Martha Medeiros

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

 

Martha Medeiros (Porto Alegre, 20 de agosto de 1961) é uma jornalista e escritora brasileira.

   Filha de José Bernardo Barreto de Medeiros e Isabel Mattos de Medeiros, é colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro. Casou-se com o publicitário Luiz Telmo de Oliveira Ramos e tem duas filhas. Estudou no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, tradicional de Porto Alegre, localizado nos arredores do bairro Moinhos de Vento. Formou-se em 1982 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.

   Trabalhou em propaganda e publicidade, mas logo se sentiu frustrada com a carreira. Quando seu marido recebeu uma proposta de trabalho no Chile, decidiu que uma mudança de país seria uma ótima oportunidade para dar um tempo na profissão. Esta estada de nove meses no Chile, na qual passou escrevendo poesia, acabou sendo um divisor de águas na sua vida. Quando voltou para Porto Alegre, começou a escrever crônicas para jornal e, a partir daí, sua carreira literária deslanchou.”

POESIA REUNIDA

Martha Medeiros 

Strip-Tease, 1985

 

30.

este sol não me engana

ta se pondo pra me pôr na cama

 

34.

sou uma gata

que cruza

outros gatos

na rua

 

quem vê gata

assanhada

logo fica

engatado

 

44.

quando dou pra ti

sou mulher

 

quando dou por mim

solidão

 

46.

bicho papão

viu moça em flor

e papoula

 

Meia-Noite e um Quarto, 1987

 

48.

não tenho mais idade

pra brincar de esconde-esconde

vem me pegar

 

58.

amor por correspondência

tem problema de fuso horário

ele me entende tarde demais

eu desisto dele muito cedo

 

59.

minha boca

é pouca

pro desejo

que anda à solta

 

68.

o término da nossa relação

foi pra mim um choque térmico

não senti mais teu calor

nunca te vi tão frio

 

Persona Non Grata, 1991

 

116.

você chegou com uma nova versão

do passado

e mais que apressado

esqueceu

que o que passou

ficou do meu lado

 

119.

te alcançar

é como estar nas filas intermináveis de Moscou

quando chega a minha vez

acabou

 

123.

o que uma guitarra faz

nenhum rapaz comigo já fez

 

126.

dois, quatro, seis, oito

o par é tranqüilizante

 

um, três, cinco, sete

o ímpar é o amante

 

De Cara Lavada, 1995

 

174.

era verão ou qualquer troço assim

lua cheia ou algo parecido

uma saudade ou quase a mesma coisa

era amor ou mais ou menos isso

 

176.

pra morangos, digo sim

pra ciganos, digo sim

pra candangos, digo não

pra fulanos, digo sim

pra sopranos, digo sim

pra capangas, digo não

pra moicanos, digo sim

pra romanos, digo sim

pra malandros, sim e não

 

178.

toda mulher tem um homem que se foi

um homem que a deixou por outra

um homem que a deixou por um câncer

um homem que nem mesmo a notou

um homem que a deixou por um ideal

um homem que sumiu num temporal

um homem que não passou de dois drinques

toda mulher tem um homem que se foi

um homem que foi pego em flagrante

um homem que prometeu um brilhante

um homem que saiu pra jogar

toda mulher tem um homem

que esqueceu de voltar

 

186.

uma amiga

tem embaixo do colchão

marco alemão

 

eu tenho mais do que dinheiro

em cima do colchão

um brasileiro

 

189.

é sempre uma grã-fina

a primeira a reconhecer

uma libertina

 

235. (O final)

de mim, que tanto falam

quero que reste

o que calei

que tanto rezam por mim

quero que fique

o que pequei

de mim, que tanto sabem

quero que saibam

que não sei

 

Martha Medeiros, em seu terceiro livro, repete a dose. Nem melhor, nem pior. Apenas excelente. Tem mais; brincando, brincando o que Martha faz é poesia de amor. Tem mais ainda – é absolutamente compreensível, sobretudo para quem compreende.
Millôr Fernandes sobre Persona Non Grata

 

“Ela conquistou voz pessoal e inconfundível. Deve-se esperar muito mais de Martha Medeiros, que revela ter armas suficientes para transformar o tempo no melhor aliado do seu talento cintilante.
Caio Fernando Abreu sobre De Cara Lavada