José Messias Braz

     JOSÉ MESSIAS BRAZ, nasceu em 23 de setembro de 1936, filho de Oscar Braz Martins e Amélia Ap. Martins, entre suas inúmeras atividades foi diretor da Biblioteca Pública de Pouso Alegre de 2001 a 2004, onde residiu quase toda sua vida, até casar-se com a também poeta Vera Lima Bastos, de Juiz de Fora, para onde mudou-se e, após tornar-se viúvo, lá continuou residindo. Poeta muito humilde, de grande talento. Considerado, por Aprygio Nogueira, "um dos dez maiores trovadores de Minas Gerais".

Eu sou pequeno, seu moço,                         (1º lugar em Santos - 1987)
mas quando tiro o chapéu,
minha alma estica o pescoço
e enxerga Deus lá no Céu!

Cai a noite... e uma ansiedade,           (3º lugar "estadual" em Pouso Alegre - 1995)
no olhar materno e sombrio,
ronda um leito de saudade
que a guerra deixou vazio

No inverno longo e silente                (1º lugar "estadual" em Pouso Alegre - 1996)
que atinge a terceira idade
há um fenômeno envolvente:
não cai neve... cai saudade.

A esperança no horizonte
do estéril chão da viagem                       (M. Honrosa em Pouso Alegre - 1997)
reflete ao moço uma fonte,
que para o velho é miragem!

No aeroporto, o adeus, o abraço...              (Vencedora em Niterói - 2005)
e no olhar... rastros de dor!
– Lá se foi, rasgando o espaço,
uma promessa de amor!...

 

A trova, quando termina
em perfeita construção,
é uma casa pequenina,
com requintes de mansão!

A minha casa é um cantinho,
mas, na humildade do espaço,
tem a ternura de um ninho
e a proteção de um abraço!

Até na igreja, meu Deus,
quando ela passa ante os santos,
em rondas os olhos meus
vão bebendo os seus encantos!...

As folhas secas parecem,
sobre a poeira no chão,
ilusões quando fenecem
no fundo do coração.

Em rondas, meu coração,
tropeçando, aqui e ali,
bate em busca da ilusão
que nem sei onde perdi !

Cruzando céus escarlates,
ferido por estilhaços,
sou gigante nos combates
e criança nos teus braços!

Até mesmo a companheira,
minha sombra magricela,
sente falta da parceira
que caminhava com ela!...

Contemplo mamãe rezando...
e em seu olhar, tão bonito,
vejo a saudade buscando
uma ausência no infinito!...

Velha cabeça, onde os dedos
da ilusão tocam de leve,
és o outono dos segredos
que o inverno cobriu de neve!

Passarinhando ilusão,
pisei pomares tristonhos,
e trouxe da solidão
a renúncia dos meus sonhos.

De antigos mares eu venho,
vencendo fúrias e abrolhos,
buscar a paz que só tenho
na meiguice de teus olhos!

Com seu drama, a pobre infância,
abandonada e sem lar,
é uma aurora que a ganância
jamais permite raiar.

Vinde, andorinhas, no estio,
festivas, em tarde mansa,
pousar no último fio
que me resta de esperança.

Quando eu partir, quero alvores
de um sol tristonho de agosto... 
e a alegria de mil flores,
para enfeitar meu desgosto.