Miguel Kopstein Russowsky

    MIGUEL KOPSTEIN RUSSOWSKY filho de Jacob Russowsky e de Eva Russowsky, nasceu em 21/06/1923 em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Casou-se com Vitória Toaldo Russowsky e teve quatro filhos. Empresário bem sucedido, além de médico, radicou-se em Joaçaba/SC, onde residiu até sua morte, ocorrida na tarde 03 de outubro de 2009. 
  
Além de grande trovador, um dos mais exímios sonetistas brasileiros.
                                     Sua obra:
Céu de Estrelas – 1951 (reeditado), O Julgamento de Tiradentes – 1980 (peça teatral), O Segredo do Pântano – 1983 (peça encenada pelo Grupo Teatral Eugênio Marcheti, de Herval d´Oeste), Poesias Melancólicas – 1994, Noite de Lua – 1996, Cadeira de Balanço - 1998, Confeitos de quimera – 2000, Cantares de um vulcão quase extinto – 2005

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A saudade às vezes fala,
e até grita - quem diria?-
quando a rede, a sós, se embala    (M. Honrosa Niterói 2008)
numa varanda vazia.

Este dístico singelo      (Maranguape 2008)
a verdade satisfaz:
caneta, arado e martelo
são os arautos da paz.

 

Os murmúrios das gaivotas ,             (Niterói 1995)
em noites de luz cheia ,
são canções deixando as notas
nas pautas brancas da areia.

O silêncio às vezes fala
de saudades -- Quem diria!           (Pouso Alegre-2007)
quando a rede, a sós, se embala
numa varanda vazia.

Quanto mais o tempo avança,
mais eu fico a perceber
que a saudade é uma lembrança
que se esquece de morrer.

A saudade às vezes fala
e até grita -- Quem diria!            ("Grito"-São Paulo-2004)
quando a rede, a sós, se embala
numa varanda vazia.

O tempo não traz perigo
à verdadeira amizade.
Quem não é mais teu amigo,
jamais o foi de verdade.

O tempo escreve a seu gosto
no passar do dia a dia,
muitas rugas no meu rosto,
mas... tem má caligrafia.

Na blusa prendes a rosa
à altura do coração.
Como pode ser viçosa
uma flor sobre um vulcão?

Cupido sempre intercala
alguma perda em desejos:
se me beijas... perco a fala;
se me falas... perco os beijos!

Cupido avisa aos poetas
e também aos namorados
que seus estoques de setas
foram todos renovados!

Meu cupido é deus macabro,                     (Venc. Museu Anchieta SP  1997)
põe milagres no lampejo.
Não estás, se os olhos abro...
fecho os olhos e te vejo.

Se te serves de mentiras
para cresceres em ganho,
é bom que logo confiras
que encurtaste no tamanho!

A vila reza, orvalhada,
tendo o sol por capelão...
- Homem no cabo da enxada
é uma espécie de oração!

Na trova, às vezes, invento
emoções e não as sinto.
Mas creia no meu talento,
sou sincero quando minto!

Nesta vida hostil e azeda
e desespero sem par,
rogo a Deus que me conceda
a coragem de sonhar.

Tendo à mão uma caneta
mais o empenho a manejá-la,
vou mesmo a qualquer planeta
sem sair daqui da sala.

O papel é a carruagem
que eu dirijo da boléia.
Tomo as rédeas da viagem
dando açoites numa idéia.

Estrofes são caravelas
que singram os pensamentos.
Com as rimas, faço as velas,
com as sílabas, os ventos.

Pelas ciladas que trama,
a Insônia é mulher-perigo:
marca encontro em minha cama,
mas não quer dormir comigo!

O poema é luz imensa
que se espalha em frenesi.
Por isso o poeta pensa
ter um deus dentro de si.

Pela vida me foi dado
um conselho em que me alerto:
antes rir desafinado
que soluçar no tom certo.

Ser caule, flor ou ser folha
não é sorte nem é sina,
pois de antemão tal escolha
se fez por ordem divina.

A humanidade até gosta
de não saber a verdade,
quando a mentira, bem posta,
lhe trouxer felicidade.

Vai para o mar a jangada
tendo um sonho por escolta.
Volta sem peixes, sem nada,
nem o sonho traz de volta.

Há balanços conflitantes      (M. Honrosa Pouso Alegre 1996)
em vidas fúteis e loucas:
os outonos são bastantes
e as primaveras bem poucas.

Quatro versos num estojo,
mas além desta embalagem,
a trova deve, em seu bojo,
comportar uma mensagem.

Dou às trovas que componho
tempo, amor, astúcia, empenho,
mais as asas do que sonho...
Mais não dou, porque não tenho.
 

O amor no moço é fogueira,
em ardente combustão,
mas no velho é uma lareirta
com mais cinzas que carvão.

Dos fados em que sou réu,
há sucessos tão estranhos...      (Menção Especial Elos SP - 1989)
Chego a ver o azul do céu
morar em olhos castanhos...

O tamanho dos abismos
que puseste em nossas vidas
não se mede em algarismos
mas em lágrimas vertidas.

Sob o sol, a voz do arado,     (Menção Especial Curitiba - 2003)
no início da semeadura,
vai anunciando o noivado
entre o suor e a fartura.

Viúva, ao vê-lo enforcado:          (Menção Honrosa em Porto Alegre - 1999)
- Enfim (falava do Zé)
tem seu defeito curado:
hoje está duro... e de pé!