Francisco Luzia Neto

     FRANCISCO LUZIA NETTO nasceu em São Paulo no dia 29 de julho de 1922. Foi um poeta completo: compunha com facilidade qualquer gênero. Apaixonado especialmente pela Trova, por vários anos, enquanto viveu, transformou a sua querida Amparo - cidade que o adotou - em glorioso reduto de trovadores. Vários livros lançados, entre eles: "Cantigas do Amor Distante"-trovas e "Musa Grisalha". Este último veio a lume no mesmo ano de seu falecimento, por uma iniciativa da "Casa do Poeta" de Amparo. Após sua partida, em 1998, sua filha Eliana Dagmar ainda continuou o trabalho do pai até 2006, quando, então, infelizmente, Amparo distanciou-se do mapa trovadoresco.  Faleceu em Amparo no dia 26.10.1998.

Ninguém sabe mais que a lua
sobre a união que há na praça:    (M. Honrosa Pinda, 1998, tema "União")
pobres meninos de rua
unidos pela desgraça !

Criança triste, infeliz,
que na rua pede esmolas,
retrata bem um país
que sente fome de escolas!

Nem sempre existe alegria
na boca em que o riso é posto.
Houve um tempo em que eu sorria
para ocultar meu desgosto.

Uma rua de importância
menor que minha orfandade,     (M. Especial Bandeirantes 1996)
já foi meu jardim da infância
e minha universidade.

Na terra que a gente lavra      (Vencedora SP, 1998)
sob a luz de uma doutrina,
às vezes uma palavra
é a semente que germina!

Perdoa, meu pai, perdoa
se na “droga” eu me escravizo...    (Vencedora SP, 1998)
Tua semente era boa,
o que faltou foi juízo!

Na ampulheta sempre cheia,      (Vencedora "Museu Pe. Anchieta/SP, 1998)
num escorrer permanente,
as horas são grãos de areia
contando o tempo da gente!

Meu pião... o lugarejo
da minha infância brejeira...       (M. Honrosa Niterói, 1997)
Com que saudade eu me vejo
tirando os s da fieira.

 

Se teu sucesso, meu filho,             (9º lugar Ribeirão Preto, 1993)
desperta inveja, aversão,
lembra que é próprio do brilho
projetar sombra no chão!

Foi de mentira, ela disse,     (Menção Especial Valença, 1991)
o beijo dado lá fora...
Ah! que bom se ela mentisse
sessenta vezes por hora!

Partiste... e languidamente   (Menção Especial Bandeirantes, 1965)
perdi-me na multidão...
Meus olhos cheios de gente,
meus sonhos, de solidão.

Quando as vozes da distância
falam de um bravo que cai,      (7º lugar I Conc. Ilha do Governador, 1964)
de pronto eu retorno à infância
e ali te encontro, meu pai!

Quem faz a velhice amarga
não são os anos vividos,
mas, sim, o peso da carga
dos desenganos sofridos.

Seja um palácio ou tapera,
piso de pedra ou de argila,
em casa onde o amor impera
até cascalho cintila!

 

UMA  DE  HUMOR

Juquinha, bisbilhoteiro,
vendo a irmã com o namorado:
- O senhor ainda é solteiro,
ou é, como o outro, casado?