A. A. de Assis (autor da Missa em Trovas")

        ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS, filho de Pedro Gomes de Assis e Maria Ângela Guimarães de Assis, nascido em São Fidélis-RJ em 07 de abril de 1933 e há muitos anos radicado em Maringá-PR, é um brilhante remanescente da escola "luizotaviana". Trovador no mais amplo sentido, seja como autor de belas trovas, seja como batalhador incansável pelo Movimento. Pratica todas as modalidades poéticas. É autor da célebre "Missa em Trovas".  Nessa mesma "Biblioteca" há vários livros virtuais de sua lavra.

 

TROVAS LÍRICO/FILOSÓFICAS

01
Sinto os meus sonhos murchando,
perdendo a cor e a fragrância...
- Meu Deus, estou precisando
de uma transfusão de infância!

02
Amai-vos, e as derradeiras
muralhas hão de cair.
-- Havendo amor, as fronteiras
não têm razão de existir!

03
Na biblioteca há mil sábios
a nosso inteiro dispor.
-- Sem sequer mover os lábios,
cada livro é um professor.

 

04
O grande tenor se cala
ante o pássaro silvestre:
- é o discípulo de gala
querendo escutar o mestre!

05
Lembranças, velhas lembranças,
quantas lembranças cultivo...
Na falta de outras heranças,
é delas que eu sobrevivo!

06
A vida jamais se encerra...
e é bom sermos imortais.
- Amar você só na Terra
seria pouco demais!

07
Nas costas leva a criança
seus livros numa sacola;
nos olhos, leva a esperança
como colega de escola!

08
O livro é o portão de acesso
à liberdade e ao saber.
E nem sequer cobra ingresso:
basta abri-lo, entrar... e ler!

09
Na porta da eternidade,
documento não tem vez.
- O cartão de identidade
é o bem que em vida se fez!

10
Benditas sejam as vidas
que, alegres, serenas, santas,
vivem a vida envolvidas
em levar vida a outras tantas!

11
Deus fez a Terra... e, ao fazê-la,
deu-lhe o toque comovente:
fez o céu para envolvê-la
num pacote de presente!

12
A natureza protesta
sempre que alguém a maltrata:
- Se matas uma floresta,
vem o deserto e te mata!

13
Valente, o verde resiste
à foice, ao fogo, ao trator.
É a vida que, dedo em riste,
enfrenta o seu matador!

14
Dói muito ver um canário
cantando humilhado e triste
em troca do vil salário
de um punhadinho de alpiste!

15
Tão bela, tão generosa,
símbolo eterno da paz,
pede desculpas a rosa
pelos espinhos que traz!

16
Ouço ainda, ao longe, o canto
de um velho carro de boi...
Lembrança de um tempo e tanto,
que há tanto tempo se foi!

17
De dia caleja a palma
o irmão que cultiva o chão.
De noite alivia a alma
nas cordas de um violão!

18
O fruto é um santo produto
do mais generoso amor.
Por isso é que antes de fruto
quis Deus que ele fosse flor.

19
Belo sonho o que aproxima
estrelas e pirilampos...
- Elas são eles lá em cima;
eles são elas nos campos!

20
Um vaga-lume, isolado,
é só uma pobre luzinha;
no entanto, aos outros somado,
clareia a roça inteirinha!

21
Quantas bênçãos traz a chuva
quando rega a plantação:
benze o trigo, benze a uva,
benze a vida em cada grão!

22
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio...

23
Mesmo soltas e espalhadas,
as pétalas são formosas;
porém, somente abraçadas
é que elas se tornam rosas!

24
Ó Deus, que nos deste a flor,
e as crianças e as estrelas,
dá-nos agora, Senhor,
a graça de merecê-las!

25
Jogado no mundo, ao léu,
rezava o orfãozinho assim:
- Cuida bem, Papai do Céu,
dos que não cuidam de mim!

26
Brincam na praça os pequenos:
castelos, canções, corrida...
São seus primeiros acenos
aos grandes sonhos da vida!

27
Importa pouco a mobília,
importa pouco a fachada...
O amor que envolve a família
é só o que importa, e mais nada!

28
Ah, meu rio, de repente,
o que foi feito de nós?
Ficou tão longe a nascente...
vemos tão próxima a foz!

29
No pico da quarta idade,
o quadro se faz assim:
ou se crê na eternidade,
ou se põe na tela: "Fim"...

30
De barro se faz o homem,
e de luz principalmente.
O barro, os anos consomem;
a luz eterniza a gente!

31
Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela...

