Sobre a neurose do Plágio

SOBRE A NEUROSE DO PLÁGIO  (texto do Prof. Pedro Mello)

     Existe uma espécie de neurose, que acomete as pessoas que se dedicam à Poesia, em especial à Trova: o medo do plágio. O medo de plagiar alguém ou de ser acusado de plágio é impressionante... Um trovador chamado Rodrigues Crespo assim se manifestou sobre o plágio:

Originário de um surto
de inspiração impudica,
o plágio é o único furto
que o próprio ladrão publica...

     Creio que a definição fale por si só. Quer dizer, o plagiador é alguém que copia a idéia ou o escrito alheio, certo? Certo. Mas alguns, no terrível afã moralizante, purista e até mesmo furibundo, vão além do conceito clássico: consideram o emprego de uma rima ou de um título como plágio.

     E aí, principalmente no âmbito da UBT, que congrega poetas dedicados a outras formas de composição literária, além da Trova, como o soneto ou a prosa na forma de conto, crônica ou romance, "o bicho pega"!

     No caso específico da Trova, o risco é grande: o sem-número de concursos e Jogos Florais, com temas parecidos e de campo semântico semelhante, o risco de se copiar outrem ou a si mesmo (autoplágio?) é muito grande. E, para consternação geral, o problema é insolúvel: o fim dos concursos seria o fim da UBT e não há como fugir dos mesmos temas e das mesmas idéias afins. Estamos diante de um círculo vicioso.

     Uma grande trovadora de São Paulo foi acusada de plágio porque empregou a rima "CD/você", que outra já usara antes. A trovadora que “inventou” a rima, furibunda, acusou a outra de plágio, tornou-se sua inimiga declarada e passou, muito generosa e desprendida, a hastear a bandeira do "Fora Plágio" e difamar a irmã trovadora o quanto pôde e pode, que recebeu o gracioso epíteto de “Medusa”. Fora armado um barraco digno da Guerra de Tróia.

     Depois o "biltre" fui eu. Querendo homenagear a Grande Personalidade (que tolice a minha! - homenagear pessoas de ego inflado é bobagem: elas se auto-homenageiam sempre...), dei o título latino de um conto seu a um soneto que eu pretendia publicar no "Fanal", o jornal de Poesia da "Casa do Poeta 'Lampião de Gás' de São Paulo", com a observação de que era uma homenagem a ela. Fui cometer tamanho disparate para quê?! Entrei para o time dos "infames" iguais à “Medusa” e também fui agraciado com a sua deliciosa inimizade, sendo da mesma maneira altamente favorecido com o epíteto de vil e nefando plagiador, de “meduso”, elevadas expressões de um espírito nobre, das quais não quero nem preciso me defender.

     E creio ter entrado para a notável galeria de grandes homens, como Judas Iscariotes, Silvério dos Reis, ou Idi Amin Dada...

     Evidente que usar uma rima ou o mesmo título não constitui plágio. Quantas centenas de poemas devem ter o título de "Solidão", "Saudade", "Ciúme", "Tristeza", "Remorso", "Angústia", "Dor"... Quantas vezes se devem ter forjado rimas com neologismos!

     Plágio é a reprodução, a cópia descarada do trabalho alheio. A mesma idéia, o mesmo "achado". Se eu disser que alguém está "mastigando a própria fome", sem dúvida estarei plagiando Durval Mendonça:

Meio dia... sol à pino...
E a mãe, que a mágoa consome,
lamenta ver seu menino
mastigando a própria fome!

     Mas se rimar come/nome/fome/some não estarei copiando o achado de ninguém... Se der ao meu poema um título desse jaez, estarei, no máximo, cometendo o pecado da banalidade, do lugar-comum, do clichê, que é mais desprezível do que o plágio e as pessoas não percebem! Ora bolas! Por que as pessoas "coam o mosquito e engolem o camelo", como diria Jesus Cristo? Por que essa atitude farisaica tão presente?

     Falando em plágio, minha grande amiga Divenei Boseli, preocupada, me enviou tempos atrás um e-mail prevenindo-me de que o título "Paradoxo" que usei em um soneto recente já fora usado por ela e que alguém poderia me acusar de plágio, embora ela pessoalmente não comungue com essa opinião débil. Como eu não estava satisfeito mesmo com o título, não custou nada aceitar a sugestão da Amiga e pus o título de "Contradição". Agora, se alguém já usou esse título... Sinto muito! Não sou neurótico. Tenho outras preocupações mais importantes do que me desgastar com a idéia de plágio... Agora, se alguém me achar plagiador, paciência. Não ligo para essas bobagens...