Carolina Ramos - Santos

      CAROLINA  RAMOS: Considerada a "Primeira Dama da Trova Brasileira", reside em Santos, onde nasceu, a 19 de março de 1924. Foram seus pais: Francisco Garrote Ramos e Alzira Herbelha Ramos. Professora, musicista, poetisa, escritora. Preside a seção municipal da União Brasileira de Trovadores, além de fazer parte também da diretoria nacional. Publicou vários livros, entre eles, "O Príncipe da Trova", no qual narra o "vida-e-morte" de Luiz Otávio, e o grande amor vivido entre o "Príncipe" e a própria autora. Tornou-se "Magnífica Trovadora" em Nova Friburgo em 1973, com as três primeiras trovas abaixo.

 

Angústia, imensa, dorida,
pior que a dor de morrer,     (10º lugar Nova Friburgo - 1971)
é não ter apego à vida
e ser forçado a viver...

Sempre acolho de mãos postas
e humilde tento aceitar          (8º lugar Nova Friburgo - 1972)
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.

Mãos tristes, temendo ausências,   (1º lugar Nova Friburgo - 1973)
se despedem com revolta...
- Nosso adeus tem reticências
que acenam gritando: - Volta!
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 Quem se agarra a uma quimera,
quem persegue uma utopia,          (Venc. Curitiba 2006)
age como se soubera
que sem sonhos... morreria!

Quem não sabe, quem não sente   (Venc. Bandeirantes - 2008)
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro?

Por ter nas mãos quando querem         (Menção Honrosa em Pouso Alegre - 2008)
nossa alma, alheia aos perigos,
os “amigos” quando ferem,
ferem mais do que inimigos!

Deus perdoa o pecador
que, réu de amar, perde a paz;      (Menção Especial em Magé - 1998)
sob o dominio do amor,
quem é que sabe o que faz?!

Tua presença é o passado,
é meu presente e meu fim,
mesmo sem ter-te ao meu lado,     (M. Honrosa em S. Jerônimo da Serra - 1992)
tu fazes parte de mim!...
                                                                                   (UNIÃO)
Há contraste em nossas vidas,                 (1º lugar em Porto Alegre - 1985)
mas perfeito é o desempenho:
- luz e sombra, quando unidas,
dão força e vida ao desenho!

Sem notar que a vida passa,               (1º lugar em Pouso Alegre - 1981)
esta emoção me extasia:
- meus netos correm na praça
onde, em criança, eu corria!

Que importa a chegada, agora...         (3º lugar em Pouso Alegre - 1980)
que importa, se ao fim da linha,
teu olhar, que foi embora,
era toda a luz que eu tinha?!

Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
- Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!

Ante a força intransigente,
para o caos a paz resvala...
- Deus, deste alma a tanta gente
que nem sabe como usá-la!!!

No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
- se estás longe, ele se arrasta,
se perto, corre demais!

Há contraste em nossas vidas
mas, perfeito é o desempenho:
- luz e sombra, quando unidas,
dão força e vida ao desenho...

Sussurrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta!

Embora sozinha eu siga
e sigas também a sós,
dentro do amor que nos liga
não há distância entre nós!

O mar da vida parece
que às vezes quer me afogar,
mas, Deus, que nunca me esquece,
atira a bóia no mar!

Creio num Ser superior,
num Deus-Pai e creio, sim,
na eternidade do Amor
que nem a morte põe fim!

Que importa a imensa amplidão      (Pouso Alegre 1998)
em que o universo flutua,
meu mundo cabe na mão,
se acaso esta mão for tua!

Depois de pronta a bagagem,       (co-vencedora em Barra do Piraí - 1993)
dizer adeus, quem sabia?!
- um princípio de coragem
que findou em covardia...

Para os que entregam ao nada
os sonhos que ontem sonharam,      (co-vencedora em Barra do Piraí 1992)
o orgulho é terra pisada
moldando os pés que a pisaram...

Segue em frente, com cuidados     (M. Honrosa em Barra do Piraí 1992)
que a prudência mal não faz
e os bons passos, ontem dados,
dão mais força aos que hoje dás!...

Nosso amor, quadras desfeitas,           (co-Vencedora UBT SP - 1990)
de um poema sem achados...

Rimas tristes, imperfeitas,
fechando versos quebrados!...

Vai-se um dia... Vai-se um mês...
E eu te imploro, sem revolta,          (Menção Honrosa em Bandeirantes - 1989)
se não regressas de vez,
esta noite, ao menos, volta!

Saltando apenas num pé,
negrinho maroto e arteiro,           (Menção Honrosa em Ribeirão Preto - 1975)
o Saci nada mais é
que o capeta brasileiro!

Ante os dilemas da vida,
embora ilusões destrua,
à mentira bem vestida,
prefiro a verdade nua!

