IX Concurso Literário "Cidade de Maringá" 2021

 

IX Concurso Literário “Cidade de Maringá”

             Temas: Humildade e Orgulho

 

Modalidade: Trova L/F  Tema: Humildade

Ordem alfabética

 

a-   Novos Trovadores

 

Deise Machado   -  Ponta Grossa – PR  

O caminho que conduz,

todos nós à eternidade

é guiado pela luz

dos que vivem na humildade.

 

Fernando Antônio Belino    -  Sete Lagoas – MG    

 

A cena do lava-pés

à humildade dá sentido:

um rei que serve, ao invés

de ser por todos servido.

 

Marina Caraline de Almeida Carvalhal  - Itaperuna – RJ     

 

Você já se imunizou

contra o orgulho e a presunção?

A vacina já chegou:

- É a humildade, meu irmão!

 

b- Veteranos

 

Edmar Japiassú Maia  -  Miguel Pereira – RJ     

 

Sou humilde, mas um forte

no alcance às metas que traço...

O impulso quem dá é a sorte:

o resto sou eu que faço!

 

Francisco Gabriel - Natal- RN     

 

O luxo da nau se rende

quando, no mar, perde a proa,

e a sua sorte depende

da humildade da canoa. 

 

Jerson Lima de Brito - Porto Velho – RO    

 

Quem segue a luz da humildade,

aprende sempre e assegura:

esta vida é faculdade

que não chega à formatura!

 

Márcia Jaber - Juiz de Fora – MG    

Pura humildade há nos gestos

de quem, dentre a luta e a dor,

vive de sobras e restos

sem perder a luz do amor.

 

Maria Lúcia Daloce - Bandeirantes – PR    

 

Humildade não tem norma,

vai além dos horizontes...

É crer no bem que transforma

as mãos humanas...em pontes!

 

Roberto Tchepelentyky - São Paulo – SP   

Em cada dia, a humildade

nos ensina uma lição...

É um degrau da humanidade

na escala da evolução!...

 

Sérgio Fonseca - Mesquita – RJ   

 

Humildade é ter capricho

de rio quase sem voz

que, afogado em tanto lixo,

passa cantando por nós...

 

Modalidade: Trova Humorística

Tema: Orgulho

Ordem alfabética

 

a-   Novos Trovadores

Fernando Antônio Belino - Sete Lagoas – MG   

Tenho orgulho, sim senhor,

desta pança avantajada!

É longo caso de amor

com cerveja e feijoada!

 

Fernando Antônio Belino - Sete Lagoas – MG   

Meu bem, deixa desse orgulho,

bota um sorriso no rosto.

Vamos nos casar em julho,

para, enfim, entrar agosto.

 

José Maria Luz e Silva  -  Maceió – AL 

 

Sai com orgulho o farrista

ficando em casa quem ama

que assim que ele sai de vista,

coloca outro em sua cama...

 

b-Veteranos

 

Abílio Kac  -  Rio de Janeiro – RJ

A esmeralda, tão charmosa,

pelo orgulho de seu nome,

escreve “Pedra Preciosa”

no lugar do sobrenome.

 

Arlindo Tadeu Hagen  - Juiz de Fora – MG    

Caiu... de “orgulho” no chão

e o pior foi ter ficado,

na frente da multidão,

com o orgulho enlameado!...

 

Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho  - Juiz de Fora 

Um orgulho me consola,

diz vovô e se emociona:

- saber que a velha pistola,

  quando preciso, funciona!

 

José Ouverney  -  Pindamonhangaba – SP  

Sou “virgem” e não me orgulho:

e vou lhe explicar, colega:

é que eu não pego “bagulho”

e o “filé” nunca me pega!

 

Márcia Jaber  -  Juiz de Fora – MG    

Com muito orgulho, a gordinha,

diz, ao medir a cintura,

não estar fora da linha,

o que sobra é gostosura.

 

Paulo Roberto de Oliveira Caruso - Niterói – RJ   

Por ser trovadora e médica,

tem orgulho acalentado;

montou clínica ortopédica

às trovas de pé quebrado!