32
Olhem a rosa os que ainda
costumam dizer-se ateus.
- Ela é a resposta mais linda
quanto à existência de Deus!

33
A vida no mundo é um treino,
a etapa em que o Treinador
nos prepara para o reino
definitivo do amor!

34
Certeza só têm os rios
sobre aonde vão chegar...
Por mais que sofram desvios,
seu destino é sempre o mar!

35
Pensei que ser grande fosse
razão de alegria... Errado:
o rio, pequeno, é doce;
o mar, imenso, é salgado.

36
São de cristal ou de barro
nossas vaidades... tão só.
Um baque, um tombo, um esbarro,
e tudo reduz-se a pó!

37
Palavras produzem fartas
e tão belas construções:
com elas fez Paulo as Cartas,
fez os seus versos Camões!

38
Ah, que profunda saudade
invade uma Academia
a cada vez que um confrade
deixa a cadeira vazia!

39
Vaidade, doença triste
que nos condena a estar sós...
Não nos deixa ver que existe
ninguém mais além de nós.

40
Trabalhas tanto, formiga,
enquanto, ó cigarra, cantas.
No entanto, basta de intriga:
- são duas tarefas santas!

41
Que sentença a mãe de Judas,
se o julgasse, lhe daria?...
- Em sendo mãe, não te iludas,
mil vezes o perdoaria!

42
Prometi-lhe, amada minha,
mil estrelas, as mais belas.
Bobagem... você sozinha
brilha mais que todas elas!

43
Está vendo aquela estrada?
Vai subindo... vai subindo...
Chega a Friburgo e, na entrada,
as flores dizem: – Bem-vindo!
44
Trouxe um cheque de esperança
ao nascer para este mundo...
Resolvi pô-lo em cobrança:
- O cheque não tinha fundo!

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ALGUMAS TROVAS HUMORÍSTICAS

01 Fim do filme... Na saída,
pergunta à pulga o pulgão:
- Voltamos a pé, querida,
ou vamos tomar um cão?

02
O nobre faz e acontece,
porém me responda, ó meu:
se o trabalho é que enobrece,
como é que ele enobreceu?...

03
Não te cases por dinheiro...
sai dessa... tô te falando...
Afinal, qualquer banqueiro
empresta a juro mais brando!

04
Num momento de euforia
cedemos-lhe uma costela.
Fomos cedendo... e hoje em dia
quem manda no mundo é ela!

05
Uma andorinha, voando,
sozinha não faz verão...
Passando, no entando, em bando,
chove adubo em profusão!

06
No reino dos passarinhos,
joão-de-barro é o burguesão:
- de todos os seus vizinhos,
só ele mora em mansão...

07
O povo sempre descobre
metaforinhas incríveis:
couve-flor = "repolho nobre";
as hortas = "jardins comíveis"...

08
Pediste, na vez passada,
que eu melhorasse a comida...
Pois hoje está caprichada:
vou servir "vespa cozida"!

09
Coitado... tão pobrezinho,
que até para dar risada
tem que pedir ao vizinho
a dentadura emprestada!...

10
Pastel, pudim, rabanada,
e o mais que te apetecer...
Nada disso engorda nada:
basta apenas não comer!

11
Entre o passado e o futuro,
mudou o amor um bocado:
- o que o vovô fez no escuro,
faz o neto escancarado!

12
Ah, como é útil a avó,
com seus cuidados e afetos!
Já o avô, serve tão-só
pra ensinar besteira aos netos...

13 -
Na briga lobo-cordeiro,
qual deles terá razão?
- Depende, meu companheiro,
de qual dos dois é o patrão...

14
Madrugada... canta o galo...
cruzam-se o ócio e o labor:
volta a moçada do embalo;
pega a enxada o lavrador!

15
Esta é uma antiga lorota,
que jamais se esclareceu:
- se Judas nem tinha bota,
como foi que ele a perdeu?...

16
Quando se casa a enteada,
mais a madrasta se ouriça:
- Além de "mãe emprestada",
agora é "sogra postiça"...

17
Era um guri tão terror,
que a escola inteira o temia.                    (3º lugar Pedro Leopoldo/MG - 2003)
Cresceu... virou professor...
paga com juro hoje em dia!

18
Cuidado, amigo, atenção...
não beba o primeiro trago.
- Quando se escuta o trovão,
o raio já fez o estrago!

19
"Tem o amor certas razões
que nem a razão conhece."
- Por exemplo: as emoções
que um gordo cheque oferece...

20
Morre o peixe quando aboca
seu jantar com muito anseio...
Sobretudo se a minhoca
traz anzol como recheio!

21
Hoje os rios se parecem
com certos tipos sabujos:
quanto mais descem, mais crescem;
quanto mais crescem, mais sujos.

22
Convido-os a partilhar
uma gostosa jantinha:
massa com frutos do mar,
ou seja, pão com sardinha...

23
Pergunto: serás a lenda
que eu vi no mar e na areia?
Se rindo, linda, ela emenda:
- Não sou ainda... serei-a!

24
A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro...

25
Vingança é coisa de gente
tresloucada ou matusquela...
- A lei do "dente por dente"
faz tempo ficou banguela!

26
Debulhando, debulhando,
se enchia o pilão de milho...
Depois, coisando, coisando,
se enchia a casa de filho!

27 - (Fonte: 'Mensagens Poéticas")
Ah, como enfrenta problema
o cinqüentão no Brasil:
Tiraram-lhe o emprego e o trema,
já-já vão roubar-lhe o til...
28
No carrão recém-comprado
da motorista barbeira:
"Atenção, muito cuidado...
amaciando carteira!"
29
Amigo/amiga, reparto
este espanto com você:
o parto não é mais parto,
é "dowload de bebê"!
30
Se tens filho, escuta aqui,
que um lembrete eu vou deixar-te:           (4º lugar em Pedro Leopoldo - 2003)
“Guri que já faz guri...
se fica solto, faz arte!”
31
São maridos mais leais                        (Menção Especial em Pouso Alegre - 2004)
os de agora... quem diria?...
- É que manter “filiais”
sai muito caro hoje em dia!

 

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E quem quiser mais do Assis, aqui mesmo, em "Biblioteca", há alguns livros dele.