pudessem crescer em paz!

Bendigo a paixão maldita
que sufoco em ânsia louca,
e mais forte ressuscita
quando beijas minha boca!

Amor se dá, não se vende,
não se compra, não se empresta...
Quem o compra, se arrepende;
e quem o vende, não presta.

Nossas almas se entrelaçam
de maneira singular:
quanto mais os anos passam,
mais juntas querem ficar!

Os lampiões embaçados
pelas garoas vadias
parecem olhos velados
chorando lágrimas frias.

Apesar dos desencantos,
conheci a felicidade.
Se andei perdida em meus prantos,
solucei em liberdade.

Quando as noites tecem tramas
nas ruas sem lampiões,
os beijos acendem chamas
na poesia dos portões...

Num pensamento bizarro,
estendendo o olhar a esmo,
em cada porção de barro
vejo um pouco de mim mesmo.

Saudade é vida, é promessa,
esperança que voltou
no minuto que começa
quando um minuto acabou.

Eu te quero tanto, tanto,
com tal ternura e perdão,
que os teus erros, no meu pranto,
são fontes de inspiração!

Bendita a mãe que gerou
e traz seu tesouro ao seio.
- Mais sublime, a que aceitou
ser mãe do tesouro alheio!

Nesta vigília, sem dono,
o que mais me desespera
foi não guardar para o outono
certa flor da primavera.

De mim não sai, não deserta,
este amor-contradição
que se contenta na oferta,
sem pedir compensação.

cegueiras de amor, meu Deus!
causaram meu desatino:
outros olhos, não os meus,
conduziram meu destino.

Não me apresso, nem me atraso;
vivo o destino da pluma:
se não me levar o acaso,
chegarei a parte alguma.

Nada lhe iguala em virtude,
vale bem mais que um perdão
aquela heroica atitude
de uma simples compreensão.

Saudade... retorno aflito
de um eco descontrolado
que devolve aquele grito
que se esbarrou no passado.

Cumprindo um destino incerto,
meu coração, em tormento,
parece um ninho deserto
rolando ao sabor do vento...

Quanta surpresa e desejo,
nos olhos do adolescente,
quando descobre que o beijo
nem sempre é beijo inocente!...

Minhas mágoas rotineiras,
espero, um dia, me soltem...
- Também soluçam goteiras,
até que as estrelas voltem!

Sozinha, ao sentir no rosto
marcas que o tempo deixou,
penso, às vezes, com desgosto,
que até Deus me abandonou!

Quando, no horto, surpreendeu
seus discípulos em sono,
Jeus foi homem - sofreu,
provando o fel do abandono!

A tudo renunciaria,
não temeria embaraços,
para ser tua um só dia,
por um só de teus abraços.

Escapando à vigilância,
há, sempre, um grupo vadio
que escreve o poema da infância
nas águas mansas de um rio!

Mercadora de ilusões,
misteriosa e requintada,
a noite oferta emoções
sob uma colcha estrelada...