 

Renata Paccola  -  São Paulo – SP 

Orgulhoso, vence apostas,

pois sabe quem vai jogar,

e se dá bem nas respostas:

- Como vai? – Nem bem Neymar!

 

 

Modalidade: Poema Livre

 

1º Lugar: Maria Cristina Bonafé

São Paulo SP 

 

CORES  NOS OLHOS

 

Na face escrevo o que queria ser

A ficção mais linda,

o inventar do sonho no conto que finda

no rubro sorriso do bem-querer.

Na pálpebra, um traço preto escreve um texto,

um sorriso de delineador no rosto pálido.

 

Mas surge a vida de olhos abertos

a brotar uma secreta lágrima.

A gota extravasa, pinga sobre a saia...

Na pauta verídica, de utopia despida,

o traço preto derrete, escorre.

Exibe a emoção aflita

no roteiro sem argumento

impresso no borrão desconexo

 

Mas vem o removedor que limpa

para escrever novo roteiro.

O olhar nu segue

a redigir a garra da vida.

Novo texto na face, com cores sortidas

para começar nova história.

Era uma vez uma menina...

na mulher que a olha.

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2º Lugar: Maurício Cavalheiro

Pindamonhangaba – SP 

 

BASTIDORES

 

O espelho está cansado

de contar as minhas rugas

de abandono, de saudade

e de velhice.

 

Os sulcos verticais

que descem dos meus olhos

são leitos lacrimais extintos.

 

Às vezes necessito ir embora,

mas desisto:

o espelho me convence

a mais uma maquiagem.

 

E assim eu vivo

restaurando a minha face

sem ainda encontrar uma maneira

de cerzir a minha alma.

 

E assim eu morro

mergulhada em meus segredos...

Ninguém precisa 

saber meus silêncios.

 

3º Lugar: Lília Maria Machado Souza

Curitiba – PR 

 

APRENDIZ

 

De seus seis anos

observa a mãe se arrumar.

Sombra e rímel

lápis e blush.

Com brilho nos olhos 

aguarda: o batom.

Cada dia uma cor.

Sorri deslumbrada.

-- Mamãe, você está linda!

-- Estou, amor?

-- Está mais linda, mamãe!

Mamãe tem que ir.

Troca abraços e carinhos 

com a ridente pequena.

Dá-lhe um beijo vermelho

na ponta do nariz.

A menina corre ao espelho.

Olha-se demoradamente.

Sorrindo, sonha...

Um dia será moça.

Usará maquiagem.

Já sabe cada passo.

Será tão linda

quanto a mamãe.

E terá uma filhinha

que a observará e lhe dirá entre sorrisos:

Mamãe, você está linda!

 

Modalidade: Soneto

 

1º Lugar: Pedro Ornelas

São Paulo 

 

NA PALESTINA

 

Ao pó da estrada exposto e ao sol crestante

da velha Palestina, em tempo antigo,

nunca faltava alguém que desse abrigo,

ao longo da jornada, ao caminhante.

 

E além da provisão que era abundante

-pão, frutas, leite, vinho, azeite e trigo –

um serviçal, do andejo, em gesto amigo,

lavava os pés, num banho refrescante.

 

Mas, certa vez, lavando os pés foi visto

de doze servos, por quem deu a vida

um grande Rei a quem chamavam Cristo,

 

Nunca entendeu, no entanto, a humanidade,

a plena essência da lição contida

naquele incrível gesto de humildade!

 

 

 

2º Lugar: Jerson Lima de Brito

Porto Velho – RO    

 

 

HUMILDADE

 

O aprendizado é meta conhecida

De quem, travando luta corriqueira,

Enxerga na imodéstia a carcereira

Dos sonhos, alimentos desta vida.

 

Às vezes, é preciso que a fronteira

Entre verdades seja suprimida

E prevaleça aquela desprovida

De falhos fundamentos, traiçoeira.

 

O ser humano, sábio e renitente,

Persegue a perfeição e está ciente

De ser inatingível seu anelo.

 

Se à trilha falta claridade,

Mudar o rumo é prova de humildade

E não de covardia, no duelo.

