Marília Fairbanks Maciel - Matão/SP

    MARÍLIA MENDES FAIRBANKS MACIEL  nasceu em Matão, Estado de Sao Paulo, no dia 18 de julho de 1924, filha do Desembargador Armando Fairbanks e de Maria José Mendes Fairbanks. Desde jovem passou a residir na capital dos paulistas. Poetisa, romancista, com muitos livros publicados: Oferenda, 1962 – poesia, Momento sem tempo, 1970 — poesia, Tempo de saudade, 1971 — poesia, Janela Acesa, 1972, — poesia, O que o conto não conta, 1975 — contos, A semente, 1977 — romance.          Residiu na Av. Afrânio Peixoto, 390, Butantã-SP.  Faleceu no dia 08 de janeiro de 2012.

Suspira, meu bem, suspira,
suspira pelo teu bem.
Que o teu suspiro não fira
o bem que é bem de outro alguém.

Se o amor dura um só instante,
é fato sem importância:
o ser humano é constante
somente em sua inconstância.

Que importa que o amor acabe,
que seja breve, fugaz,
se toda ventura cabe
num só instante de paz!

O egoísmo, em seu reinado,
recoberto de ouro em pó,
traz seu rei acorrentado
a si mesmo e sempre só.

Arco-Íris - divina ponte
ligando ao longe, se vê,
dois pedaços de horizonte,
longes como eu e você.

Não peça amor emprestado,
que é perigoso emprestar:
quem empresta sai roubado,
pois tem juros a pagar...

Duas folhas, lado a lado,
bailam na brisa do outono...
Mais triste é o nosso bailado:
nós bailamos no abandono.

Sozinho, qualquer pedreiro
pode a casa levantar.
Mas nem santo ou feiticeiro,
sozinho, constrói um lar.

Ó que desgraça engraçada,
viver amando escondido:
vive-se instantes, mais nada,
o resto é tempo perdido.

Saudade - bênção divina,
graça que Deus nos doou.
Saudade - a unir se destina,
quem partiu a quem ficou.

Quem quiser sofrer dobrado,
roube a paz e o amor de alguém.
Roubar é sempre pecado,
e ladrão sofre também...

Querendo colher no outono,
semeei na primavera...
Tu deixaste no abandono
um jardim à tua espera...

Por estar sozinho, o vento
geme na altura e no abismo.
Solidão é sentimento
irmão-gêmeo do egoísmo.

A medida do teu peito
quero tomar com meus braços:
medir com metro perfeito
e conferir com abraços.

Canário, preso em gaiola,
canta alegre e come alpiste.
Quanto amor vive de esmola,
numa prisão bem mais triste!...

Duas árvores unidas
uma estrada derrubou.
Como nós, as nossas vidas,
que o caminho separou...

O quanto o sorriso é raro,
comum é a dor da desgraça.
- A alegria custa caro.
- A tristeza vem de graça.

Deus, em muitos corações,
plantou a flor da ilusão.
No das mães, plantou botões
da roseira do perdão.

As nuvens fazem castelos
e nós fazemos tambem:
são palácios paralelos
que se vão perdendo além.

Entre as cinzas do passado,
encontrei velho carvão.
Soprei o fogo apagado:
tu chegaste no clarão.

Cinza é morte, cinza é vida:
cinza é morte da fogueira,
mas, na terra desnutrida,
cinza é a vida da roseira.

Para sentir-te presente,
meus olhos cerro a sonhar...
E tu chegas mansamente
numa lágrima a rolar...

Os nossos passos na vida
procuram ramos iguais...
Sou como a pomba perdida
a buscar-te nos beirais...

Meu destino e o teu destino
são novelos separados,
de fio frágil e fino,
entre si embaraçados.

A rede embalou meu sono
e eu sonhei com meu amor...
Que importa que seja outono,
se a roseira ainda tem flor?

A vida é barco ligeiro,
nas ondas a navegar...
Passa o tempo do barqueiro,
não passa o tempo do mar.

Caridade às vezes mora
na palavra caridosa
que a gente diz, muito embora
seja falsa e mentirosa.

Do mundo nada se leva!
- Diz quem não tem o que dar.
Quem ama o mundo e o eleva,
tem ao mundo o que deixar!

Quem chora de olhos fechados,
se queixando de infeliz,
se olhasse mais para os lados,
talvez negasse o que diz!

Dói bem mais a punhalada
que nos fere e nos consome.
Troca o tudo pelo nada:
Ingratidão - é o seu nome.

Corre nos trilhos, ligeiro,
o trem expresso da vida:
Mal recebe o passageiro,
toca o sino da partida.

A vaidade, em dose certa,
é um remédio, que faz bem:
dentro em nós ela desperta
a ânsia de ser alguém.

A velhice é calmaria,
mocidade é furacão.
Quem cem anos não daria
para sofrer no tufão?

Se alegria é passageira,
a tristeza também passa:
- Uma é chama de fogueira,
outra é nuvem de fumaça.

A lágrima mais doída,
que faz nossa alma sangrar,
é a que se traz escondida,
com vergonha de chorar.

Quem semeia sempre colhe,
quem planta flor, colhe flor.
Mas nem sempre a gente escolhe
boas sementes de amor.

Chuva fina faz a rosa
desabrochar e crescer.
Carinho é chuva gostosa
que faz o amor reviver.

Estiquei, abri meus braços,
fiz de meu corpo uma cruz.
Quisera nos meus abraços
crucificar-te de luz!

Trovas de riso e de pranto,
trovas do bem e do mal,
juntas são meu livro santo,
minha Bíblia, meu missal.

A frágil luz do candeeiro,
que sempre apaga ao ventar,
tal qual a vida, é luzeiro
bem fácil de se apagar...

Encontramos na humildade
uma prova bem real:
- só é grande, de verdade,
quem nã parece que é tal.

É surdo-mudo e me fala,
é cego, mas tudo vê.
Meus segredos sabe e cala:
Quem é? - Espelho, é você!