Helvécio Barros - Macau / Bauru

HELVÉCIO BARROS
nasceu na cidade de Macau, Rio Grande do Norte, em 30 de abril de 1909.Foram seus pais: Manuel Antunes da Silveira Barros e Maria Emília de Souza Barros.  Aos 19 anos deixou sua terra natal, rumo ao Rio de Janeiro. Durante muitos anos sofreu com o desemprego. Chegou a integrar o "Bando dos Tangarás", dirigido pelo Almirante, e do qual fazia parte o famoso Noel Rosa.  Finalmente, em 1932, a convite de um tio, foi para Bauru / SP, onde ingressou na Caixa de Aposentadoria (atual INSS), lá se aposentando em 1969.  Nesse ínterim lançou três livros:  "Primeiros Poemas", "Vitrine Iluminada" e "Um olhar dentro da Vida".  Interessante é que só veio a dedicar-se à Trova após a aposentadoria, tornando-se, em 1974, "Magnífico Trovador" em Nova Friburgo.  Foi delegado da UBT local e, graças a relevantes participações em prol do município, recebeu o título de “Cidadão Bauruense” em 28.11.1986 e em 04.02.1995, foi empossado na Academia Bauruense de Letras. Faleceu em 27.09 desse mesmo ano.  Era casado com D. Durvalina Rodrigues Barros e pai de Luiz Celso e Helder.

 

Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
Quanto mais longe, mais cresce!
Quanto mais perto, mais dói!

Duas almas bem unidas
ninguém separa jamais.
Às vezes, são duas vidas,
que a vida já fez iguais!

Não te julgues o primeiro,
nem que sejas um portento:
quanto mais alto o coqueiro,
mais fácil se verga ao vento! 

Nesta cabana esquecida
e sem você, quem sou eu?...
– Um resto, talvez, de vida
que a própria vida esqueceu!... 

Velho mar, soturno e rude,
entre nós – que afinidade:
gemendo a mesma inquietude,
chorando a mesma saudade... 

Quando alguém foge à virtude
e pisa as rosas do Amor,
passa a ser espinho rude,
já que não soube ser flor! 

Ah! Quantos vão pelo mundo,
sem calor, de alma abatida,
fugindo a cada segundo
da própria sombra da vida! 

Andei aos trancos na vida,
como humilde peregrino:
– Cheguei ao fim da subida,
sem chegar ao meu destino! 

Não choro, na solidão,
a vida que vai passando,
choro, apenas, com razão,
o que a vida vai matando!... 

O lar é viga, cimento,
a modelar gerações!
- Cartilha do sentimento,
feita de mil corações! 

Ninguém altera jamais,
nossos caminhos terrenos:
- Alguns têm tudo demais!
- Outros têm tudo de menos! 

Definir foi sempre em vão,
da saudade o seu por quê...
- Mas, se vem do coração,
saudade, enfim, é você... 

A amizade não quer palmas
por ajudar seus irmãos.
Deus olha o fundo das almas
e nunca a palma das mãos.

Quem sonha é sempre criança,
na vida não tem idade...
- Vive tecendo Esperança!
- Vive juntando Saudade!

A própria infância também,
é do Passado uma voz:
- Saudade, às vezes, de alguém
que vive dentro de nós...

Do Sonho sou vagabundo,
trilhando rumos diversos...
Não tendo nada do Mundo,
o Mundo abraço nos versos.

Carro de bois do sertão,
acordando as madrugadas,
a ouvir-te a triste canção,
ouço o choro das estradas...

Abro a janela bem cedo
e ouçoi músicas bizarras...
- São as vozes do arvoredo,
no coro de mil cigarras...

Carta de afeto relida,
de quem nos quis muito bem,
traz um pedaço de vida,
na saudade que contém.

Ninguém por certo é perfeito
numa total plenitude.
- Quem conhece o seu defeito
já tem alguma virtude.

Em qualquer templo que seja,
sorri a noiva em seu véu...
- De flores, cobre-se a igreja!
- De sonhos, veste-se o Céu!

Amigos só de lorota,
há na terra em profusão!
- Mas os bons a gente nota
num só aperto de mão...

Mesmo com truques velados,
tinha a mocinha de outrora
mais tolerantes pecados
e menos pernas de fora...

Na vida o nosso papel
é tal qual o pirulito:
- Quando a língua chega ao mel,
o dente trinca o palito...

Tal qual arisca serpente,
a mulata, quando passa,
mexe com tudo da gente,
belisca o sangue da raça...

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E, aqui, as três trovas que o levaram à condição de "Magnífico Trovador":

1972 - SILÊNCIO
Muita lágrima sentida
em silêncio sei que enxugas...
- São reticências da vida
pelo caminho das rugas...
1973 - RETICÊNCIAS
Há sempre um dia cinzento
vivendo dentro de nós...
- Reticências de um lamento...
- Tristeza que não tem voz!
1974 – FIBRA
Cabelos brancos ao vento,
- Saudade feita de neve!
Mil fibras de sentimento
dizendo a tudo até breve!...