Lourdes Strozzi - Curitiba

       MARIA DE LOURDES ROCHA STROZZI nasceu no Rio de Janeiro em 17 de maio de 1922 e faleceu em 03 de junho de 2005, aos 83 anos.  Despontou para a vida literária em Ponta Grossa, mudando-se, mais tarde, para Curitiba. Era professora de português e jornalista. Além de poetisa e escritora, desenvolveu uma vida social intensa, chegando a receber uma medalha de ouro da Cruz Vermelha, por trabalhos em tempos de paz. Teve participação também na fundação do Banco de Olhos de Curitiba, cidade que tem uma de suas ruas com o nome desta trovadora.

Deus me fez uma vidraça
de cristal esplendoroso
que ninguém, jamais, embaça   (M. Especial Ponta Grossa/PR, 1988)
com seu hálito invejoso.

Minha vida é uma almofada     (M. Especial Niterói, 1987)
recamada de açucenas;
por fora - tão cobiçada,
por dentro - cheia de penas.

Bem sei que a ti não importa
que eu viva a mesma agonia
do cão arranhando a porta          (co-vencedora em Niterói - 1980)
de uma palhoça vazia...

Lealdade – uma utopia,
neste mundo mercenário,
somente achada, hoje em dia,     (3º lugar Bandeirantes 1978)
no cão e no dicionário.

Renúncia, medida extrema
que tomamos certo dia...
Hoje a saudade blasfema
contra a nossa covardia!

Nem mesmo o inverno mais triste,    (1º lugar Sete Lagoas/MG, 1978)
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.

No triste livro da vida,
cheio de paixões mesquinhas,    (8º lugar Pouso Alegre/MG, 1978)
a virtude é percebida
apenas nas entrelinhas...

Que tempo bom era aquele
que no tempo se perdeu;
quando meu sonho era dele
e o sonho dele era meu!

Lamentando meus fracassos
choro a prisão em segredo;
não tenho algemas nos braços,
apena uma... no dedo.

A chuva, sem cerimônia,
sem respeito nem piedade,
banha-me o corpo de insônia,
de desejo e de saudade...

Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.

Vence esse orgulho, castigo
que te aniquila e devora;
encosta-te a um ombro amigo,
tira essa máscara... e chora...

Ele respeitoso, eu fria,
naquele encontro fortuito;
ninguém, ao ver-nos, diria
que um dia amamo-nos muito...

O pranto, na mocidade,
qualquer brisa põe em fuga;
e o que restar de umidade
o toque de um beijo enxuga.

É na tarde que desmaia,
é numa canção dolente
que a saudade
se atocaia
para apunhalar a gente.

Este amor pecaminoso,
obstinado e cruel,
é um composto perigoso,
feito de veneno e mel.

Bem sei, a ti não importa
que eu sofra a mesma agonia
do cão arranhando a porta
de uma palhoça vazia...