SERÁ QUE ESSA TROVA É MINHA? (10.11.2006)
A Biblioteca Pública de Pindamonhangaba tem livros sobre a história da Trova, que são verdadeiras relíquias. Ou ali chegaram pelas mãos de Orlando Brito, ou foram doados pelo prof. Lauro Silva. Dia desses tive a oportunidade de ler um deles, de autoria de Eno Teodoro Wanke, intitulado: “O Trovismo”, no qual ele descreve o nascimento da Trova em inúmeros paises, até chegar ao Brasil, que passou a ser seu berço definitivo.
E cada livro que lemos representa mais um aprofundamento em todos os quesitos dessa apaixonante modalidade poética. Acabamos tomando conhecimento de curiosidades,como esta, por exemplo:eu sempre conheci uma trova do famoso Belmiro Braga:
Quanta vez, junto a um jazigo,
alguém murmura de leve:
— Adeus para sempre, amigo!
E diz-lhe o morto: — Até breve!
Na “Coleção Trovadores Brasileiros”, compilada por J.G. de Araújo Jorge e Luiz Otávio, essa trova aparece no volume “100 trovas de Belmiro Braga”. Já no livro de Eno Teodoro Wanke consta que a obra seria apenas a tradução de uma quadra cujo autor é o médico Francisco J. de Hoyos,que aparece na página 36 de “Mi Primer Libro”, editado em Sevilha, Espanha, em 1.873. Acompanhem:
Camino del cementerio
se encontraron dos amigos:
Adios – dijo el vivo al muerto.
Hasta luego! – El muerto al vivo.
Outro exemplo é uma trova que guardo entre as minhas preferidas, de autoria de Mário Quintana, nosso imortal poeta:
Não se abra com seu amigo,
que ele um outro amigo tem,
e o amigo do seu amigo
possui amigos também!
Quanta ironia! Ainda segundo o Eno, um dos maiores historiadores que a Trova já teve, no livro “Os Cancioneiros Populares Portugueses”, de Catarino Cardoso, a quadra no.. 193 vem assim definida:
Tem juízo: não descubras
a tua vida a ninguém.
Uma amiga tem amigas;
outra amiga, amigas tem.
E agora, José? Desta vez o controverso tema envolve nomes de peso da literatura nacional.
E ainda há a considerar uma trova premiada no ano de 2006 em Pouso Alegre, no tema "Segredo". Acompanhem-na:
Se for segredo, não diga,
e nem confie em ninguém,
pois saiba que sua amiga
tem uma amiga também.
Eis um tema que continuará a ser controverso, enquanto existir a humanidade.
Provas, versões, contraprovas...
E hoje a dúvida me vem:
serão “minhas”, minhas trovas,
ou pura “herança” de alguém?
Tire o leitor suas conclusões porque eu, se já confuso andava, mais confuso ainda fiquei! -------------------------------------------------------------------------------------