 

 

3º Lugar: Pedro Ornelas

São Paulo – SP 

 

CONSELHOS

 

Bem cedo, da relva pisando no orvalho,

enxada nas costas, moringa na mão,

meu pai, pelo trilho, eu ainda pirralho,

na frente dos filhos puxava o cordão.

 

Chegava a colheita dobrava o trabalho!

Depois tinha festa na casa de chão.

“ A Luta é o caminho... Não busque um atalho”.

Meu pai, pelo exemplo, ensinou-me a lição.

 

“Cultiva a humildade!”, foi sempre o conselho,

Dizia e fazia, servindo de espelho,

Guiando seus filhos na trilha do bem.

 

Agora esse tempo bem longe já vai,

E aquelas lições que aprendi com meu pai,

Meu filho, eu espero que aprendas também!

 

 

Modalidade: Crônica

 

1º Lugar: Rogério Amaral de Vasconcellos

Piedade – RJ    

 

 

 

TRISTE FIM DE UMA SARDINHA

 

Estamos no ano 1556 na nova era.

A era podia ser nova, mas as cabeças eram velhas.

Sendo a humildade, um artigo escasso, os conquistadores faziam o mesmo papel de sempre: chegar, tomar e catequizar.

Pelo menos foi o que pensou o bispo Pedro Fernando Sardinha, o primeiro do Brasil. Seria somente mais um trabalho, a serviço de Deus, a serviço da Igreja,  digo, a serviço de religião qualquer que servia ao deus do interesse, eleito pela maioria, mesmo que nem houvesse ou fosse tão incipiente a democracia naquela época. 

Humildade mais comum estava em aceitar que os ímpios deviam se jogar no chão e idolatrar os conquistadores, pois a verdade estava com eles. 

Mal sabia a sardinha que naquele rio infestado de piranhas e mar por tubarões, jacarés e iaras nadavam de costas. 

Pois é. 

Mesmo sendo intolerante à carne, com um estômago fraco, Sardinha, sempre frugal em suas refeições, tinha o fator genético e a palidez certa para se mostrar um bem fornido chouriço. O menear da bunda farta, sob a batina, ajudou os nativos a associarem o invasor, sempre cercado de homens blindados, com lanças, escudos, arcabuzes e espadas, como um alimento pastando tranquilamente no piquete. 

Sim. Eles viram na sardinha a presa, uma forma de churrasco coletivo que aldeia, através de seus estômagos, aspiraria degustar e, por associação, tornar-se tão resiliente aos perigos lançados nas costas das terras deles pelo refluxo das marés. 

A sardinha, o salmão brasileiro, se foi.  Nem deu congestão.  Abundante em ômega-3, conformou os curumins, aprendizes de antropófagos. 

Pelo menos essa foi a versão terrível contada pelos brancos (tirando o ômega-3),  servindo de pretexto para o ataque aos índios caetés, em época na qual a palavra pretexto tinha contexto hermético.  Mas havia outra mais em voga e popular: chacina. E mais uma ...

Intolerância. 

E onde fica a humildade nisso?  Em reconhecer nossa limitação. 

 

 

2º Lugar: Amélia Marcionila Raposo da Luz

Pirapetinga –MG

 

 

GUARDASSOLI

 

Dona Zizinha mandar Ataliba, moleque de quintal, ir à venda no arraial buscar quitandas. Encomendara várias coisas e deu-lhe alguns trocados a mais e um velho e desbotado guarda-sol porque ameaçava chuva forte. Ataliba, chapéu de palha, camisa de zuarte xadrez, calça de brim barato, remendada, herdada do irmão mais velho, arrumou-se assim vestido em “gala” e montou a égua chamada Baiana saindo em disparada. No meio do caminho parou no pomar vizinho do João do Zeca e esqueceu-se da vida saboreando frutas diversas. De nada adiantou o pedido da patroa para que ele voltasse cedo porque o tempo estava zangado. 

Demorou, demorou escutando as prosas nas portas das vendas do Joaquim Candinho, do Antônio Bifano, do português Porfírio Fernandes e da padaria do Miguel Marino. A tarde caiu, a noitinha chegou e ele só apreciando as coisas diferentes do arraial nem percebeu que a chuvarada chegava violenta, derrubando árvores, levando os telhados. 

