Maria Eugênia Celso

     MARIA EUGÊNIA CELSO CARNEIRO DE MENDONÇA  nasceu em São João Del Rey, Minas Gerais, a 19 de abril de 1886, filha do Conde e Condessa de Afonso Celso, neta do Visconde de Ouro Preto que presidia o Gabinete Imperial quando da deposição do Imperador D. Pedro II. Sua família radicou-se em Petrópolis.  
     Obras:  "Em Pleno Sonho" (poemas de amor), "Vicentinho", "Fantasias e Matutadas", "Desdobramento", "Alma Vária", "Jeunesse", "O Solar Perdido" e "Poemas Completos", este no ano de 1955; o romance "Diário de Ana Lúcia"; crônicas no livro "De Relance"; ume peça de teatro "Ruflos de Asas"; biografia: "Síntese Biográfica da Princesa Isabel".  Compôs um poema antológico, ao estilo sertanejo, intitulado: "Meu Hóme" (ver o poema, abaixo das trovas).  
     Chegou a ser cotada para a Academia Brasileira de Letras.  Faleceu no ano de 1963.

Nas alegrias do mundo,
como de um vidro através,
hás de ver sombras ao fundo
e uma tristeza a teus pés.

Surdina dobrando o preço
das melodias que ouvi.
A tristeza é como o avesso
de tudo que nos sorri.

 

Um lenço... coisinha à-toa,
mas, amor, aos olhos meus,
não há nada que mais doa
que um lenço acenando adeus...

Ninguém deu inda perfeita
da trova a definição.
A trova... a trova é um suspiro
saído do coração!

Desencantada princesa,
foi nos teus olhos sem cor
que eu aprendi a tristeza,
toda a tristeza do amor...
...........................................................

MEU HOME  –  Maria Eugênia Celso

Nesse mundo toda gente
Vancês há de certamente
De cumigo aconcordá,
Só fala memo direito
Daquilo que  no seu peito
Lhe dá gosto ou lhe consome,
Pois eu falo do meu home
Do que havéra de falá?

Pras muié, besta ou sabida,
É o home que faz a vida
Seja uma praga ou um vilão,
Home ruim, que o parta o raio!
O meu, se me dá trabaio,
Tumbém dá sastifação!

Meu home tem oio garço,
Num pode nunca sê farso
Uns óio bunito assim!
Quando entonces qué um agrado
E bota o oiá bem quebrado
Sinto logo arrevirado
Tudo aqui dentro de mim...

O meu home usa bigode
As moda diz que não pode,
Mas dexa as moda falá!...
Bigode dá fidarguia
E minha vó me dizia
Que bejo sem tê bigode
É feito sopa sem sá.

Meu home ronca drumindo
Que inté parece um truvão.
Tem gente que isso arrelia,
Eu chego achá ronco lindo!
E é mió roncá drumindo
Do que vivê todo dia
A lhe aturá  roncação.

Meu home fala bunito
Prosá feito ele, ninguém!
Eu sei que as veis tá mintindo,
Mas ele minte tão bem
Que eu, sem querê, vô ingulindo
E afiná sempre aquerdito
Que rezão ele é que tem.

Os outro diz que ele é brabo,
Um mandão, que nem o diabo
Nunca medo lhe meteu!
Eu cá sei como é que eu ando,
Marombando, marombando,
Ele pensa que tá mandando,
Pru fim, quem manda sou eu.

Pra eu assim lhe querê tanto
Num me pois ele quebranto
Nem feitiço me botô,
Bastô só que ele queresse
Prá que dele logo sesse
Inteirinho o meu amô!

Mas se um dia adescubrisse
Que ele andava a me cinzá,
Se outra muié pressentisse
Im redó dele a tentá,
Era capaz - já lhe disse -
Era capaz de matá!
Mas o diacho tem tal ronha
E eu co'ele sô tão pamonha,
Meu Deus do céu, que vregonha,
Era capaz de perdoá!...

Nossa Senhora da Penha,
Nossa Senhora do Ó,
Do meu amô pena tenha
E de seu Fio no nome
De mim também tenha dó!
Prás outras tem tantos home
Me guarda o meu pra mim só!