Há vidas que se parecem
com as roseiras viçosas:
quando podadas, mais crescem
e mais se cobrem de rosas!

Como pode haver poesia      (Maranguape 2008)
nos rumos da humanidade,
se tarda tanto esse dia
da paz ser PAZ de verdade?

Vejo, mãe, no teu semblante,
a marca triste e dorida
de espinhos que, a cada instante,
arrancas da minha vida.

Das cores, qual a mais bela?
- "A negra" - diz o ceguinho...
"pois, dentre todas, é aquela
que eu vejo no meu caminho".

Quando a saudade me embala,   (12º lugar Nova Friburgo, 1972)
o teu nome a repetir,
o silêncio tanto fala,
que não me deixa dormir!...

Sempre acolho de mãos postas     (8º lugar Nova Friburgo, 1972)
e humilde tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.

Não tema que o tema eu tema,       (9º lugar em Valença/RJ - 1972)
temas não temo, porque,
que importa qual seja o tema,
meu tema é sempre: "Você"!

A grande, a maior vitória
que até hoje consegui,
foi remover da memória
as batalhas que perdi.

Como é fútil e tamanha
a soberba dos ateus…
Seixos ao pé da montanha,
negando a montanha – Deus!

Guarda sempre esta mensagem
da própria vida que diz:
- è feliz, quem tem coragem
de acreditar que é feliz!

Se amigo é o que escuta a queixa,
seca o pranto e ajuda a rir,
mais amigo é o que não deixa
sequer o pranto cair!

Nós somos duas tipóias,
somando forças escassas:
- quando eu fracasso, me apóias,
te apoio, quando fracassas!…

Na penumbra, o berço é um templo,
ajoelho e em ternura enorme,
entre rendas eu contemplo
meu pequeno deus que dorme!

Já velhinho, sonha ainda,
mantendo o brilho no olhar,
que a juventude só finda,
quando é impossível sonhar!

Ser mau é fácil…insiste
em ser bom, sempre a lembrar:
- bondade, às vezes, consiste
em ver, ouvir… e calar!…

Ouço teus passos serenos
e o meu abraço se expande,
mas sinto os braços pequenos,
para ternura tão grande!

Sofre e perdoa sem grito,
o mal que de alguém se emana,
que há outro Alguém no Infinito,
maior que a maldade humana!

Paz e Amor – eram Seus planos
e por eles deu a vida.
- Mensagem que há dois mil anos
não foi ainda entendida!

Não prolongues a partida…
Vai… não olhes para atrás,
dói bem mais a despedida,
quão mais longa ela se faz!

Adeus, filho, segue a vida…
Volta um dia, sem promessa…
que a primeira despedida
no ventre da mãe começa!

Se eu sinto fugir a calma
e até viver me angustia,
eu abro as janelas da alma
e deixo entrar a Poesia!

Boneca sem cor, partida...
uma bola abandonada...
- Saudade mostrando à vida
quanto vale um quase nada!

Segredos de amor... tolice!
Ninguém consegue esconder
aquilo que o olhar já disse,
antes da boca dizer!

Solidão, eu te bendigo!
À tua sombra querida,
eu marco encontro comigo
e acerto os passos da vida!

Queixas-te sempre que és pobre...
que mais queres me ofertar?
Deste-me um título nobre:
- não sou raínha de um lar?

Bendigo o dom da poesia:
- num mundo de tais perigos,
deu-me a serena alegria
de achar um mundo de amigos!

Mulher é sonho, harmonia,
mistério, contradição,
luz e sombra, amor, poesia,
tudo...e apenas coração!

(TROVA-EXALTAÇÃO)
Sempre amiga e hospitaleira,
se quem vem não quer deixar-te,                       (Fonte: www.clerioborges.com.br)
Vitória, tu vais inteira
no coração de quem parte.

Quantas vezes a lealdade
e o mais sincero carinho
que nos nega a humanidade,
nos dá de graça um cãozinho!

Piior que a mão do inimigo,
que nos fere, frente a frente,
é a falsa mão de um "amigo",
que ao longe apunhala a gente.

Procurando ideias novas,
descubro em meu lar feliz,
que meus filhos são as trovas
mais bonitas que eu já fiz!  

A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...

 

        HUMOR

Tão ciumenta é a mulherzinha         (1º lugar Nova Friburgo - 1984) 
que ele só passa, coitado,
pela casa da vizinha,
correndo e de olho fechado!

É possível que aconteça,                 (Menção Honrosa em Ribeirão Preto - 1975)
seja folclore ou novela:
- tanta gente sem cabeça,
por que não mula sem ela?

Deu a tantos seu carinho
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!

Ele mente e se arrebata
com tal veemência e desplante,
que, se um besouro ele mata,
vira o besouro elefante!

Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
- É gato? - Não... é mulher!