Manual de Orientação para Julgadores - julho/2015

(Esta matéria será encontrada no site www.falandodetrova.com.br, na seção "Colunas")

DOIS DEDOS DE PROSA

Manual de Orientação para julgadores (texto extraído do Informativo UBT/RJ, julho de 2015)

     Ano passado fiz uma série de artigos sobre julgamento de trovas (“A Difícil Tarefa de Julgar”) em que procurava mostrar a necessidade de se criar uma espécie de Manual de Orientação para julgadores a fim de se unificar procedimentos nesta área. Volto ao assunto, agora mais embasado no estudo de casos concretos que reuni no último ano em que estive à frente da UBT-Rio coordenando concursos internos, bem como participando de comissões julgadoras de outras seções. Nestas tarefas pude constatar que as divergências entre os que julgam trovas são ainda maiores do que eu supunha. Não me refiro aqui à atribuição de notas díspares decorrentes de gostos diferentes quanto ao desenvolvimento da ideia da trova - isto é normal! O que me causa espécie é o grande número de trovas que, às vezes, ganham nota máxima de uns julgadores e são sumariamente desclassificadas por outros em virtude de supostos defeitos formais. Tenho visto casos em que as alegações para desqualificar uma trova por razões de rima, métrica ou até erro de português não têm o menor fundamento. Penso que os elementos formais na trova não podem ser apreciados sob a ótica pessoal do “eu gosto” ou “eu não gosto”. O julgador tem que avaliar levando em conta as normas pré-determinadas que regulam os fenômenos fonéticos e/ou gramaticais no verso. Daí a imperiosa necessidade da troca de informações durante a avaliação entre os componentes das comissões julgadoras. E isto pode ser feito através do coordenador do concurso, como venho fazendo com boa aceitação no Rio.

     É preciso tornar mais justo e transparente o julgamento das trovas e, para tal, impõe-se a criação de uma normatização oficial para complementar o atual “Decálogo de Luiz Otávio”, que não cobre todos os casos de métrica e não trata especificamente das rimas. Por exemplo, podemos ou não usar as rimas “boca/louca”, “desejo/beijo”, “virtude/Abud”? Adicionalmente, este “Guia de Orientação” a ser criado poderia incluir observações de ordem linguística, recolhidas, como colaboração, de trovadores mais experientes no trato da Língua Portuguesa. Tenho lido na internet algumas sugestões interessantes de estudiosos da trova visando a melhorar os julgamentos, mas, infelizmente, o assunto parece não prosperar; ao contrário, expor tais ideias não raro gera reações de insatisfação de quem acha que o problema absolutamente não existe, que tudo está ótimo, que vem dando certo há décadas, que não há nada a melhorar, etc, etc...

 

(o professor Renato Alves é vice-presidente da UBT Rio de Janeiro)