Edgard Barcellos Cerqueira

 

     EDGARD BARCELLOS CERQUEIRA nasceu no Rio de Janeiro - GB, a 10 de janeiro de 1913. Filho do poeta, jornalista e advogado Eduardo Reis da Gama Cerqueira e de Carmelita Barcellos Cerqueira.
      Tornou-se Magnífico Trovador já em 1963, logo depois de Anis Murad e Colbert Rangel Coelho. A 1ª, a 2ª e a 4ª trovas logo abaixo lhe concederam esse privilégio, respectivamente nos temas "saudade", "ciúme" e "vida".
       Livro de trovas publicado, em 1963:  "Cantigas que eu sei cantar".

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01
Saudade
– lembrança triste      (8º lugar Friburgo 1961)
de tudo que já não sou...
Passado que tanto insiste
em fingir que não passou...
02
Duas vidas separadas,
dois amores... Dois queixumes     (3º lugar Friburgo 1962)
Duas saudades... Dois nadas...
Somos nós dois, - dois ciúmes!...
03
Vou confessar a verdade:       (14º lugar Friburgo 1962)
o meu amor se resume,
de longe, - em sentir saudade...
de perto, - em sentir ciúme!
04
Nossa rede balançando...
Nossa conversa entretida...
A nossa vida passando...
A gente esquecendo a vida...
05
Bordam, soltos, seus cabelos,
caracóis negros na fronha.
E eu, insone, horas a vê-los,
fico a sonhar com quem sonha...
06
Joga o teu pião, menino,      (12º lugar Juiz de Fora 1962)
aproveita a brincadeira,
que a fieira do destino
vai jogar-te a vida inteira...
07
A criança, num segundo,              (14º lugar Juiz de Fora 1962)
domina o que o céu lhe deu:
- Deus lhe faz todo este mundo,
ela sonha... e faz o seu !
08
Criança, - império inocente,     Juiz de Fora 1962)
mas, de poder tão profundo!
Quem manda é um pingo de gente
e obedece todo o mundo!
09
Brinquedo, no chão, quebrado,     Juiz de Fora 1962)
tragédia de pouco enredo:
- um martelo malsinado
e esparadrapo, num dedo!
10
Não é só fazer carinho,
nem tampouco dar presente.
- Bondade é dar o caminho
para a criança ser gente.
11
Pai, partiste e é na saudade
que sinto outra vez, comigo,
o amor do pai de verdade,
a mão do melhor amigo.
12
Mãe, no Céu, onde estiveres,
Deus, por certo, em Seus arranjos,
fez, de um anjo entre as mulheres,
mais um anjo entre os seus anjos.
13
Quanto fere uma verdade
maldosa, de frio tom!
Bem melhor, por caridade,
ser mentiroso... mas bom.
14
Um retrato amarelado...
uma esperança perdida...
a saudade do passado...
um velho álbum... uma vida!
15
Cada vez que tento, em fuga,
mascarar o meu desgosto,
descubro mais uma ruga
a desmascarar meu rosto...
16
Conto a vida a uma criança,
mas não conto o que sofri.
Seu caminho é uma esperança;
o meu, eu já percorri...
17
Nem sempre os irmãos carnais
são irmãos de coração.
Quanto amigo vale mais!
Quanto amigo é mais irmão!
18
Segredos de alcova!  Delas
transpiram mil travessuras!
Se alcovas não têm janelas,
tèm buraco as fechaduras...
19
Vê o povo uma vitória,
às vezes, no que não é.
Colombo ficou na História
sempre pondo um ovo em pé!
20
Canarinho cantador,
que perdeste a liberdade,
ganhas fama de "cantor",
quando choras de saudade...
21
Uma valsa... um tom de voz...
um perfume no jardim...
uma lua sobre nós...
um sonho dentro de mim...
22
Há de ter no Céu guarida
quem, em vida, vence a treva.
- A gente leva da vida
a vida que a gente leva.
23
Ser poeta é ver facetas
onde a vida não seduz...
É passar, feito os cometas,
deixando um rastro de luz.
24
Os olhos do moribundo
se esforçavam, já sem brilho,
por manter seu fim de mundo
preso ao mundo do seu filho...
25
Não lamento o meu passado,
a estrada que percorri.
Choro o que deixei de lado,
a vida que eu não vivi...
26
Há gente, cuja bondade
faz, de fato, tanto bem,
que a gente sente vontade
de poder ser bom também.
27
A saudade que agasalho
é resto de amor ardente.
Foi-se o fogo do borralho,
mas ficou a cinza quente...
28
A amizade só persiste
quando a gente, sem má fé,
não exige que o que existe
seja mais do que ele é.
29
Eu tenho, no meu pensar,
que vitória deve ser
não tanto o saber ganhar,
mas, sim, o saber perder!
30
Não se rompe um laço antigo,
sempre há perdão na amizade.
Quem deixa de ser amigo
nunca o foi na realidade.
31
Decai tanto a sociedade
que o mal chega a ser bom-tom,
e a gente finge maldade,
com vergonha de ser bom...
32
O pessimista, em verdade,
não crendo poder vencer,
põe fora a felicidade
muito antes de a perder.
33
Vitória muito estrondosa
provoca as línguas ferinas.
Melhor a vida ditosa,
com vitórias pequeninas.
34
Entre santinhos... a fita...       ("Livro" - 12º lugar em Nova Iguaçu - 1973)
A foto da irmã noviça...
- O meu cartão de visita,
no teu livrinho de missa!

UMA DE HUMOR
Quando soube do segredo
da mulher, ele tremia!
Não de raiva, mas de medo
de saberem que sabia...