Manuel José Lamas - Remoães/Portugal

     MANUEL JOSÉ LAMAS Junior  nasceu em Remoães, Portugal, no dia 09 de junho de 1909, filho de Manuel José Lamas e D. Pureza de Jesus da Caridade Cunha Lamas. Em 1969 lançou o livro "No Beiral do Meu Telhado", com cem trovas. Residia no Rio de Janeiro desde 1940, onde veio a falecer, em 24 de março de 1973.  Trovador de vastos recursos.

Hei de morrer mendingando
doces migalhas de amor,
pois foi dando amor e amando
que nasceu um trovador!

Sou pedinte, mendigando,
vou indo de rua em rua.
Quando a noite vem chegando,
mendigos sonhos à lua...

Não vou além do que faço,
nem vou além do que digo.
Meu mundo está num abraço,
quando me abraço contigo...

Noite calma, noite triste,
noite em que o sono não vem;
noite negra, nada existe,
porque é noite de ninguém...

Chamaste-me de atrevido.
Mas ai de mim se não fosse...
Não teria conhecido
tua boquinha tão doce...

Neste mundo tão malvado,
onde nada se respeita,
tu, menina, tem cuidado,
porque o mal nunca se deita.

O teu abraço esperado
custou uma eternidade...
Mas agora, lado a lado,
deixa que eu mate a saudade.

Naquele aperto de mão
que me deste à despedida,
senti que meu coração
perdeu dez anos de vida!

Que plástica, que corpinho...
inteirinho em cor morena.
E eu aqui, solto, sozinho,
chego de mim a ter pena...

Noutros tempos, eu guardava,
delas todas, o endereço;
porém, hoje, as que eu amava
não têm nome, só têm preço.

Coração, toma cuidado...
Não te iludas facilmente,
porque o amor precipitado
faz dodói entro da gente.

Teu beijo, dado a correr,
deixou-me tão aturdido,
que jamais vou me esquecer
do som daquele estalido...

Mocinha de olhar brejeiro,
por que me fazes sonhar?
Quem mais sofre é o travesseiro,
que não para no lugar...

Ah, meu Deus, quanto pecado...
tirando o sono da gente.
Um corpinho bem talhado,
num vestido transparente...

Olhas pra mim de soslaio,
a dizer que nada queres,
porém nessa é que eu não caio,
conheço bem as mulheres.

Essa morena faceira
tritura mais que pilão;
gingando dessa maneira,
tira um morto do caixão!

Não desesperes, pequena,
vai com calma e devagar...
Galo velho se depena,
depois de muito o escaldar.

Não sei por que, mas não leio,
nos jornais, necrologia.
Talvez seja por receio
de ler meu nome algum dia!

Se acabar o porta-seios,
já imagino o que será:
dois cabritinhos sem freios,
a pular de lá pra cá!

Meu bairro inteiro apregoa
que a mulher do meu vizinho
é uma "santa"!  É tão boa,
que dá de graça o carinho...

Naquele muro baixinho,
que tantas noites pulei,
hoje pula o meu filhinho,
sem os sustos que eu passei...

O teu corpo até parece
fogueira de São João,
se ele de longe já aquece,
já imagino pondo a mão!

Mulher que morre solteira,
sobretudo sendo nova,
leva o demo à cabeceira,
quando for baixar à cova!