Desceu o temporal! Horas e horas depois chegou no sítio do Valão da Caçada ensopado e tremendo de frio, todo apressado com as quitandas encharcadas dentro do bornal de algodão branco, bordado com linha Corrente colorida, tendo uma ilustração de ramos de trigo maduro e a palavra PÃO em ponto cheio. Roscas e pães enormes, inchados dentro do saco alvejado. Tudo perdido! 

Dona Zizinha muito brava perguntou, aflita, sem saber o que comer no café da noite: 

- Ataliba, seu molequinho danado, por que você não abriu o guarda-chuva e num voltou mais cedo? ?? Essa sua mania de escutar assuntos nas portas tem que acabar!!!

 Ao que ele respondeu dentro da sua inocência: 

- Uai, a “inhora” “ falô qui” era “guardassoli”!!!  “Si” a “ inhora” tivesse falado “qui” era guarda-chuva eu tinha “abrido”.  “Pru” causa “diss tô ansim”, todo “ moiado”.

E o Ataliba, tão pobre e humilde foi para a beira do fogão à lenha para se esquentar ouvindo o sermão da Dona Zizinha que não parava de ralhar com ele, colocando batata-doce no braseiro para servir café.

Êta vidinha dura, sô!!

 

 

3º Lugar: Cássio Roberto Gonçalves Pereira

Londrina – PR    

 

A MÁSCARA

 

A máscara, meu senhor, pelo amor de Deus, a máscara, exclamou pela terceira vez, já exaltado, o motorista do ônibus metropolitano para o passageiro, um senhor de uns 70 anos, que entrara no veículo apenas com a boca protegida pelo tecido. Envergonhado diante da atenção repentina dos outros passageiros, que também se puseram a ajeitar as próprias máscaras, o senhor encobriu o nariz, pediu desculpas e apontou para as orelhas onde jazia um par de aparelhos auditivos. Não escuto direito, revelou. 

Era um homem simples e elegante. Dos cabelos tingidos e cuidadosamente penteados para trás escapavam poucas raízes brancas. O paletó preto, a camisa listrada disposta dentro da calça, o cinto e o chapéu marrons, nada em seus trajes era novo, mas o conjunto demonstrava raro asseio. O ônibus já andava e pelas janelas desfilavam as fachadas multicoloridas da cidade grande, os muros pichados de garranchos, o jovens em curtos trajes, as ruas esburacadas, os carros enfiando-se nos menores espaços de forma a abreviar-lhes o destino.

O senhor olhava inquieto para os passageiros vizinhos e, estabelecido o primeiro contato visual, começou a narração.  Na sua época, as senhoras eram mais elegantes, os carros diferenciados, as ruas mais limpas, as tardes mais longas, as canções mais belas...  Professor aposentado de Filosofia. Casara e fora muito feliz: “ela iluminava os meus dias”, sorria. Não tiveram filhos, apenas cães aos quais, por diversão, davam nomes de gente. Fomos muito felizes, repetia. Os tempos eram outros: as pessoas olhavam-se nos olhos, tinham cultura, educação, ah como eram bons aqueles tempos! 

A esposa falecera há 6 meses. Restara-lhe apenas o cão, Oswaldo, muito debilitado pela idade. O veterinário revelara que o bicho sentia muitas dores, pedira que considerasse o sacrifício. A princípio, abominara a ideia - onde já se viu matar? Hoje reconsidera: se o velho cão sofre porque não antecipar-lhe o alívio? O mundo mudara terrivelmente, não tem a mesma graça, nem café tem mais gosto de café. Por que não? 

Da inquietação à melancolia, o olhar distante de quem busca na noite da mente palavras que lhe formatassem o espírito. “Só nos resta a humildade. Humildade perante a vida, o humildade perante o tempo, humildade perante a morte. As coisas começam. Crescem e logo terminam”, disse finalmente. “Talvez seja melhor antecipar o alívio”. O nariz estava novamente fora da máscara. O ônibus lotado avançava.