Dorothy Jansson Moretti

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DOROTHY JANSSON MORETTI:

catarinense de Três Barras, nascida no dia 16 de janeiro de 1926, filha de Claro Gustavo Jansson e Eleonora Deflom Jansson, com passagem pelo Paraná, radicou-se em Sorocaba/SP. Tem seu nome ligado a inúmeras entidades literárias. Poetisa de estilo refinado e possuidora de uma inspiração invejável. Autora de vários hinos, inclusive o do municiípio de Itararé, onde também residiu. Já publicou livros de trovas, sonetos e poemas em geral, além de fazer parte de antologias. 
Dorothy faleceu aos 91 anos, deixando pesarosa uma legião de amigos e admiradores.

 

Que bela seria a vida
se, acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!

 

Ora eloqüente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de tudo,
no fútil revés de um Nada.

O sol, cumprida a rotina,
cerra o painel em que atua, (S.Paulo 2008)
some por trás da colina
e abre o portão para a lua.

Cheguei tarde para a festa...
De véu, grinalda e um sorriso, (S. Paulo 2008)
ela é a imagem que me resta
de um pretenso paraíso.

Quando me entrego ao passado, (M. Honrosa BH 2005)
sinto-o tão perto e envolvente,
que – esquecido e enevoado –
longe de fato... é o presente.

O amor, ao termo da vida,
deixa na pauta apagada               ( 5º lugar Pouso Alegre 2003)
uma só nota sentida,
canto de cisne... mais nada.

Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!

Somos tão bem afinados,
que, em termos gramatical,
podíamos ser chamados
"encontro consonantal"!

"Para sempre!" Será mesmo?
Não importa a duração;
é promessa feita a esmo,
mas aquece o coração.

A lua, em passo indeciso,
muda o andante da sonata,
pondo pausas de improviso
no pentagrama de prata.

Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.

A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.

Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.

Os erros que fiz na vida
quero apagar sem alarde
mas, a consciência revida
e, aos brados, me diz: é tarde!

Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.

Eu me faço de blindado.
Amor? Bobagem... Pieguice...
Meu medo é que, apaixonado,
eu me envolva na tolice.

A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.

Trem-de-ferro, o teu apito
lembra-me um sino plangente:
tanta mágoa no teu grito,
tanta saudade na gente!”

Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombros fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos...
e eis-me sonhando outra vez!

Triste e sozinha eu me deito,
mas encontrando um desvão,
a lua invade o meu leito,
e afugenta a solidão.

Do que agitou nossas almas,        (Menção Honrosa em Rio Novo/MG - 1988)
restam sonhos calcinados,
cingindo as crateras calmas
de dois vulcões apagados!

Vendo, em mudo sofrimento,
a vida me desertar,
entendo, enfim, porque o vento
se recusa a silenciar.

Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.

Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.

Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí, à toa,
e somos nós que voamos.

Curtindo morbidamente
teus fracassos e mazelas,
fazes da vida, inconsciente,
um museu de bagatelas.

Sempre que a insônia me apanha,
eu busco a voz das estrelas...
Vem-me a paz e - coisa estranha -
eu nem preciso entendê-las!
 
A cadeira sem balanço,
a rede em triste orfandade...
uma se rende ao descanso,
a outra embala a saudade.
 
Entre coisas que queremos
e a que Deus nos nega ouvido,
quantas graças recebemos,
que nem tínhamos pedido!
 

   TROVAS DE BOM HUMOR

- Ai, doutor, não acredito...
Picada por um "barbeiro"?
Veja só, pois o maldito
me disse que era engenheiro!

- Este bolso é meritório,
nunca viu nada roubado!
Perguntam lá do auditório:
- Terno novo, Deputado?

O marujo que se presa
mantém seu voto constante:
nunca esquece de, na reza,
mandar pro inferno o almirante.
 
Ronca papo e faz ameaça,
fora de casa, o Loureiro.
Dentro... murcho...lava e passa,
faz comida e é faxineiro...

O cara dentro do armário
diz: “Não é o que você pensa”...
“Eu já sei”, responde o otário,
“o gajo é o lá da despensa”.

- Como está? (antes da luta)
- O K, diz o lutador.
- E então? (após a disputa)
- K O, responde o Doutor.

 Mulher tem lá as manhas dela,
mas é fácil entender:
foi feita de uma costela,
osso duro de roer!

A ABL não me aceita,
mas em “outra” academia,
vou bem, e até dou receita
pra ter-se a saúde em dia.
 
Cansada de responder
à mesma coisa... a Proença,
pra quem quer emagrecer,
dá receita da doença.
 
Deu no maior esculacho
a vingança do Dudu:
a galinha pro despacho
se mandô cum urubu!
 
- Dispenso o tal advogado! -
responde ao juiz o ladrão.
- Fiz sozinho o arrecadado,
não permito divisão!