Soares da Cunha

          Oswaldo SOARES DA CUNHA nasceu em Baguari, município de Figueira do Rio Doce, hoje Governador Valadares, em 25.02.1921.  Casou-se com D. Ivelyse Carmelita Sigismondi Lobo (artista plástica). Entre os muitos livros publicados, cito: "Maria', "Pastor das Nuvens", "Lua no Poço" e "Torre Sondra", todos de trovas, e "Sangue da Alvorada" e "Rosa dos Ventos" - poemas.

     A respeito de Soares da Cunha, Luiz Otávio já dizia:  "Se, como escreveu certa ocasião Eloy Pontes, as trovas constituem a prova de fogo dos poetas, Soares da Cunha venceu galhardamente essa prova... O seu livrinho “MARIA” é a prova irrefutável desta afirmação. O delicado poeta, residente em Belo Horizonte, é um trovador rico espontâneo, cheio de lirismo e emoção.” Escrevi estas palavras em 7 de setembro de 1946.

     Quando organizava “Meus Irmãos, os Trovadores”, Coletânea de duas mil trovas de autores brasileiras e divulgava pela imprensa do Brasil e Portugal quadras de centenas de trovadores, escrevi numa página mimeografada: “Oswaldo Soares da Cunha. forma com Djalma Andrade e Nilo Aparecida Pinto um trio magnífico de trovadores de Belo-Horizonte. E' natural de Minas Gerais, advogado e muito jovem. Em 1943 estreou com o livro “Estrela Cadente”; no ano seguinte publicou um belo e raro conjunto de trovas “Maria” e a seguir: “Rosa dos Ventos” e “Quadras”. Sua especialidade é a trova, e, aí, poucos o podem igualar. E' um trovador esplêndido, de um lirismo e graça que encantam. Muitas de suas trovas quer sejam líricas, filosóficas, mordazes ou regionais, são dignas de Antologia. Suas quadras já estão bem espalhadas pelo Brasil e Portugal.” (Rio, 14-1-1951)

     Em 1954 comentei em outra crônica: “Soares da Cunha, trovador mineiro, envia-nos de Belo Horizonte “Quadras e Pensamentos” - da Editora Acaiaca. O poeta, já bastante conhecido e apreciado, é, sem dúvida alguma, um grande trovador.”

     Finalmente, em 1962, enviou-me o trovador seu último livro “Mínimas” composto de pensamentos e trovas. Que poderia dizer mais? Pelas linhas que acabaram de ler podem aquilatar a sincera e antiga admiração que tenho pelo trovador Soares da Cunha. As minhas palavras não devem ser tomadas como uma, apresentação, pois o autor é bastante conhecido e dela não necessita.
                                            
                  Rio, 12-11-1963     LUIZ OTAVIO
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SOARES DA CUNHA = falecido em Belo Horizonte, no dia 29 de junho de 2013, aos 92 anos e 4 meses.
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O poeta, estranho ser              
que vive sempre a sonhar,                     
olha esse mundo sem ver,              
tendo outros mundos no olhar.                  

A mulher quando é bonita,              
modelo de perfeição,              
faz muito bem para a vista,                        
mas faz mal ao coração.     

Nas claras manhãs de Minas,              
a andorinha de asas pretas                  
é uma criança traquinas                
dando no céu piruetas!

No fundo da casa enorme
ouço alguém a ir e vir:
 - é o relógio que não dorme
e não me deixa dormir.          

Por isso estão sempre em luta
em cima, as vagas do mar:
a posição que uma ocupa,
outra não pode ocupar.

 Reflete, a mulher que viste                      
passar há pouco na rua,             
seu encanto, em que consiste?
- Apenas em não ser tua.  

    Perco o tempo, se te espero;             
mas em verdade eu te digo              
que de novo o recupero,                     
quando me encontro contigo. 

 Ah! quem nos dera, querida,
 por um capricho da sorte,     
que, vivendo a mesma vida,
nos matasse a mesma morte! 

 Pequena assim, - que contraste!            
 Assim pequena, meu bem,              
depois que em meu peito entraste                      
não coube aí mais ninguém?             

Quando penso nos teus seios,
minha mão, devagarinho,
vai, em ternos devaneios,
tomando a forma de um ninho.

 Por mais alto que cheguemos,
sempre a ambição é mais alta:
nunca vemos o que temos,
só vemos o que nos falta.

Confesso que me arrependo,
quando fico a me lembrar
dos pecados que, podendo,
eu deixei de praticar.

Juntos, ficamos calados.
Também, para que falar?
Entre dois enamorados,
basta a linguagem do olhar.

Coração, reflete bem,
procura outro bem-querer;
é inútil bater por quem
só gosta de te bater.

 Um susto a terra sacode,
quando estridente e sonora,
atrás dos montes explode
a gargalhada da aurora.

 Quase sempre é aborrecida
toda festa preparada:
a alegria, nesta vida,
não chega em hora marcada.

 Felizes nunca seremos,
pois que sempre desejamos
ter aquilo que não temos
e estar onde não estamos.

 Rosinha tem tanto pejo
e tanto horror ao prazer
que, no momento do beijo,
fecha os olhos pra não ver...

Ao homem sempre se fala
que escute a voz da razão;
mas é que a razão se cala,
quando fala o coração.

De querer-te como quero,
que culpa é que posso ter?
Bem sabes que sou sincero,
se te quero é sem querer.

 Amigos que não convêm
são aves de arribação:
- Se faz bom tempo, eles vêm...
- Se faz mau tempo, eles vão...

 Homem! não sofras à toa
buscando o conhecimento:
olha o pássaro que voa
sem teorias do vento.

Traz o vento ao meu ouvido,
das matas por onde erra,
o cantar longo e sentido
de um sabiá lá na serra!

ALGUMAS DE RIMAS SIMPLES:
 

Aos olhos cheios de afeto
da mãe que o viu pequenino,
seja qual for sua idade,
o filho é sempre um menino.

Saudade, sombra, fantasma,
coisa que bem não se explica:
algo de nós que alguém leva,
algo de alguém que nos fica.